domingo, 29 de julho de 2018

Lisboa em Francês

Lisboa anda afrancesada, diz a manchete do jornal de hoje. Eu também acho. Já faz algum tempo que ouço com certa frequência essa língua que me faz pensar em croissant e na Torre Eiffel. Há! Paris! Os portugueses se magoam com isso e com razão. Afinal a cultura portuguesa é riquíssima, oras pois pois! Lisboa tem essa luz toda que reluz nas calçadas brancas de pedra portuguesa e que, nem de longe, pode se confundir com uma rua parisiense. Eu que não sou daqui e tô muito mais preocupado com a cultura brasileira que se destrói por conta de outros fatores e esses bem antropofágicos, não reclamo e, pelo contrário, adoro comer num bistrô qualquer numa dessas ruazinhas de Lisboa. Os franceses cá estão a invadir a capital por causa de diversos fatores que vão desde o clima quente até o investimento e a satisfação pessoal de viver entre gente que ainda trás em si certa compaixão pelo próximo e cuida de manter algum cuidado por ele. Talvez pela tradição católica, não sei. Mas, são simpáticos sim os portugueses. E claro que há a exceção. Mas, reclamar que Lisboa está a virar Paris parece até pecado. Entretanto, sou pela manutenção das tradições nacionais seja de qual país for, desde que não se trate de diversão ás custas do sofrimento alheio ou dos animais. Aqui ainda se assistem touradas e no Campo Pequeno há uma arena belíssima que fica entupida de senhoras bem vestidas e maquiadas, aqui ou ali, acompanhadas de seus maridos empacotados e com coberturas que lembram o século XVIII. O sangue corre para o delírio deles enquanto o boi morre em espetáculo estúpido e de muitíssimo mal gosto. Mas, em Alfama, bairro boêmio agora esvaziado de portugueses que não conseguiam pagar seus alugueis ou se renderam à especulação imobiliária, as famosas procissões cantadas por Amália Rodrigues estão cada vez mais minguadas. O bairro, assim como tantos outros, estão tomados por estrangeiros - e eu sou um deles, só que na Ajuda, freguesia acima de Alcântara. É esperar que a cultura portuguesa ganhe esta guerra!

sexta-feira, 27 de julho de 2018








Não me importa o ódio que me sentes
Mas o amor com que te sinto!

terça-feira, 24 de julho de 2018

Titanic Brasil

Já era meia noite quando cheguei à roda de samba lisboeta do Titanic, às margens do Tejo e ao lado do Cais do Sodré. A casa é um galpão armazém que como tantos outros da região foi transformado e adaptado e virou casa de diversão noturna que a ninguém incomoda por não ser área residencial. De fácil acesso e a poucos metros da zona mais boémia da cidade baixa donde se concentram as casas noturnas mais quentes e infernais de Lisboa. E não pense pejorativamente. É totalmente seguro e organizado e, só se você prestar muita atenção vai perceber que a boate é de strip-tease. A região do Cais do Sodré até chegar na Torre de Belém, sempre às margens do caudaloso Tejo, é hoje área de ricos restaurantes e cafés, museus, academias, escritórios e órgãos públicos. Um passeio lento e à pé ou, mais rápido e numa bicicleta alugada, é de puro prazer. Mas, é sobre a roda de samba do Titanic que desejo vos falar. O lugar não serve comida, mas apenas bebida. Lotado de gente brasileira ou de turistas brancos e pretos, a muvuca é linda e miscigenada. A mesa de samba está ao meio do salão e ao acesso e toque de todos os que ouvem o bom é riquíssimo samba do Brasil. Era domingo já madrugada de segunda e todos pareciam ter esquecido que a segunda-feira não era santa. O batuque dos atabaques e chocalhos ou o som harmônico do cavaquinho com o pandeiro chamavam para o “soltar a goela”.  Todos cantavam junto enquanto o microfone era ocupado pelo vocalista que, numa espécie de transe, levava o povo ao delírio. Lindo de ver! É pra dançar! É pra cantar! É pra viver!

terça-feira, 17 de julho de 2018

Triste-feia




Triste-feia é o nome da ruazinha. Não é uma ruazinha que se poderia chamar Alegre-linda, mas não é de todo triste ou feia. Tem certa graça a tristeza da ruazinha que me é até bem bonitinha a feiura dela. Está em Alcântara, esta em Lisboa, está na Europa. Mesmo que fosse triste e feia eu moraria nela só pra fazer festa e botar a minha boca cheia de dentes a sorrir na janela enquanto o som, a todo volume, tocaria Gonzagão, Gonzaguinha, Fred Mercury e o escambal! A ruazinha não seria linda, mas feia não seria.

sábado, 7 de julho de 2018

Monsanto

Hoje fui de novo rumo ao Monsanto a fazer uma caminhada que sabia seria longa. Voltei para casa mais de três horas depois e depois de muito resistir a chamar um táxi. O joelho informou-me está quase no limite e a planta do pé direito queimava como se estivesse a pisar em brasas. Pensei que chegaria com bolhas, entretanto, tudo bem. O Monsanto é uma daquelas maravilhas da natureza que o lisboeta tem aos fundos de sua casa e, como quase todo mundo, não aproveita. E uma coisa que o português faz o tempo todo é reclamar da vida. Mas, eu não sou português e, mesmo que não fosse aqui, fosse em qualquer lugar, extrairia cada gota de prazer daquilo que me estivesse à disposição. A trilha é segura e conta com placas de sinalização que, num vexame geral de esgotamento, se pode pedir ajuda a uma ambulância de plantão já que os telefones estão informados. E pode ser em cima da montanha ou no precipício lá embaixo, eles irão te buscar. E costumam ser rápidos no atendimento.  As trilhas são de encantar ao mais duro dos homens. Podem ser asfaltadas ou trabalhadas em carrascos de granito ou outra pedra qualquer. Mas, também é seguro sair delas e adentrar na mata por meio das picadas que sempre acabam em outra trilha. As flores silvestres estão por toda parte ao longo das trilhas e os passarinhos são trilha sonora constante. Podem ser menores que a unha de um dedo mindinho ou de tamanho bem maior, mas as cores eclodem em explosão. Amarelas, roxhas, vermelhas, brancas. Não há como passar indiferente a uma flor branca que, em cacho, parece uma mandala branca. Linda demais! Não é raro ver as pombas, os melros, os pintasilgos, os beija-flores, e tantos outros que não sei denominar. Um deles, minusculo como o menor dos beija-flores, mas com um poder nos pulmões que não ficaria atrás de uma corneta, a cantar feito um doido, acima de mim, indo para lá e para cá. Pensei que poderia ser um drone a me espionar, veja só! Mas, se fosse um drone a me espionar a última coisa que faria seria emitir algum sinal, muito menos aquela melodia que que me impressionou tanto. Ademais, porque alguém iria querer me espionar, não é verdade?

Cheguei em casa com a sensação que o esgotamento estava ali na esquina. Um banho recuperador - um café, faz favor! - e uma vitamina funcionam melhor que qualquer reza de qualquer cristão. 

quinta-feira, 5 de julho de 2018

E só!

Ante o grande mistério que é a vida, considero a possibilidade que o Cosmos seja, Ele todo, inteligencia infinita e, talvez, sejamos parte dele. Ante todas as grandes questões não respondidas: quem somos? de onde viemos? o que estamos a fazer aqui? para onde vamos? etc... considero-me incapaz de afirmar que não exista "algo" mais. Entretanto, jamais poderei conceituar o que seria esse "algo mais". Considero que qualquer tentativa de explica-lo é mera ficção especulativa. Não posso deixar de me sentir em mim todas as sensações e, ante toda a maravilha que é a odisseia humana e o Cosmos como um todo, rendo-me em atitude contemplativa. E só!