segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O Essencial

Meu inglês é parco, meu espanhol está enferrujado. Basta manter a calma que se consegue se virar numa viagem internacional. Até agora tenho conseguido me comunicar no inglês de maneira a não passar fome porque “one big mac” qualquer um consegue falar. “Do you speak spanish or portuguese?” Quando a resposta é positiva se consegue travar um diálogo mais prolongado, intenso e rico e quando é com o recepcionista do hotel é a salvação para diversas dificuldades. Sair para o aeroporto com mais duas horas que as normais é manter a segurança de pegar o trem na direção errada e ter tempo de consertar tudo antes de perder o voo. Os aeroportos e estações de trens podem ser labirinto gigantesco que se não se tiver o fio de Ariadne, o desespero e os prejuízos serão certos. Comprar o bilhete de passagem direto no guichê e mais seguro que comprar numa maquina onde você vai escolher numa língua que não domina e onde as escolhas são muitas e o erro é quase certo. Os atendentes dominam várias línguas e, geralmente, o inglês e o espanhol para eles é obrigatório e isso pra mim facilita um bocado. Se não se pode falar ou entender tudo, ao menos, “one ticket from...” tem que se aprender antes. Deixar o google maps ligado e a acompanhar o trajeto dp trem em direção ao destino desejado é a certeza de se consertar a tempo e voltar o destino desejado sem grandes perdas e frustrações. Viajar sozinho - é o meu caso - pode ser benção já que não haverá ninguém a ajudar no desespero. Ler várias vezes e com muita atenção as regras de embarque contidas nos talões é importante e pode evitar que você tenha de entregar ao povo do raio X do aeroporto aquele perfume caríssimo que não se adequa dentro do padrão de transporte. Uma mala pequena - pequena mesmo - nunca maior que o tamanho permitido nem acima do peso exigido ou você terá que pagar com os olhos da cara por cada grama ou milímetro que passar. Ousadia e coragem ante a cultura desconhecida é essencial. E não precisa sair falando mal do país ou cidade só porque um garçom não lhe foi gentil. Geralmente todo mundo se predispõe a ajudar. Só não exagere na dificuldade e fique sempre dentro do conforto de fazer o seu pedido e calar-se! Não ouse travar um diálogo e querer contar ao garçom toda estória de sua vida. São algumas das minhas dicas a você que, como eu, quer conhecer o mundo. E depois de uma ou duas viagens fica tudo mais fácil. Então, faça a mala e vá pra o mundo porque ele é seu também!

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Lisboa

Essas ruas centenárias por onde pisaram os pés de Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Amália Rodrigues e muitos mais; esses tantos largos, pracetas e esplandas que tanta estória testemunharam; esses tantos jardins deslumbrantes que de tantas cenas de amor entre casais foram palco; essas igrejas tão ricas e cheias de arte que a tantos reis e rainhas serviram para cerimônias grandiosas de casamento, batismos ou velórios; esses telhados vermelhos que reluzem ao sol e que vidas protegem felizes ou não; esses velhos elétricos que sobem e descem íngremes ladeiras e levam gente que já foi lisboeta mas hoje é de Babilônia; esses cafés aos quais paro só pra pedir "um expresso, faz favor" como se bom português fosse; essas tabacarias que vendem elegantes cachimbos a homens cultos e de bigodes mustache mais cuidados que a menina dos olhos; essas estátuas às centenas em pose eterna de eterno olhar sempre para o mesmo lugar e que assim continuarão talvez até o próximo terremoto; esses museus muito bem cuidados e que destoam do desleixo da minha história nacional que arde sob fogo ardente ante políticas negligentes; esses mirantes de onde miro o Tejo e muito além dele e de onde vejo o Cristo, um terço do nosso, mas que é exibido com o mesmo orgulho lusitano dos barqueiros que trazem as sardinhas que são assadas na frente de casa e que infestam toda a Lisboa com seu cheiro e que eu nem gosto.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Tosca e Rasa

A ignorância pode ser uma benção, diz o adágio popular. O problema é quando o ignorante leu a bíblia e por isso se dar ao direito de argumentar com falácias de sua crendice. "Menino é menino e menina é menina. Deus fez assim e ninguém conseguirá mudar isso", diz um post de uma rede social. E o "d" maiúsculo a que me me refiro ao deus bíblico neste texto deveria ser minúsculo e só não é por obedecer às regras da língua portuguesa. Mas, e o hermafrodita? Quem fez o hermafrodita? E eles estão por ai, muitas vezes do nosso lado, apavorados ante a possibilidade de serem descobertos e tidos por monstros. Nesse caso a ignorância deixa de ser benção e passa a ser maldição.  A falácia é tão tosca e rasa que bastaria pensar um pouquinho e já estaria em terra. O pior é que, muitas vezes, o ignorante até percebe que seu argumento é falso, mas sabe que se o lançar ao vento encontrar bom pouso em cabeças tão ou mais ignorantes como a sua e que engrossarão o caldo do preconceito e vontade de jogar pedras ao próximo. A verdade é que a vida não está apenas em branco e preto e não precisa ser eterna dualidade. Existem muitas mais cores nesse leque. E o bom é que apesar da insistência em represar a corrente da vida que corre por si só e não por vontade alheia, a represa é mal construída e a todo instante é derrubada. Sexualidade é individual e não é transmissível como se uma peste fora. É inerente à todos e única em cada um. Tentar interferir na sexualidade alheia é para gente inxerida e desocupada que fica a olhar a vida a alheia e, com inveja, medo, ódio e mesquinhez quer que o mundo dos outros seja tão miserável, medíocre e ressequido quanto o seu!

domingo, 2 de setembro de 2018

A Cor Laranja




A minha casa tem luz amarelada e cheiro de café
Tem um Buda lindo e Stromae a cantar Formidable
Tem uma janela e posso olhar para outros mundos
Que também têm janelas de salas que têm luzes alaranjadas
Tem um silêncio imenso no interior azul e atmosfera de saudades
E amor que emana rumo a todas as janelas de luzes alaranjadas
Para a sua janela de luz amarelada
Tem um café ai?

sábado, 1 de setembro de 2018

Um Ovo chamado Preguiça

Em meu retiro não voluntário chamado preguiça não encontro inspiração para escrever sobre nada. Sinto inveja da Clarice Lispector que quando sem inspiração escrevia sobre o primeiro objeto que lhe chamasse a atenção. Tem um texto dela sobre o ovo. Um quase tratado sobre um ovo. Sim, um ovo. E aqui com uma mesa bagunçada e com tanta riqueza de objetos. Até uma cuia de bambu com uma banana dentro. E olha que a banana já inspirou todas as artes, da pintura à musica, da arquitetura ao cinema e até na pornografia é fruta recorrente. Só me vem a preguiça que me impede botar cada coisa em seu lugar. E sei que a preguiça é pecado capital. A cidade está muito quente e quero culpar à natureza. Ma, sei que é fuga mentirosa. É preguiça mesmo! Assumo! Estou empolgado com algumas viagens já prontas e que farei logo e que espero, me tirem desse estado de letargia. Confessar pecados, ainda mais quando capitais, é sempre arriscado inclusive se ao padre. Padres sempre preguiçosos que te darão uma penitência de passar alguns dias de joelhos sobre o milho quando ele próprio, como o macaco, está sentado sobre o rabo. Padre é profissão sim e para gente preguiçosa e covarde. O padre é sempre aquele indivíduo a fugir de sua própria estória ou do monstro que carrega em si. É aquele indivíduo que quer uma sombra de árvore mas que não tem coragem de plantar uma. O mesmo serve para o pastor. Pastor é profissão. Imagine se alguém lhe pergunta: qual a sua profissão? e você responder: Pastor. Eu morreria de vergonha de ter tal profissão. Mas, estou a sair do foco já que é da minha própria preguiça que estou a falar e não da preguiça do padre. Mas, que interessante a preguiça do padre. Uma hora escreverei sobre ela. Até porque me lembrei de um deles que era o responsável por uma paróquia perto da minha casa. O típico pançudo que sentava nos degraus das escadas e ficava a bocejar por todo o dia enquanto vigiava a vida dos rapazes que viviam ali em regime de internato. Eu nunca fui preguiçoso. E digo sem medo de estar a vos mentir. A minha vida sempre foi de muita labuta e desde muito menino já ia para a roça a ajudar meu pai a capinar o arroz. Aos 14 anos já estava a trabalhar a varrer uma loja na minha cidade e antes disso, juntamente com meu irmão mais velho, trabalhei em olaria a fazer tijolos, em carvoaria, a quebrar pedras etc... aos 16 anos minha carteira profissional já estava assinada e aos 18 anos estava aprovado em concurso na capital federal do Brasil e em atividade que sempre requereu muita disciplina. Mas, hoje... aposentado... com esse tempo quente... com a vida ganha... sem preocupações já que o dinheiro para pagar as contas é certo... acordo tarde e com dificuldade. Talvez seja mesmo a idade. Não sei. Escrever é ato tão prazeroso quanto comer manga madura e se lambuzar com ela. Mas, nessa preguiça me falta a inspiração. Vontade sempre tenho. Mas, fico a buscar o ovo da Clarice e não acho. Por fim desisto e me entrego à minha indolência. Ligo a tv e deslizo os dedos o dia inteiro no controle remoto a buscar algo interessante. Hoje achei um ovo chamado preguiça e olhe no que deu! Mas, o ovo bem que podia ser a banana!