terça-feira, 10 de novembro de 2015

Pirilampos, Nambus e Juritis

Fazia tanto tempo que eu não via vagalumes! Quando menino, na roça, era lúdico ficar a ver as luzes a piscar entre os arbustos. Pois bem, aqui faltou energia numa noite dessas. Custou a retornar a eleticidade e que sem ter o que fazer, sai a caminhar pelo jardim e... surpresa! Lá estam eles, os pirilampos ou vagalumes. Quem não acha mágico que tais insetos tenham a capacidade de iluminarem-se e saírem a piscar suas luzinhas na escuridão? Quem não se encanta com o pisca-pisca dos tais bichinhos. Pois bem, magicamente, voltei a ser criança por um momento. Voltei ao Maranhão e ao pequenino vilarejo onde nasci. Lá não tinha eletricidade e as luzes eram as das lamparinas. Dormia-se muito cedo, quase com as galinhas. O que se fazia depois que a noite caia era ouvir estórias contadas pelos mais velhos enquanto debulhava-se a fava. E a fava era grão maior que o do feijão. Era de cor branca e tinha sabor delicioso quando feita com pedaços enormes de tocinhos que eram cozidos dentro da enorme panela. Mas, a fava podia ser comida até fria. E era tão deliciosa quanto comer ela quando acabava de sair da panela. Pra acompanhar vinha uma nambu, ou uma juriti, ou um um jacu. Podia ser assado, frito ou cozido. Era delicioso sentar no chão ao redor da enorme bacia de aluminio cheia de arroz e fava que comíamos com a mão mesmo e a fazer bolinhos que empurrávamos na boca e fechávamos os olhos ante o prazer da papilas a se abrirem ante o sabor que lhe era colocado.

Tomara falte energia quaquer dia e que eu possa sair pelo jardim e os encontre de novo a piscar. Tomara seja noite de natal!

Wanderley Lucena

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Teismo Agnóstico

- Desde quando és ateu? - perguntou-me ele ante aos meus posts de facebook.

- Desde nunca - respondi sem titubear - Sou agnóstio, apenas. Creio em um deus que não se define, que não se qualifica, que não se explica e nem precisa ser explicado - complementei.

- Pura cientologia - replicou ele a indicar o famoso movimento que arregimenta estrelas de Holywood, tais como, Madonna e Tom Cruise e que muita celeuma tem criado ante os olhos consevadores e incautos de quem pensa ser o dono da verdade.

- O deus bíblico é um monstro sem qualquer razoabilidade e, de acordo com as definições das tais escrituras ditas sagradas, é um ser bem pior que o pior dos seres humanos. Não quero saber de tal deus e, aliás, quero distância. Mas, será que sou um cientologista? - Perguntei-me.

Um deus ególatra, ciumento, medroso, violento, vingativo até a quarta geração, homicida, xonofóbico, sanguinário, racista, homofóbico, machista, injusto, inseguro e tresloucado. São algumas das características que encontro nesse deus que, afirmo, é mera criatura.

Um deus que mandará para o inferno 99% dos homens por ele criado - segundo consta - apenas por responderem à humanidade que ele mesmo implantou em tais seres... é inaiceitável e injusto. Se há algum culpado - e não o há - por uma criação mal fadada, esse culpado só pode ser quem criou.

Um Deus que, segundo consta no imaginário quase lúdico - pra não dizer infantil - mora numa cidade de ouro e que tal cidade levita em algum ponto do Cosmos; um deus que é branco e que tem as mesmas feições humanas; que tem uma espada na mão; que está rodeado de anjos (bem que podiam ser fadas e, algumas delas, madrinhas); etc... etc.. É tão ingênuo acreditar num deus assim quanto acreditar em Lord Ganesha, Brahma, Shiva, Vishu  ou em duendes a passear pelo meu jardim.

Deus, segundo consta, tudo sabe: presente, passado e futuro.. Portanto, sendo ele onisciente era sabedor do fracasso e falência de sua criação, porque não a abortou antes da produção? Para que criar algo ao qual só traria decepção e desgosto? - Mas, bem sei... nada há de errado com conosco que se possa atribuir a Deus.

O que ocorre é temos as duas naturezas, a boa e a ruim, instaladas em nosso âmago. E, a cada indivíduo, cabe a escolha de ser bom ou ruim. O culpado por toda a maldade somos nós mesmos e somos nós que daremos fim a nós mesmos. E bem sei que, grande parte de nosso caráter, sofre influência direta do meio ao qual estamos inseridos. Portanto, por vezes, nem ao próprio indivíduo se pode atribuir alguma culpa por ser ele quem é.

Explicar o Deus é mera perda de tempo e qualificá-lo, igualmente. Porém, é inegável, ao menos para mim, que há um grande mistério. Como explicar o universo? O firmamento? Se tudo foi fruto do bi-bang, como explicar o próprio big-bang? Quem apertou o botão? Antes de tudo já existia o mistério que produziu o big-bang.

Basta-me andar pela praia e sentir a areia ao meus pés; olhar o movimento das ondas; as folhas do coqueiro a balançar com o vento; obervar a lua em sua órbita e movimento; o sorriso de uma criança; obervar o corpo a respirar e o coração a bater; o meu cãozinho que abana o rabo e corre para me lamber cheio de afeto. Basta-me observar um pouco ao meu redor ou dentro de mim mesmo para perceber que não há resposta suficientemente lógica que possa explicar tal mistério.

Não sei como é Deus nem o que Ele quer de mim. Não quero qualquer resposta, todavia. Qualquer resposta seria tentativa inválida, produto de fé ou de mera especulação. Portanto, resta-me perceber que há mesmo um mistério por trás de tudo e, a esse mistério, chamo-o Deus. Um Deus que está para lá, para o Cosmos infinito, e para cá, para dentro de mim, igualmente, infinito. É esse Deus inesplicável e inqualificável, que late dentro de mim, é n'Ele que eu acredito. E isso me basta!

Crer num Deus que tem as mesmas características minhas ou de um ser humano qualquer, me é inconcebível e declaração máxima, um atestado, de que eu não seria capaz de raciocinar por meio de uma lógica que nem precisa ser matemática. Crendices? Prefiro crer em duendes em meu jardim!

Wanderley Lucena