terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O Gajo Folião

Estava eu na Pastelaria do Zé, aqui no bairro, a tomar um café. Adoro a Pastelaria do ZÉ. O bairro todo ama a pastelaria do Zé. O Zé é figura bonachona com um típico bigodinho português. O Zé deveria ser homenageado com um busto em bronze num pedestal de alguma praça daqui. Todo mundo ama o Zé. Basta vem as demais pastelarias da rua, com ambientes iguais ou melhores, vazias enquanto que a do Zé está entupida de gente. Por vezes, é difícil chegar ao balcão. O Zé trabalha sozinho e já tem seus 65 anos de idade. Esses dias atrás a conversar com ele que me informou que trabalha ali faz 35 anos, é o dono do estabelecimento e não sabe quando vai parar. Certo é que o Zé não perde o humor mesmo a passar 14 horas ou mais a servir à clientela que, nem sempre, tem o mesmo humor.

Mas, hoje fui cumprir a minha obrigação de tomar ali o meu café diário. Estavam ali uns dez clientes e o Zé a me tirar um café quando entra um folião de carnaval de Lisboa, coberto dos pés à cabeça com lençois de hospitais sujos de sangue e gosma amarela - não sei se falsas - e uma máscara que era a mistura de macaco com black bloks, deixando a todos meio de cabelo em pé até que nos caisse a ficha: é carnaval.

O folião desenvolto e com intimidade de quem conhecia muito bem o ambiente e o Zé, mas sem dizer uma palavra, adentrou para o balcão do Zé e isso denotava ainda mais a intimidade.

O Zé apenas perguntava repetidamente:

- Quem será o gajo? Quem será o gajo?

O gajo continuava mudo, mas apontou o dedo coberto por uma luvas em forma de garras à máquina de café. O Zé, eu e todo mundo entendeu que o gajo folião queria um café. O Zé passou a tirar o café enquanto eu, o Zé e todo e todo mundo - suponho - pensávamos:

- O gajo vai ter tirar a máscara enquanto toma esse café.

Imagino que a curiosidade de todos era igual à minha e até à sua que ler esta cronica. Mas, o gajo não era tão bobo e levou a xícara até a altura da boca e a desceu. Du-nos a costa com xícara na mão enquanto andava rumo ao banheiro. O fdp se trancou no banheiro, acreditem! Saiu da pastelaria depois de pegar a conta. Sim, saiu sem dizer palavra!  

O Bem que me Faço

O bem que faço - se é que o faço - não o faço a esperar recompensa divina num paraíso por vir. O bem que faço - se é que o faço - o faço por piedade inerente à todos os indivíduos. O bem que faço - se é que o faço - o faço porque o posso e sem nenhum interesse em qualquer retorno, sequer gratidão de quem foi alvo da minha ação. O bem que faço - se é que o faço - não o faço por ordem de qualquer livro sagrado ou ser divino. O bem que faço - se é que o faço - não o faço a esperar que me seja retornado em dobro ou mil vezes. O bem que faço - se é que o faço - faço por mim mesmo. Porque esse ato é pura gratidão à vida que tanto me tem dado. O bem que faço - se é que o faço - o faço porque a sensação de dividir o pão com quem passa fome é algo inebriante e que me invade alma e me traz lágrimas aos olhos. É tal ato viciante tanto quanto as substâncias químicas tóxicas proibidas. Experimente você também esse agir sem interesse e você verá que o filósofo tinha toda a razão ao afirmar: não existe ato mais egoísta que o fazer o bem ao próximo.

Muito que Bem!

O bem que faço - se é que o faço - não o faço a esperar recompensa divina num paraíso por vir. O bem que faço - se é que o faço - o faço por piedade inerente à todos os indivíduos. O bem que faço - se é que o faço - o faço porque o posso e sem nenhum interesse em qualquer retorno, sequer gratidão de quem foi alvo da minha ação. O bem que faço - se é que o faço - não o faço por ordem de qualquer livro sagrado ou ser divino. O bem que faço - se é que o faço - não o faço a esperar que me seja retornado em dobro ou mil vezes. O bem que faço - se é que o faço - faço por mim mesmo. Porque esse ato é pura gratidão à vida que tanto me tem dado. O bem que faço - se é que o faço - o faço porque a sensação de dividir o pão com quem passa fome é algo inebriante e que me invade alma e me traz lágrimas aos olhos. É tal ato viciante tanto quanto as substâncias químicas tóxicas proibidas. Experimente você também esse agir sem interesse e você verá que o filósofo tinha toda a razão ao afirmar: não existe ato mais egoísta que o fazer o bem ao próximo.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Um Portugal Inteiro e Muito Mais

Fazia tempos que nada publicava no meu blog. Estava com saudades dessa atividade tão prazeiroza.  Migrei para Portugal e radiquei-me em Lisboa. Meu computador deixei no Brasil e só agora um amigo o trouxe. Publicar no blog por meio de Ifone era impraticável e me exigia paciência que não tenho. Já se vão mais de seis meses aqui e meu visto de residencia já está na mão. Não intento voltar ao Brasil a não ser para pegar um sol e rever amigos e parentes. Essa é a intenção!

Lisboa é a cidade que busquei para viver. Não sei se será para toda a vida, pois a andar por este pequeno país me deparo com cada cidade linda que fico a me imaginar a morar um pouco em cada uma delas. Mas, é aqui que sou feliz e daqui que extraio energia para o meu dia. Meus dias têm sido de descobertas e prazer. Experimentar os sabores e sentir os cheiros é o meu cotidiano. As folhas e flores podem oferecer odores que são de lavanda, jasmim, laranjeira, oliveira, cravo, canela, etc... A mesa portuguesa é de fartura que beira à falta de educação. Mas, por ser cidade cosmopolita, Lisboa oferece culinária do mundo. Já comi em restaurante nepalês, indiano, morçambicano, zimbabuiano e muito mais.

Sinto-me em total segurança neste país e, mesmo na madrugada, ando com meu telemóvel na mão a digitar, venho á pé para a minha casa, despreocupado porque só por um infortúnio serei assaltado. As calçadas são em pedra portuguesa branca, limpas e sem degraus. A mesma calçada do centro da cidade é a mesmo de todos os demais bairros. Os ônibus têm arcondicionado e se respeitam os lugares reservados a idosos ou passageiros especiais. As filas são obedecidas e as faixas de pedestres são, de verdade, obedecidas pelos condutores.

Sim, já fui á rede pública de saúde para fazer exames de rotina e o padrão é igual à particular do Brasil. Os exames são marcados com antecedência e se recebe em casa a comunicação do dia e horário dos mesmos.

Come-se muito bem e a preços semelhantes aos brasileiros. A diferença básica é que o produto que chega à mesa é de qualidade e, até a banana ou a manga que vem daí, não está recheada de agrotóxicos. Os serviços básicos do Estado funcionam engrenados e têm pessoal preparado e treinado para o serviço prestado.

Tem a vantagem de se está na Europa e portanto muito mais fácil conhecer os demais paises daqui já que fica baratinho. E tem um Portugal inteiro para ver e descobrir. E nesse caso você pode fazer tudo de comboio, ou seja, de trem.

Daí você arruma as malas e decide vir correndo no próximo voo para cá. A decisão é sua e cada caso é um caso. Existem diversos vistos de permanência. O meu é o Visto denominado D7 e é especial e específico para aposentados não só do Brasil. Todo o meu processo começou no Brasil, na Embaixada portuguesa. Existem outros vistos como o Gold que basta que você tenha 500 mil Euros no bolso e você compra. Tem o de empreendedor que você precisa de 5 mil Euros para tirar. Tem o visto para estudantes, o de trabalho e vários outros. 

A minha vida é ótima aqui. Se a sua também será? Não tenho como responder a isso.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Babilônia Lusitana

Foi à pé que sai logo cedo das proximidades do Parque Gulbenkian e sai sem destino certo a explorar um pouco mais a velha cidade moura de Lisboa. Passei pelo El Corte Inglês e comprei um par de óculos que me fez ficar menos feio e, de saída, dei de cara com a exuberância do Marquês de Pombal. Eu já conhecia o parque mas não o havia explorado como se deve. É nas laterais que se escondem recantos mais interessantes e mágicos. Ouvi pássaros a cantar, inclusive, a nossa avuaçã. Mas, um passarinho minúsculo, uma espécie de rouxinol, cantava num assobio melodioso, mágico, verdadeiro feitiço.

Em seguida desci pela Avenida da liberdade e, lá pela metade, encantado com todos os monumentos, quebrei à direita e me fui rumo ao Príncipe Real. O bairro ferve com a gente bonita em ruas estreitas. Passei por baixo de um balcão que cobria uma rua e me vi num mirante que dava para o Castelo de São Jorge. Ali mesmo almocei no Lost In, um restaurante charmoso e cosmopolita. O prato me impressionou. Era alguma coisa vegetariana típica da Indonésia, se não me engano. Uma mistura chique de legumes com arroz selvagem e um ovo frito em cima. Dos deuses!

Continuei a caminhada e me vi no Chiado. Busquei uma imobiliária para alugar um apartamento. Fui informado que o bairro é por demais barulhento e, na minha meia idad, não é recomendável. Vou buscar um calma e num local mais tranquilo. Voltei pra casa de metrô entupido de gente.

Aqui está lotado de brasileiros de todas as demais gentes. Uma verdadeira Babilônia.

Wanderley Lucena

quinta-feira, 29 de junho de 2017

A Florada do Ipê

Aqui da minha janela explode entre o verde das muitas árvores, um imenso ramalhete roxo que vai acima dos prédios vizinhos. É enorme o pé ipê-roxo. A seca característica dessa época no planalto central favorece as floradas dos ipês. E os moradores daqui, faz tempo, se emocionam todos os anos com essas maravilhas de Deus em nossas ruas, bairros e parques. Tem ipê amarelo - os meus preferidos - roxos, brancos e rosas. Tem deles que são gigantescos e tem outros baixinhos. E o bom é que a florada é longa, dura mais mês. Tudo começa com a florada dos roxos e rosas e depois vêm os amarelos. E por último os brancos - essa, ao menos para mim, menos bonita, mas de tirar o fôlego aos mais sensíveis. E grande parte deles foi plantada pelos moradores locais ou pelo próprio governo. 

Aqui é comum ouvir música na casa do vizinho ou músicos a ensaiar um chorinho, um samba e até a música clássica nos banquinhos debaixo das árvores nas pracinhas dos bairros. Aqui os beija-flores podem entrar pela sua janela todos os dias e por várias vezes. Aqui você acorda com revoada de pássaros e suas cantorias. Aqui durmo com um grilo a me ninar. Sério! Um grilo cantante todas as noites. E como é bom dormir com o som do grilo a cantar. Pode ser que voc~e nem goste, mas eu adoro. 

Aqui não só uma infinidade de ipês. Tem flamboyans e bougainvilles. Não temo não ver a florada de flamboyam. A árvore é linda e de copa aberta para os lados. Quando da florada, assim como os ipês, voce não ver folhas, apenas flores. E o Flamboyam é de vermelho carmim intenso. Não tem como passar perto de um e não se emocionar. As bougainvilles são de várias cores. São menos nobres e têm até espinhos. Mas são generosas na florada tanto quanto os ipês e os bougainvilles. 

A palavra "ipê" tem sua origem no Tupi, a lingua indígena. Significa árvore cascuda. São pra mais de dez espécies de ipês. Conheço ao menos quatro e posso vê-las, quando da florada, todos os dias numa caminhada por aqui. 

Adoro tudo isso!

Wanderley Lucena

segunda-feira, 26 de junho de 2017

O ENÍGMA DE EPÍCURO - 341 a.C.

Ou Deus quer fazer alguma coisa a respeito do mal e não pode, ou Ele pode e não faz. Desse modo, ou Ele é impotente, portanto não há nada com o que devamos nos preocupar, ou Ele é perverso e, portanto não é realmente Deus.

A Mendiga Rica

Faz frio aqui. Faz muito frio aqui. A temperatura estava a 9º e tinha um vento que parecia adentrar a pele e chegar nos ossos. Olhei desde minha janela e vi lá embaixo uma senhora gorda, muito gorda, com ares e jeito de pedinte, de morador de rua, de mendigo. Eis a oportunidade de fazer aquela caridade e ganhar mais um tijolo de ouro pra fazer meu barraco no céu. Eu só preciso de um quartinho pequeno com um banheiro decente e uma mini cozinha pra fazer meu café. E Deus já sabe disso pois já falei pra ele. Dai, como não vou querer aquela mansão que o Edir Macedo promete, fico mais livre pra cometer alguns pecados. E adoro pecar, confesso! 

Fui ao meu armário e peguei aquela blusa de frio chique e de marca, já pouco desgastada e à qual eu procurava alguém que soubesse valorizá-la para, então, fazer uma doação. Nunca achei tal pessoa. Mas, decidi correr e descer as escadas todas e oferecer à aquela senhora gorda e de peitos enormes e caídos até a parte inferior da barriga e cobertos por uma uma camiseta surrada e uma pulôver desgastado e abotoado por um só botão. 

- A senhora aceita esse meu casaco? Tá limpinho e cheiroso e pode ser que lhe aqueça nesse dia frio.

- Oi? Quê? Não preciso disso não! Dê para alguém que precise - Foi a resposta seca e tosca.

Fui comentar com o vizinho que me informou ser ela velha conhecida de todos por aqui. Que é filha de senhora, funcionária pública e aposentada com gorda aposentadoria e aquele é só mesmo o seu jeito. Não é moradora de rua e vive muito bem. A mãe tem um apartamento muito bom aqui pertinho e que a moça sempre foi confundida como moradora de rua. 

Estou minha blusa de frio aqui. Melhor que eu permaneça mais um pouco de tempo com ela. Aliás, eu a usei para me proteger. Estou usando ela agora. Está linda com essa cara de blusa velha. E o melhor: me traz á memória a lembrança da juventude. 

Vou levá-la comigo. É minha e por ela tenho um especial carinho, um certo apego. E de agora em diante vou proceder como já procedia para o descarte de algumas peças íntimas como as minhas cuecas surradas. Lavo-as muito bem e as deixo bem cheirosas. Secas e passadas coloco numa sacola de papel de uma loja qualquer e as deixo ali ao lado lixeira. 

Caridade demais pode até incomodar. Caridade demais é desequilíbrio, diz o princípio do equilíbrio budista. 

Wanderley Lucena

sábado, 24 de junho de 2017

O Breu e o LED

- Apague todas as luzes, menos aquele abajur acolá no canto. Fechei todas as cortinas e deixe apenas uma fresta para eu saber se é dia ou noite. Ligue a TV e nos faça um café cremoso com leite puro e com bastante nata.

Nunca a claridade me incomodou tanto. Talvez eu tenha algum grau de fotofobia, não sei. Talvez seja só a ponta do imenso iceberg de excentricidade, não sei. Tenho me percebido cada dia mais excêntrico. Talvez seja coisa da idade. Há grau de TOC em mim. Sim, o Transtorno Obsessivo Compulsivo. E até que gosto. É uma mania de ver as coisas devidamente organizadas, ao menos visualmente.

Mas, é a luz que tanto tem me incomodado nesses últimos tempos. As lâmpadas não são mais amareladas. É de uma claridade tão branca que explode na cara da gente com se fosse um incômodo flash de máquina fotográfica. Explode nas paredes e nas minhas pupilas. Sei que são as mais econômicas as tais lâmpadas de led, mas foi-se a poesia da palidez ambiental. A luz do poste é agora de led. E de novo é explosiva. Tragam as lâmpadas de mercúrio de volta! Que a imagem tremulada e amarelada que deixa claro que é noite e que por ser noite não se pode iluminar como se fosse dia. Até sob chuva a luz de led é agressiva.

- Então, apaga tudo. Eu conheço o ambiente e sei achar tudo tateando na escuridão.

Talvez seja o meu espírito - se pensarmos em termos espirituais. Talvez a luz me incomode tanto por causa do meu estágio atrasado. Ou seria porque no meu estágio já não precisa mais de tanta luz. Não sei. Vou buscar um guru indiano que me ajude.

- Até lá, apague a luz, por favor!

Wanderley Lucena


sexta-feira, 23 de junho de 2017

A Lambança da Bela

E mais uma vez vejo uma moça bonita - mas, era outra moça bonita - com a boca toda espumada de creme dental enquanto fazia sua higiene bucal dentro do carro. Dessa vez, ao menos, o carro estava estacionado. Ela escovava os dentes em movimentos frenéticos enquanto era assistida por uma amiga no banco do passageiro. Eu não sei como que alguém consegue fazer a higiene pessoal, inclusive, a bucal, dentro de um carro e, até com ele em movimento. São coisas da modernidade, eu sei. As pessoas estão a correr o tempo todo e estão longe de suas casas e sem acesso ao seu banheiro pessoal para esses momentos de tanta intimidade. Mas, eu fico à pensar em outras necessidades físicas que nos vêm, muitas vezes, nas mesmas circunstâncias. A mim é muito complicado usar banheiros públicos. Os tais banheiros químicos para mim é uma verdadeira tortura. Alguém teria que inventar uma maneira menos nojenta de expelirmos nossos excrementos. Mas, se não tem outro jeito... fazer o quê?

Eu tenho andado com esses lenços úmidos dentro de minha bolsa. Já passei maus pedaços ao procurar um banheiro qualquer de rodoviária e até mesmo de estabelecimentos comerciais. O meu nojo começa com a trinca da porta. Sabe-se lá quantos milhões de clorofórmios fecais estão ali, de boca arreganha, brigando uns com os outros pela vez na fila para me atacar e me ter vítima de sua contaminação? E o vaso sanitário que, muitas vezes, nem tampa tem? E a pia com a gosma de quem acabou de usar? E odor que revolta o estômago? Eu só uso se perceber que a barragem que segura o Tietê vai mesmo se romper. 

Mas, a higiene bucal nem é algo que traga repulsa aos olhos menos sensíveis. Eu não me importo mesmo. Mas, o que me chama atença na prática é o quão estranho é ver a cena incomum.

Wanderley Lucena

sábado, 17 de junho de 2017

Oi?


- Então te dou o livre arbítrio para que possas ter duas opções de escolha, entendeste?
- Mais ou menos! Eu sou livre mas tenho apenas duas escolhas é isso?
- Isso! E agora eu te pergunto e tu es livre em tua escolha.
- Sério?
- Sério!
- E qual é a pergunta?
- Queres me amar e ir para o céu ou queimar no inferno, o lago de fogo ardente que queima noite e dia, onde há choro e ranger de entes para todo o sempre.
- Oi?
- Queres que eu desenhe?
- Uai, mas quem em sã consciência, pleno de suas faculdades mentais, iria escolher ir queimar no inferno?
- Oi? É o seguinte! Vamo parar com essa lenga-lenga e vai tratando logo de me amar. Ou me escolhe ou te ferro. Entendeu ou quer que desenhe?
- Desculpa ai, Deus! Sabe que é? É que eu então quero ir pro céu, sim. Pode deixar. Já tô até te amando, ó?
- Beleza, mas... ai vão as regras pra quem escolhe vir pra o céu?
- Oi? Mas, então não era só escolher?
- Claro que não, bobinho! Seguinte: tem que virar crente, ir à igreja religiosamente, pagar dízimo para o pastor, sem sexo até o casamento e...
-Parô!  Parô! Cumequié? Tem esse monte regra besta, é?
- Regra besta? Eu sou Deus, rapá! Se liga!
- Siguinte... onde é porta do inferno?
- Oi?

Wanderley Lucena


segunda-feira, 5 de junho de 2017

Aceita?

- E qual o meu presente?
- O maior presente que poderia te dá é o tempo presente. Esse momento que vivemos nós dois aqui e agora. Não importa o passado e sua dor, nem o futuro e a dor de estômago que nos causa a ânsia ante a sua incerteza. Vamos ficar aqui no "agora",  O futuro pode nem chegar e o passado já foi. Vamos fazer desse presente que é seu mas que também é meu, algo inesquecível. O inesquecível é aquilo que estamos fazendo aqui e agora. Que seja verdadeiro mesmo que doa. Que seja todo amor e que vivamos com toda a intensidade do que possamos sentir. Esse é o meu presente! Aceita?

Wanderley Lucena

Julio Iglesias - Bacalao

De Orelha a Orelha


Sabe quando você tem a certeza de que fez a coisa certa é que isso lhe proporcionou a felicidade presente? Sabe aquela felicidade que parece que vai ser pra o resto da vida? Sabe quando tem a certeza de que você chegar do outro lado rindo de orelha a orelha? Sabe quando você se sente a pessoa mais abençoada do planeta? Aquele que nasceu a bunda arreganhada pra lua? Sabe aquela felicidade de quem acabou de ganhar na loteria? - não, não ganhei na loteria ainda - pois agora dobre... triplique que é melhor. Pois esse sou eu já faz um tempo!

Wanderley Lucena

sábado, 27 de maio de 2017

Coisas da Modernidade

O carro de último tipo e de marca poderosa parou no semáforo para dá passagem ao pedestre. Nenhum outro pedestre perceberia dentro do carro a madame a escovar os dentes e, ao mesmo tempo arrumar a sobrancelhas no retrovisor. Só eu mesmo! A boca estava cheia de pasta que espumava boca à fora. Eu não sei como ela iria terminar a higiene já que dentro daquele carro não devia ter uma pia com uma torneira e água corrente. Imagino que ia comer toda aquela baba e depois terminar a higiene com algum lenço úmido ou não. Mas, já tinha ouvido dizer que as mulheres são capazes de desenvolver várias atividades ao mesmo tempo, entretanto, aquilo me foi inusitado. De qualquer maneira, me fui com a sensação de que não veria nesta vida outra cena igual.


Entrei, em seguida no shopping de classe média alta e aguardei o luxuoso elevador panorâmico. Estava ali parado quando chegaram duas moças com cabelos limpíssimos, brilhantes e muito bem escovados em com aqueles penteados presos no na cabeça não sei como, mas com certeza, arrumados em algum salão de beleza bem caro. Os rostos brancos como a neve e lábios rosados por batom francês ou algo que o valha. Ostentavam óculos escuros e enormes - coisa de noviças á madames - e, nas hastes, uma tarja vermelha que informava: "Prada". Eram ricas aquelas duas moças em idade pouco acima da adolescência. E como eram bonitas as duas. Mas, pelas carícias entre ambas, percebi ser um casal de lésbicas - e pensei: quanta modernidade! - Mas, de dentro da bolsa preta e cara uma das moças sacou uma banana enorme, amarela e cheirosa. Parecia banana vendida em Paris. E as bananas de Paris custavam 1 Euro cada quando por lá estive. Em compensação é perfeita, sem qualquer mancha dessas pretinhas que vemos nas bananas de cá ou qualquer machucado, aliás, as bancas de frutas por lá verdadeiras boutiques. A moça descascou aquela banana perfeita, mas tão perfeita que parecia até artificial, e o perfume exalou dentro do elevador. A moça chique comia a banana como se tivesse sozinha, sentada na sua sala a assistir um programa qualquer de tv que ela gostasse. Comia devagar e, sem exageros, quase que provocava aos passageiros da cápsula panorâmica. Depois de comer metade da banana voltou a descascar um pouco mais e... ufa! o elevador se abriu e me fui. Acho que de tanto que me chamou a atenção posso ter dado bandeira e a moça pode até ter me percebido com os olhos na cena que ela produzia.

Saí do elevador a pensar que bom mesmo é está vivo para ver e viver toda essa modernidade e na espera da próxima cena inusitada que ela, com certeza me trará.

Cheguei em casa e encarei a cozinha. Um faxina que foi desde o chão ao teto e, depois disso tudo, encarar o fogão e fazer o almoço que bem podia ser um jantar já que passava da metade da tarde. Eis a terceira cena que a modernidade me oferecia e, pior, eu era e era o protagonista! 

Wanderley Lucena

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Canção da Despedida

Em Brasília o planalto central oferece o céu mais bonito do país. Nós aqui de Brasília não temos mar, mas temos esse céu. A frase virou clichê, mas, é a mais pura verdade. Mas na data de ontem, descendo a ladeira do Colorado, dei de cara com arco-iris do meu lado esquerdo, sobre a quela paisagem nativa estava o mais lindo espetáculo. Ele nem era aquele arco-iris enorme que pega do nascente ao poente. Era um arco-iris até pequeno. Começava ali e terminava acolá. Mas, a intensidade da cores e uma das pontas eu poderia ficar bem debaixo se fosse a andar só um pouquinho. Parei o carro junto com outros que apreciavam o espetáculo. E fiquei ali olhando aquilo, as sete cores e tudo o mais com a cidade lá embaixo. O imenso lago Paranoá com uma névoa estranha que lhe deixava com ares europeu. Todo o vale que ficara dourado ante a luz do quase fim de dia. E as longas avenidas de asfalto que reluziam com um brilho intenso. E Brasília, faz tempo, virou uma belíssima senhora. A cidade é sem igual. Linda! E agora estava emoldurada por esse espetáculo natural. Na minha despedida fico a me pensar da saudade que sentirei disso aqui. Mas, eu volto só pra te ver!

Descia a imensa ladeira e liguei o som que tocava Geraldo Azevedo em sua Canção da Despedida: "Já vou embora, mas sei que vou voltar, amor não chora...", Não chorei não porque sou macho e macho não chora - e claro que não falo sério. Mas, fiquei em uma espécie de êxtase. Gravei um pedacinho da música e enviei pelo watssap aos meus amigos queridos e dividi com eles a minha emoção. E que felicidade que pode vir a ser uma despedida. Vou na paz e minha cidade fica na paz. Ela me esperará! Eu voltarei, viu? Nem que seja só pra beijar teu solo vermelho. Eu vou pra minha aventura porque preciso e mereço. Mas, jamais te esquecerei minha Brasília!

Wanderley Lucena


quarta-feira, 3 de maio de 2017

Adios! Adios! Adios!

Andar por essas ruas e sentir a despedida. Logo virão novas calçadas; novas janelas antigas pintadas de azul; um novo ar quase gelado; um mar que não me fará desejar ficar horas em suas águas como as águas que aqui ficarão; ver e ouvir noticias de uma nova cidade velha e, de vez em quando, ver e ouvir notícias desagradáveis desde a minha terra amada brasilis. 

Há! Só um oceano nos separará. Algumas horas de voo, apenas. Virei correndo te dá um abraço e matar a saudade. E pisarei nas areias das tuas praias e chorarei. Mas, é certo que já não poderei mais ficar. Terei de ir-me! 

                                                        Wanderley Lucena

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Dr. Google

Meu vício em café, de tirar os pelos das ventas, de dormir pelado, de falar sozinho ou com o passarinho lá naquela árvore e até com estranhos; de ir ao mesmo restaurante e sentar na mesma mesa e ser servido pelo mesmo garçon que já sabe até o que vou beber; de ir em igrejas que nem sei qual a denominação, com elas vazias, sentar num banco e fazer minha oração; de olhar as nuvens e esperar que minha imaginação me traga a figura de um dragão; de ouvir a água do riacho a bater suave nos seixos. São tantas as minhas manias que tenho me perguntado se não está na hora de procurar aquele temido especialista, o psiquiatra. 

Nem todas as manias são boas. Minha mania predileta é a de não perder meu tempo com amizades que não tragam prazer. Já eliminei algumas pessoas que não aceitaram bem a minha presença. Acontece que todos somos rejeitados em algum momento por alguém. E nada vejo demais nessa atitude. Eu, de verdade, agradeço quem manifesta que não me gosta. Poupam-me um tempo danado!

- Não seria você um borderline?

- Oi? Que diabos é um borderline? 

Seria alguma nomenclatura de computador, de intenet? No meu parco inglês: border = borda + line = linha = alguém que estaria à margem? Pelas bordas?

Quem me taxou de borderline sabia o que dizia e era esperto o suficiente para não decretar nada, mas, apenas levantar a suspeita e deixar que o processo conclusivo fosse todo meu. E foi o que fiz correndo. Em casa, corri para o Dr. Google e a definição era que borderline é certa síndrome com viés psiquiátrico. 

- Vixe! E agora? Era só o que me faltava! - Pensei eu.

O Dr. Google me ofereceu um teste e o resultado era de 50% para a positivo. Sim, pode ser que eu seja um borderline, portador de síndrome também conhecida por "transtorno de personalidade limítrofe". Caracteriza-se por mudanças súbitas de humor; medo de ser abandonado pelos amigos - e aqui eu tenho de rir um pouco (e não é por desdém) - comportamentos impulsivos, gastar dinheiro descontroladamente - tenho rir mais um pouco - comer compulsivamente; pensamentos negativos e suicidas - aqui me mijo de rir - etc...

E o Dr. Google, preocupado como ele só. me advertiu que deveria consultar um psiquiatra antes de tomar qualquer conclusão própria do seu diagnóstico nada confiável. Eu, como qualquer um que leia o artigo e faça o teste do Dr. Google, inexoravelmente, vai se achar com a tal síndrome. Quem não tem tem mudanças de humor repentinas? Quem nunca se viu à beira de perder um amigo por ato ou fato que o justifique? Quem nunca pisou no acelerador dos gastos e ficou apavorado a esperar a fatura do cartão de crédito? Quem nunca?

Eu, certa vez, andei tendo umas crises de labirintite. De início me assustei. Parecia que a calçada estava enviesada e cheia de ondulações ou era desenhada por Tim Burton para um dos seus filmes. O dr. Google, de imediato me diagnosticou com labirintite. Ufa! Labirintite é como está bêbado só que sem ter bebido qualquer dose de álcool. Mas, não era nada mais grave. Labirintite não é grave! De jeito nenhum!

- Que legal esse negócio de labirintite - passei a curtir aquela tonteira. Pouco tempo depois que passei a gostar dela, ela me deixou e nunca mais voltou. Sacanagem! Fiquei com saudades! Vontade de acordar pisando numa cama elástica!

Agora... se eu fosse mesmo um portador de borderline eu iria agir da mesma maneira. Mas, uma das principais características da tal síndrome é a tendência ao suicídio. Morrer? Eu? Só de velho! Então, vou deixar pra ver mais à frente um psiquiatra! Só quando estiver jogando pedra na lua!

E tenho dito!

Wanderley Lucena



sexta-feira, 14 de abril de 2017

Felino de Janela



Alguém esmurrava a porta do apartamento. Parecia que alguém, nervoso, queria arrombá-la. Assustado, abri a porta e ali estava uma moça jovem com cara de guerrilheira que nunca esteve no front. Com lágrimas nos olhos, descabelada, dedo em riste, gesticulando como uma doida me informava, aos berros, que seu gatuno estava sofrendo com as queimaduras oriundas das cinzas do meu cigarro.

Cigarro? Cinzas? Eu sequer fumo. Mas, fiquei curioso é quis divertir-me um pouco com a loucura da guerrilheira. Não a informei que não era dado aos vícios, sequer, do cigarro.  Fiz questão de não informá-la, diga-se!

- Moça, a senhorita já consultou um psiquiatra alguma vez?

A doida não se aguentou ao perceber que eu não conseguia segurar o riso e desceu a escada soluçando. Eu fui para a minha janela e olhei pra baixo. La estava o gato marrom, com o pelo a cair de tão velho, com olhos arregalados e fixos a olhar para cima, imóvel, como quem olha, hipnotizado, para a lua. Eu quase conseguia ler os pensamentos daquele gato maldito - como se gato pensasse (será que não pensam?) - a me dizer qualquer impropério por meio da telepatia felina. Acho que me xingava. Eu não deixei barato e, também por telepatia, lhe xinguei com palavrões que não ouso repetir. O gato, pra piorar me apresentou um parceiro que surgiu, todo malhado e esbugalhou os olhos na minha direção. Era um gato menor, mais jovem, malhado em branco e preto. 

Mas, o pior é que ainda ontem, quando mirava o gato maldito, vi uma mão na janela do mesmo apartamento da guerrilheira sem causa, a bater as cinzas do cigarro janela à baixo. Pera! Pera ai! A doida era fumante e, pior, jogava as cinzas e a bituca do cigarro no jardim do condomínio. Eu mereço! 

Agora fico a olhar para os gatos imóveis na janela abaixo. Sempre estão ali, imóveis no balcão da janela, esperando que eu apareça na minha janela para mirar-lhes. Acho que vou passar a ser fumante. Não, não vou jogar as cinzas no olho arregalado do felino, mas... na dona dele! Que vontade que dá!

Wanderley Lucena

 

domingo, 9 de abril de 2017

Universal Diner

O ambiente tem cortinas longas e pesadas de veludo que descem do teto ao chão. A cozinha em estilo americano fica aos olhos do cliente. A decoração vai de bichos de zebras a onças de pelúcia enormes que podem está numa prateleira ou dependurados no teto. Mas, há toda uma miscelânea que vai de antiguidades jamais vistas ao moderno piso em lajotas gigantes em preto e branco que mais parecem um tabuleiro de xadrez. As cores púrpura e o roxo predominam. A iluminação parece ter sido projetada nos mínimos detalhes. Um terraço na parte de trás trás uma atmosfera cosmopolita, haja vista a decoração que leva em conta pequenas luzes que enfeitam as pequenas árvores nos vasos.  Seria tudo parecido à tantos restaurantes da cidade? Não, de jeito nenhum. Universal Diner, na SCS 209 em Brasília tem uma atmosfera contagiante que a ninguém passa alheia. 

A clientela é diversificada e, talvez, seja a melhor parte. Ninguém se intimida com a pompa do lugar que imita os cabarés chiques de Paris ou Nova Yorque. E tem um DJ digno de todos os elogios. A música é espetacular e não espero apenas a música eletrônica. Você vai ouvir Kaoma, Amelinha, The Fivers, Roberto Carlos, Xuxa, Edith Piaf... É udo de bom. 

A gastronomia é refinada e leva a assinatura da renomada Chef brasiliense Mara Alkamin. Os pratos são dignos de qualquer bistrô chique de Paris. Verdadeiras pinturas que são postas no balcão á espera do garçon que os conduzirá aos afortunados clientes. E o serviço é muito bom. Todos trabalham felizes. Aliás, o Gerente, um maranhense com cara e jeito de buda ditoso, não se enquadra dentro do chatíssimo "politicamente correto". É performático, alegre e atencioso. É um verdadeiro artista que, de repente, dá um grito e se joga no pequeno espaço entre os clientes dançam frenéticos.

Eu já conhecia o lugar, mas era bem menor. Naquele tempo, há mais de dez anos, eu já o achava incrível. Mas, o que era bom ficou melhor. E olha que eu estava sozinho. E sou meio tímido, por incrível que pareça. Mas, ficar ali a olhar a cena, simplesmente é impossível. Não tem como não se envolver e cantar junto com todo mundo e não rebolar o esqueleto mesmo que junto ao balcão do bar.

Ouvem-se gritos de moças já embriagas e, não tem jeito, aqui ou ali um copo se estraçalha no chão. Muitos risos. Muita pegação. Muita paquera e, ali naquela mesa, desavergonhadamente, o rapaz com a mão saliente na perna daquela moça de mini saia quase a tocar-lhe a genitália. Rapazes se beijam ou andam de mãos dadas. E não pense que o ambiente é gay. Eu diria que é um ambiente mix. Eu diria que é tanta coisa pra se ver e fazer no espaço que em apenas uma visita fica impossível aproveitar toda a extensão do local.

Voltarei muitas vezes!

Wanderley Lucena

sábado, 1 de abril de 2017

Tempo por Presente!




A descoberta de viver o presente extraindo-lhe tudo o que ele gentilmente me oferece; bloquear as lembranças ruins que ficaram no passado; a certeza de que o futuro virá, fatalmente, e que poderei vivê-lo sempre no tempo presente... é de uma felicidade que não dou conta de te contar!


Wanderley Lucena

Somos Dois

Foi numa noite escura e preta como breu que sai de casa, sem eira nem beira, apenas porque eu queria sentir a escuridão. Botei o minha jaqueta de capuz e dobrei a esquina a caminhar com molejo exagerado, pendendo para um lado e para o outro. Eu conhecia bem aquelas quebradas. Não fora o meu receio ante a escuridão eu diria que tudo era igual. Passei a sentir os cheiros e ouvir o que acontecia ao redor.

Só não quero é ir muito longe! Quero morrer de velho. E nem sai de casa com algum trocado para agradar o ladrão caso me apareça. Documentos também, deixei-os em casa. Caso me morra, morrerei como indigente! A ideia não me agrada nenhum pouco. Tem esses tênis velhos e a jaqueta de capuz, a calça e a camiseta surradas. Espero me deixem a Calvin Klein pra me esconder as vergonhas.

Alguém tropeçou num balde ali? Ou seria só um gato a fugir e a esbarrar em alguma bacia? Tem vozes vindo dali. Seriam os drogados? Os moradores de rua? Perai! Tem alguém chamegando ali naquela calçada imunda dentre aqueles cobertores velhos e fedidos. Mas, e daí? Só porque estão em situação de rua?

- Boa noite! - falei ao bicho doido, rastafári, que passava com um cigarro no bico e as mãos dentro do bolso da jaqueta.

- Tem cigarro ai? - Se o cara estava a fumar um cigarro... pergunta idiota!

O doido parou e me ofereceu o cigarro que eu nem fumava. Na verdade, só queria interagir. Fiz-me de "mala" e perguntei: Tudo beleza, véi?

O cara encostou na parede, levantou o pé o grudou na parede, Odeio gente que põe o pé na parede dos outros. Mas, eu queria voltar para casa são e salvo. Fiz-me de igual e, também, levantei a perna e sapequei o pesão na parede. Tossi bastante e joguei o cigarro fora. Ficou evidente a minha inabilidade com o tabaco. Justifiquei e informei que eu não fumava nadinha e que só queria mesmo era manter algum contato com essa gente que vive na noite, na escuridão.

O rapaz sorriu bastante e me informou: Somos dois!


Wanderley Lucena




quinta-feira, 30 de março de 2017

Até cavalo beber em pé

Das manifestações da natureza, a que mais gosto é a chuva. Não sei se porque meu signo é de água. Mas nem acredito muito nessa coisa de horóscopo. Aqui está chovendo muito por esses dias. E já se pode considerar que é chuva fora de época. Eu sempre fico olhando a chuva pela janela e penso: são as águas de março fechando o verão. E penso na seca terrível que virá em seguida e que dura por meses infernais. Mas, ao olhar o aplicativo meteorológico vi que as chuvas vão entrar abril à dentro. "Tomara que chova três dias sem parar", que marchinha linda de carnaval. Lá no nordeste se deseja que chova até cavalo beber em pé. E cavalo bebe deitado por lá? 

Mas, janela enorme na Asa Norte de Brasília é verdadeira tela, uma pintura. A chuva cai intensa e crepita nas folhas do pé de abacate, de manga, de acerola, de jabuticaba e no chão encharcado. Dormir ouvindo a chuva e os muitos trovões, para mim, é dormir a ouvir verdadeira canção de ninar. Acordar com um trovão que te assusta na madrugada não tem preço. E na janela, os fios de água a correr nervosos e trepidarem rumo à baixo em contraste com a luz dourada do poste. Mesmo sendo noite é possível ver nuvens baixas e pesadas à cima. 

O dia amanhece e continua a chover. Coitada da moça encolhida debaixo do guarda-chuva tentando não molhar os livros. E a senhora que chega da padaria com o pão quentinho e protegido no saco plástico. As crianças pisam nas poças d'água e se dirigem às creches acompanhadas de pais zelosos. A amiga que mora aqui do lado e que bateu na porta com uma cuia de chimarrão. Mas, eu sou nordestino. Cadê a farinha de puba numa farofa de carne seca? Vamos ao mate. Amarga como fel mas o sul todo se mata por essa erva. Então, vamos lá! Não tem jeito de botar umas gotinhas de adoçante não?

Cadê o meu café quentinho e cheiroso? Vou ali buscar um pão e você me espere ai. Tome seu chimarrão enquanto ver o Bom Dia Brasil. E fume na minha janela enquanto ver a cena ali abaixo. A chuva cai em torrentes. Os pássaros não cantaram hoje. Mas pra quê? A chuva, por si só, já é mais que suficiente para o espetáculo que precisamos pra iniciar o dia.

E que ela chegue bem faceja e molhe os campos e inunde as entranhas da terra. Que encha os lagos e os rios. Que chegue até os rincões do nordeste e que molhe as faces enrugadas da gente sofredora do sertão. Que os meninos brinquem nas poças de lama no caminho da roça. Que a seca por aqui seja amena e que todos os reservatórios transbordem e as águas cheguem às nossas torneiras sem racionamento e sem taxas extras nas contas.


Wanderley Lucena

sexta-feira, 24 de março de 2017

A Lavadeira

A menina feia e remelenta, toda lambuzada de catarro, brincava com a boneca sem braços enquanto a mãe lavava mais uma trouxa de roupa de alguma madame das redondezas. Era visível a pressa da mulher que batia a roupa na tábua à beira do rio. Ao lado dela mais duas trouxas, enormes, aguardavam as suas mão ligeiras. Bacias grandes de alumínio enormes estavam com várias peças no molho de sabão. Outras várias peças quaravam ao sol a amolecer a sujeira mais impregnada. O sabão em barra a mulher mesmo era quem o fazia à partir de fato de porco e soda cáustica. Era um bom sabão que ela sabia fazer como sua mãe lhe ensinara. Cortava pedaços enormes e irregulares que quase não cabiam na mão. O sabão tinha cor quase branca que contrastava com suas mãos morenas, quase negras. Batia as peças mais pesadas com as duas mãos. O tecido molhado batia na tábua e, de novo e com força, em movimentos circulares e rapidos para trás e puxado em direção à tábua, passando por sobre sua cabeça e batia sobre a tábua repetidas vezes. O som da roupa molhada a bater na tábua era lindo. A menina nem tinha a percepção do catarro que lhe descia pelo nariz e lhe chegava à boca quando chupava o velho pipo amarrotado. Borboletas amarelas, aos montões, aos milhares pousavam e levantavam vôo numa poça d'água bem ali adiante. As libélulas faziam um balé ao tocarem as águas do rio num remanso ao lado e pousavam nos juncos do rio a observar a cena da mulher lavadeira. As piabas em cardume roçavam as pernas e lhe pareciam querer fazer carinho. Uma abelha negra e sem ferrão insistia em querer assentar sobre sua cabeça e a se desviar dos tapas que ela lhe tentava acertar. As lavadeiras, passarinhos lindos em branco e preto, bicavam entre as pedras. Diz a lenda que tais passarinhos lavaram as roupas de Jesus. Claro que é só uma lenda, mas não sei se por ela, tais passarinhos trazem qualquer aura, qualquer energia de paz e de amor inexplicáveis. Voavam com muita destreza e riscavam o espelho d'água do rio. A menina sentada ali sobre as rudias de panos grossos e velhos ficava a observar as lavadeiras e esquecia de sua mãe lavadeira. Um belo espetáculo ao qual  as duas percebiam de maneira e intensidade bem diferentes. A mula pastava ali por perto amarrada por um longo cabresto. O sol já ia longe quando ela pôs a menina no meio da cangalha que segurava os dois jacás pesados com a roupa molhada. A menina já estava asseada e com o velho pipo na boca. A mulher pobre sabia da sua dignidade e contava com a ajuda dos Céus, de Deus, para uma guinada em sua vida. Lá no fundo do seu coração aflito sabia, a vida lhe sorriria um dia. A menina cambaleava no lombo da velha mula. Levariam umas duas horas até chegarem em casa. A mulher, pra piorar, ainda levava com destreza, uma bacia grande de alumínio na cabeça cheia de murtas que abundavam à beira do rio. O marido as aguardava na porteira quando o sol já se escondia. A menina, já nos braços do pai, quase desmaiada de tanto sono, foi levada para rede atada bem baixo, quase arrastando ao chão. Caso ela caísse não se machucaria. Tudo agora estava bem, estavam protegidos pelo teto de palha de côco babaçu e pelas paredes de taipa. O cachorro dava as boas vindas à lavadeira e lhe abanava o rabo e lhe lambia os pés. Dormiu sob céu estrelado sem poder admirá-lo. O sono lhe veio e ela, que nem pedra, adormeceu. E a menina que agora já nem era mais feia não podia se dá conta que, logo mais a frente, um dia, sem que a sorte lhe sorrisse, também seria lavadeira.

Wanderley Lucena

quinta-feira, 23 de março de 2017

Manhã de Rotina

O sol brilhava forte e cálido por entre as frestas das cortinas. A cama insistia em não querer que o corpo lhe largasse. Mas, a lembrança do cheiro do café matinal que ele mesmo fazia o fez levantar-se com algum esforço. A água foi posta ao fogo e a coleira foi posta no shitsu. O elevador chegou desceram para o parque em frente ao condomínio. O shitsu fez as suas necessidades enquanto ele tentava manter os olhos abertos ante o sol que já ia alto. Na bodega comprou as broas de milho que tanto apreciava e subiu o elevador. A água já fervia e desceu pelo coador a cobrir o pó do café que exalou o cheiro tão brasileiro. Na televisão as primeiras notícias trazem notícias ruins do velho continente. Londres foi atacada. O horror e a loucura do terrorismo islâmico, mais uma vez, fazia sangrar a jugular inglesa. O jato de água do chuveiro ajudou a tirar a cara de sono. Já tomava o café quando lembrou-se que sonhara com o mar. As águas azuis e transparentes, o som das ondas e a companhia de bons amigos que sequer se lembrava quem eram. Escolheu uma roupa legal e se vestiu, e se perfumou, e arrumou o cabelo, e se foi. Para donde não importa. Mas, importa que se foi. E depois, quem sabe, ele conta para donde!

Wanderley Lucena

quarta-feira, 22 de março de 2017

Janela de Mundo!

Eu daqui da minha janela quase posso ver além do horizonte. Um mega espetáculo a acontecer na minha e na sua cara. E tem gente que nem percebe. A vida passa e ninguém olha. Olha a abelha ali naquela flor! Olha a água caudalosa do riacho que desce e escorrega para alimentar a terra e encher os lagos e rios. E o cãozinho todo faceiro a correr feliz para lá e para cá. E aquela nuvem lá no céu? Olha tem forma de dragão! E a moça que fica linda com aquele barrigão quase a explodir enquanto gera a vida! O casal de velhinhos com sua bengalas... já estarei ali no lugar deles. E os rapagões em seus exercícios físicos de rotina e conversas tortas e irritantes! Olha ali debaixo daquela árvore o casal a namorar! E o rapaz mais ali a ler a Clarice Lispector... é isso mesmo? Sim, é a Clarice. Olha o joão-de-barro terminando a sua casinha ali naquele pé de pequi. E menino a correr feliz com o balão púrpura inflado. As muitas bicicletas que levam e trazem gente que só quer tirar o pé do chão e sentir o vento a bater na cara. E naquela janela, la naquele condomínio ali do outro lado da rua. A mulher de cara amassada e cabelos desalinhados fuma um cigarro e olha para baixo, timidamente! Está na hora de ver a cena aqui dentro. Vai um café? Café na sua companhia tem mais sabor! Olha o cheirinho bom que chega às nossas narinas. Liga o som e põe a Marisa! "Enquanto isso anoitece em certas regiões... e se pudéssemos ter a velocidade para ver tudo, assistiríamos tudo..." Mas, não feche a janela. Deixe o vento entrar e balançar as cortinas e seus cabelos e até a sua saia enquanto você dança. Deixe-a aberta pra ouvirmos o menino gritando de felicidade enquanto brinca logo ali no parquinho. Mas, feche a porta porque tenho medo que você se vá! 

Wanderley Lucena

A Vida como Fogueira!

A pensar sobre a vida e a grande incógnita que perpassa os séculos desde que o homem existe. Muitas são as teorias científico-religiosas. Algumas são até quase convincentes, mas sempre fica a dúvida. Pois bem, eu a pensar sobre essa questão desde que existo e depois de ter desistido das teorias religiosas -todas elas - me veio uma figura de uma fogueira.

Eu, sempre que vejo outra criatura igual à mim, vejo além da caixa viva de carne que transporta a energia à qual percebemos e desconhecemos. Chamam-na de alma, de espírito etc... a nomenclatura não importa. Importa que é essa energia que sente as dores e dissabores da vida e é nela que são marcadas as as experiências enquanto vivos. Não é possível afirmar, cabalmente, nada sobre esse assunto. Mas, trago-lhes o que imaginei sem querer lhes trazer nova teoria. Quem sou eu para tanto?

Pois bem! Imaginemos uma fogueira. Uma fogueira é acessa por algum motivo particular. O indivíduo pretende, quiçá, assar uma carne; iluminar o ambiente; sinalizar o caminho na escuridão... os motivos são variados e depende de cada dono de fogueira. Mas, a depender da finalidade desejada se escolherá a lenha. Se quiser uma grande fogueira junina que dure por horas, a lenha será de boa qualidade, as toras serão grossas e em grande quantidade, muito bem sobrepostas e obedecendo certa engenharia. Mas, se a intenção for apenas a de ferver a água do chá ou do café, alguns gravetos juntados de forma aleatória bastam. A chama da fogueira durará conforme a lenha que a alimenta, óbvio!

Agora vamos imaginar que uma mãe saudável e muito bem alimentada está a gerar em seu ventre uma vida. A criança nasce e permanece muito bem alimentada e tem à sua disposição todo o aparato necessário para o seu desenvolvimento físico e intelectual. Eis a lenha boa que que alimentará a chama do indivíduo em formação e que, não sendo um acidente, morrerá de velha e, provavelmente, feliz.

Imaginemos que uma mãe carente de alimentos e viciada em crack e a viver numa cracolândia e a gerar, semelhantemente, outra vida. Não se faz necessário de minha parte enunciar as desvantagens da vida que está sendo gerada e do ser que nascerá. Certo é que, neste caso, a fogueira é alimentada por gravetos e em ambiente úmido e desfavorável. Muito provavelmente, tal chama se apagará com brevidade.

A vida é acidente químico-biológico, necessário e misterioso, da natureza para que se perpetue a raça humana. A chama que se apaga com a morte tem o seu surgimento a partir da intenção de outrem. Ou seja, é a ação, intencional ou não,  dos pais que vai gerar a vida. A depender da lenha que os pais colocarem na fogueira ela atingirá o seu ápice e cumprirá a função à qual se espera. Mas, há a certeza de que ela se apagará. A chama diminuirá aos poucos e, depois de algum tempo, virará carvão e, posteriormente, cinzas. Enquanto carvão continuará ardente e com função importante. É no carvão em brasas que se assam os churrascos que todos adoram, por exemplo. A terceira idade e sua sabedoria! É ou não é?

O carvão se apagará por fim e vivará cinzas que se espalharão ao vento ou se misturará à mãe terra e irá servir de adubo para as frutíferas que alimentarão os viventes. Nas cinzas já não mais se percebe a energia do fogo, dá chama. Mas, está ali o esqueleto já sem carnes. À terra já serviu de alimento.

E assim, a vida se perpetuará. Da terra viemos e à ela voltaremos! Sabedoria tão antiga quanto as nossas vovozinhas! E o que importa não é a vida eterna do ser, mas, a existência eterna dá humanidade por meio dá procriação.

Wanderley Lucena

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Com sua Licença






Você pode pertencer à qualquer maioria: católico, hétero, evangélico, branco, flamenguista, preconceituoso de qualquer tipo ou modo...
mas, esse pedaço aqui é meu e o sol nasce para todos! Então, tire o seu preconceito do caminho que eu quero passar com meu amor!

Wanderley Lucena

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Premonição Planejada

Eu queria já está por lá. Continuo por aqui. O universo tem o seu tempo. E... se eu já estivesse por lá não me teria chegado tão boa notícia. Vou melhor. Levarei suprimentos suficientes para uma vida digna. Mas, a ansiedade não é pequena. Vejo ruas de pedras limpas de cidade velha e bem conservada. O sol é cálido e dourado. O clima é ameno e as pessoas amistosas. Minha casa me cabe e me envolve como o meu lençol limpo e cheiroso. Musica boa tocando ali e um cheirinho bom vem da cozinha. Vai um café? Adoro café tirado na hora. Os telhados vermelhos a partir da minha janela. O ar puro que entra e que chega úmido daquele velho, cantado nos fados, logo ali pra baixo. A minha rua é calma e tem muros de pedras seculares enfeitados por flores que neles se afincam e se enramam. Tem um bom vinho naquela mesinha ali no canto. Vamos beber até tarde da noite. Ouça o fado na casa vizinha. Ela é uma velha senhora que mora sozinha e não se assusta com isso. Ela tem visitas todas as semanas. É educada e tem cachorrinho com o qual sobe e desce as escadas para levá-lo pra passear varias vezes ao dia. Aquela cúpula arredondada lá na frente, depois dos telhados. É uma mesquita. Uma hora vou lá de curiosidade. Tem as tores das igrejas e os sinos tocam todos os dias no final da tarde. Tem bares e gente bonita a falar sem parar. Eu já chegarei aí. Eu já chego.

Wanderley Lucena

domingo, 15 de janeiro de 2017

Liberdade


Nasci na igreja evangélica e nela grande parte de meu caráter se formou. Li e reli a bíblia. Mas, não só isso. Eu a estudei. Mas, graças a Deus, não estudei apenas a bíblia ao longo de minha vida. Hoje sou, verdadeiramente, livre. Já não tenho mais medo e o peso da culpa eu perdi no dia em que descobri ser o tal livro sagrado, bíblia, um belíssimo instrumento de manipulação e que o seu conteúdo, no quesito fábula, é de fazer inveja à Disney. E obrigado por me dimensionar.

Wanderley Lucena

Diálogo


Discussão interessante. Fico aqui a pensar quem vai "ganha-lá".
Penso que nenhum dos lados.
Querem convencer o outro com argumentos pessoais, apresentam referencial teórico feito por homens (inspirados...?).
Não julgo nem um e nem outro, tenho minhas convicções religiosas, sou evangélico leio a Bíblia, assim como leio outras literaturas sobre o tema, mas não posso e nem devo impor minhas crenças, fazer valer minha ideologia á força.
Apresento, vejo a outra parte e julgo pra mim mesmo o que é válido.
Se tiver que haver mudanças entre as partes que sejam estimuladas de dentro pra fora.
O que vem de fora é apenas uma fonte, a decisão de mudar é minha e tão somente minha.

Mas reitero, a discussão é interessante.
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Eu entendo que Deus pode todas as coisas, segundo consta da bíblia. Eu acreditava que Deus era quem nos escolhia e, misericordiosa mente, nos inundava com seu amor e que ali nascia uma nova criatura. Acredito,meu querido amigo, que a mudança pode mesmo ocorrer das duas maneiras. Existem pessoas totalmente degradadas que são transformados, verdadeiramente, depois da mensagem do evangelho, do islã ou de qualquer outra religião. Acredito que a grande maioria deve sua ética a uma disciplina de vida rígida dos que decidem ser bons. Nos dois casos, vejo a mão de Deus. Não o deus criatura por nós descrito no que se denomina livro sagrado.
Concordo que o diálogo entre as duas partes não sabem dialogar, sequer, se respeitar.
Mas, existe uma platéia, e ela não é pequena, sedenta por sangue. Sangue de idéias. Sangue do embate de idéias, compreende?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Eu não sou a Universal


É perceptível e descarada a tentativa rocambolesca da Record em imitação barata e mal feita da estética global. Quando a dita emissora tenta ser original o resultado do produto é pior que a tentativa da imitação. O que é essa novela bíblica que nem sei é "Os Dez Mandamentos" ou se a sua continuidade? Parece mesmo um rocambole feito aos murros em cozinha pobre de mulher bem sebosa! Mas, tem uma tal "Escrava Mãe" que tenta pegar uma carona na antiga novela sucesso global "A Escrava Isaura". O enredo não se emenda e a produção é tão pobre que parece se situar num circo mambembe pobre de beira de BR de interior do nosso Brasil. A produção chega a ser um acinte às inteligências medianas.  Um pavor que passa para o intervalo da propaganda onde desconhecidos se dizendo "grandes" e bem sucedidos empreendedores se intitulam "Eu sou a Universal". Eu não sou a Universal.

Wanderley Lucena

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Águas Claras

Tem manga que nao acaba; tem pitanga e acerola; tem goiaba e tem abacate e, por incrível que pareça, tem até tamarindo. Sim, tem tamarindo, essa fruta que muita gente nem conhece e que, de tão azeda, trava o palato e faz salivar. É mais  azeda que manga azeda que manga verde. Aliás, manga verde bem picadinha, sal e uma pitada de pimenta do reino... pense num sabor exótico que enche o bucho da meninada num verdadeiro banquete. Pode comer com colher ou de mão cheia mesmo. Os dentes ficam embotados e fica assim por uns três dias. Fica difícil de escovar. Mas, comer manga verde com sal e pimenta do reino é mais que comida, é verdadeira travessura. Agora, pense no azedo da manga e dobre. Sim, é mais azedo que manga verde. É uma delícia quando vira suco. Mas, pra quem veio do nordeste brasileiro, não há como não comer a fruta marrom e de cascata seca. Tinha tudo pra não representar nada, mas, é uma delícia. É tudo isso aqui em frente à minha casa. Desço o elevador e, em frente à portaria, um portão aberto até as 22h. É o portão do parque de Águas Claras, cidade satélite de Brasília. Muitos são os pássaros a cantar frenéticos. Os ben-te-vis são dos mais presentes. Desde o alvorecer até ao anoitecer eles cantam loucos. Periquitos e vin-vins, carcarás e corujas, pombas rolinhas, avuaçãs e juritis, gaviões e anuns. Tem muitos cães domésticos a brincarem acompanhados de seus donos. E... águas límpidas e cristalinas que nascem aqui mesmo, dentro do parque. Formam um córrego e se vão dentre a terra ou canalizadas em tubulações que o homem impõe.   Vale muito sentar por aqui, num banco qualquer, com o livro pra ler ou só pra ficar a ver toda a cena adiante dos olhos.

Wanderley Lucena

sábado, 17 de dezembro de 2016

Céu em Cinza

- Hoje eu não quero botar meu pé fora da cama. Tá um frio danado aqui. Mas, criei coragem e abri a cortina. Um céu cinza foi tudo o que vi.  Cadê o controle remoto da TV? Ai, Jisuis! Eu preciso levantar, passar meu café, tomar meu banho, tirar a inhaca. Melhor se não tivesse ligado a TV. Que programação é essa das manhãs de sábado? Cadê o bom gosto? Cadê a programação pra vida inteligente? Desisto! A água já levanta fervura e um fio logo dela é despejado no filtro que segura o pó. O cheiro inunda o ambiente. Cambaleio para tentar chegar ao banho e tirar a ferrugem da boca numa higiene bucal enquanto a água passa pelo filtro. Melhor desligar a TV. Ninguém merece essa programação! Será que vai chover? Ai! O whisky tomado antes de dormir era da melhor qualidade. Mas, não foram poucas as doses. Ai, Jisuis! Vamos lá? Cadê o pão dormido de centeio? Há! Tá aqui! Cadê a Manteiga? Há! Tá aqui no lugar de sempre. Cadê o adoçante? Uma meia colher muito bem medida. Esse adoçante é aborrecente. Um tico à mais e... lascou! Fica doce que arrepuna. Leite em pó. Cadê? Aqui! Ai que delicia! Delícia! Depois do café com pão de centeio de três dias ou mais, o mormaço lá fora, o frio aqui dentro. Será que saio hoje? Leio um livro? Acho que não. O Saramago não cairá bem nesta hora. É ressaca? Não! Talvez um pouco. Mas, o whisky era de primeira. Deve ser enjoo mesmo. Um banho gelado vai resolver. Pronto! A coragem já volta. Deixa eu me arrumar pra ir almoçar na casa de minha mãe. Sempre tem surpresa. Tomara seja boa. Cadê o espírito de natal? Cadê? Estou aqui. Venha e incorpore! Ai! Ai! Tenho mesmo que ir? Sim. Fui!

Wanderley Lucena


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Livre Expressão




Eu posso não acreditar no mesmo deus que você ou até mesmo não acreditar em deus nenhum. Mas, quero informar e atestar que continuo acreditando no amor, na compaixão, no respeito, na responsabilidade, na cidadania e... em mim mesmo! (Texto livremente  inspirado em Post de Facebook).

Wanderley Lucena

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Mais Amor, por Favor!


Eu pensava que ser lido em minhas ideias era direito inalienável. Eu pensava que numa discussão de ideias, por mais polêmicas que elas fossem, estaria garantida toda a minha integridade, física, moral e intelectual. Mas, confesso... é uma batalha hercúlea e perigosa na qual perdem-se os bons modos e o respeito mútuo. Entretanto, mesmo ante tanto perigo, desejo informar à todos estou me aperfeiçoando no quesito "ouvir mais", mas, penso que jamais me calarei ante qualquer tipo de ameaça ou agressão. Acho muito natural que pensemos bem diferentes, mas, podemos conversar usando a diplomacia inerente à todos os seres humanos que, numa analise rasa, é raça toda irmã! Assim sendo, informo que tenho o maior respeito por suas ideias, mesmo que elas me sejam inconcebíveis!

Wanderley Lucena

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O "G" da Discórdia

Eu fico a me perguntar o que nos leva a condenar o que não conhecemos. A Maçonaria sequer é religião, mas, organização secreta – e qual o problema de ser secreta? – e sofre ataques oriundos, principalmente, de pastores evangélicos. Quero aqui deixar claro que não sou maçom e que a minha defesa não é para com a organização Maçonaria. Quero mesmo é discutir a insanidade que leva indivíduos que deveriam se ocupar de fazer o bem o evitar a segregação, haja vista, se dizerem os representantes do Cristo entre nós, a jogar pedras contra quem eles discordam ou sequer conhecem.

Um pastor de uma igreja da cidade do Gama, cidade satélite de Brasília, ocupou boa parte de seu dia a fazer longo texto, publicado em redes sócias logo em seguida e que tinha esse teor. Um desocupado, blogueiro, fotografou a tal igreja e, por causa de uma letra “G” grudada na logomarca, acusou-a de associação com a Maçonaria. O “G” para a maçonaria,p elo que sei, é mero símbolo que se percebe nas lojas maçônicas mundo à fora.  Seria uma besteira não fora o post do pastor. A acusação do blogueiro é boba, mas, o post do pastor não o é. Estava cheio justificativas e medos de que sua igreja pudesse ser confundida ou associada à maçonaria. Informava aos fiéis pagadores de pesados dízimos que a igreja era genuinamente cristã e que, jamais, estaria associada com outras crenças que não tivessem o Cristo como fundamento de sua fé. A Maçonaria não é crença, repito! Pelo pouco que sei, trata-se de um organização  secreta que visa princípios de liberdade, democracia, igualdade, fraternidade e aperfeiçoamento intelectual e a proteção mútua e privilegiada dos seus membros. Não seriam estes fundamentos tão cristãos quanto os de qualquer igreja cristã? A diferença é que eles não têm o dízimo por mandamento.

Devemos grande parte do que somos enquanto Estado e Democracia aos maçons. Os maçons estão presentes e por trás de todas as decisões mais importantes do Brasil e do mundo. Ao contrário de pastores e líderes evangélicos, não alardeiam suas ações com o intuito de fazer adeptos ou por causa de votos. O fazem por questões cívicas!

Confesso que me cansa todos os tipos de preconceitos – e, eu próprio, não estou livre deles, mas traço batalha hercúlea e diária contra eles. Preconceito é sinônimo de ignorância.  Portanto, não consigo compreender como alguém que fez curso superior de Teologia pode ser capaz de tão pouco alcance em sua visão intelectual-cristã. Preconceito é coisa para ignorantes e não para alguém que se sentou numa cadeira de uma academia e fez um curso superior, por mais, descrédito que o curso superior tenha.

A abordagem, nada cristã, estava carregada medos, iras infantis e bobas e, ainda, trazia uma ameaça: “as imagens de câmera da igreja captaram o blogueiro quando tirava as tais fotos do “G”. No texto se percebe, ainda, certo destempero e medo de que os fiéis pudessem abandonar a igreja e confundir a reputação do pastorao suspeitar ser ele Maçom. 

Eu vos informo e afirmo: mil vezes preferia eu ser um maçom a ser um pastor, mesmo que muito bem pago à custa dos dízimos depois de muita pregação e ameaça que leva os indivíduos ao fanatismo louco de quem pensa que Deus vai lhes mandar para o inferno por não pagarem o dízimo mesmo que em detrimento da alimentação e sustento de sua família. Quem precisa de dízimos é o pastor. Sem os dízimos ele perde o status, a troca de carro todo ano, o ganha-pão de sua família. Seria honesto não fora o discurso do ato pecaminoso ante o não pagamento do dízimo por parte do fiel.
Pior é perceber a empáfia de quem se sente superior. Deveria ser o oposto do que percebi naquela leitura cansativa. Jesus bem poderia ter sido um maçom, senão, poderia ter bebido e dançado com eles. Poderia ter participado como palestrante ilustre em qualquer loja maçônica em qualquer lugar do mundo. Acho que ele evitaria o mesmo caso fosse convidado para uma pregação na Igreja do Gama. Essa segregação de grupos humanos não combina em nada com os ensinamentos do Cristo. Ele dormiu uma noite na casa de Zaqueu, o cobrador de impostos. Tal figura, naquele tempo, era o mais indigno dos homens naquele contexto social. Teve por melhor amiga – ou amante, segundo algumas linhas de estudo e pesquisa cientifica – Maria Magdalena, a prostituta. Com ela andou para cima e para baixo e, orgulhosamente.

Portanto, tenho certeza que a defesa de tão proba igreja é a defesa do reino dos homens e não da verdadeira igreja de Cristo. Tenho certeza que, na tentativa zelosa de quem pretendeu a defesa da sua imaculada igreja, na verdade, a maculou e jogou na mesma cova das instituições humanas que só servem para disseminar preconceitos e segregação.

O respeito ao desconhecido é principio que nem precisa ser religioso, mas, da própria razão. Estejamos todos na paz do Grande Cosmos, com “G” de símbolo maçônico.

Wanderley Lucena