terça-feira, 5 de julho de 2022

A Andorinha Mensageira

Uma andorinha, desde Lisboa, cruza o oceano atlântico rumo ao Brasil. Pousa sobre um fio de iluminação publica na esquina do Colégio Pio XI, de frente para o Bar Kaburas. Desde o seu assento percebe a cena naquele pequeno boteco de esquina. O salão apertado está apinhado de gente de várias gerações, inclusive, de muitos que já nem se encontram mais nesse plano. 


O pequeno salão tomava dimensões bem maiores na visão da andorinha e agora mais parecia a Gafieira Elite. A multidão se apertava enquanto a banda dos Bílio botava todo mundo pra dançar. O chefe de Cerimónias, o Sr Kaburas, se vestia elegantemente e se diferenciava dos demais pela longa cartola. 


Parecia que já não cabia mais gente, mas chegava mais gente a toda hora. No balcão o movimento dos copos era frenético e o teor alcoólico subia quando se ouviram os sinos da matriz a informar que a missa começava. Ninguém queria saber de missa naquele dia de festa.


A nata da sociedade estava presente, mas também os excluídos e descamisados. Ali não se discriminava ninguém e até umas senhoras de pencas adentraram e foram saudadas com reverencia. O pessoal do Buru de fazia representar, assim como os do Matias e São Benedito.


O padre largou a igreja vazia e também foi comemorar. Tinha gente da Altamira e do Canadá; do Barro Branco e das Cajazeiras; do Escondido e do Sujapé; tinha gente até de Tuntum e Grajaú.


O Sr Kaburas foi convidado a cortar um bolo e apagar 40 velas enquanto se cantava o “parabéns”.


E a andorinha voltou para Lisboa ferida por um tiro de espingarda “por fora” que lhe foi dado por tal “capitão de meia-tigela” que odeia índios, pobres e tudo o que seja de natureza. 


E grande foi a minha dor a andorinha ferida na minha sacada. Ela estava assustada, mas conseguiu contar-me que estivera numa cidade que era pura poesia, bem no meio do Maranhão e que se chamava Barra do Corda. E contou-me tanta coisa que nem caberia nestas poucas linhas. 


A andorinha agora voa sobre o Tejo. Eu também

Justino, o Poeta Feio

Ele canta em verso e prosa a sua feiura. Mas o que mais me chamou a atenção na figura de Justino Morais não foi a sua estampa nas fotos postadas nas redes sociais, mas a sua ousadia naquilo que escreve sem medo e vergonha da opinião alheia. Eu não o conheço pessoalmente, mas pelas fotos ouso dizer que Justino nem feio é. Não que seja algum Marlos Brando barracordense, de jeito nenhum. Mas, nas nossas conversas nas redes posso garantir tratar-se de pessoa gentil e educada.


Justino Morais é louco para muitos. Louco porque decidiu escrever sobre assunto a que todos amamos. Ele não mede palavras, não floreia, não esconde nada quando descreve o sexo em sua literatura a que muitos denominam imoral e a que eu vejo como pornográfica. A pornografia, a velha e boa pornografia que todos levamos. Mesmo aquelas senhoras mais pudicas ou aqueles homens que nos passam imagem de santos.


Ao descrever suas peripécias, não sei se apenas imaginadas, causa espanto a forma nua e crua como a que se refere às genitálias e como descreve atos sexuais e travessuras que podem ocorrer em qualquer rua, beco ou esquina da cidade. Nada de metáforas e as coisas são chamadas pelos nomes que levam nos baixios, nas currutelas, nos cabarés.


A hipocrisia parece não fazer parte da sua literatura escrachadamente pornografica. Há quem o bloqueie, quem o despreze. Eu sei que Justino não é nenhum anjo pornográfico como denominam a Nelson Rodrigues. E eu que nem anjo ou demónio sou, pleno da minha carne, com espanto, vos afirmo que gosto da literatura pornografica e  imoral de Justino Morais.


Acho que a sua feiura cantada e alardeada por si mesmo é mera estratégia para receber o colo de mulheres com as quais ele e todo mundo sonha. Ainda bem que estamos no século XXI e que as fogueiras da Santa Inquisição já foram apagada. Senão Justino já estaria a arder numa fogueira ao lado da minha.