O pequeno salão tomava dimensões bem maiores na visão da andorinha e agora mais parecia a Gafieira Elite. A multidão se apertava enquanto a banda dos Bílio botava todo mundo pra dançar. O chefe de Cerimónias, o Sr Kaburas, se vestia elegantemente e se diferenciava dos demais pela longa cartola.
Parecia que já não cabia mais gente, mas chegava mais gente a toda hora. No balcão o movimento dos copos era frenético e o teor alcoólico subia quando se ouviram os sinos da matriz a informar que a missa começava. Ninguém queria saber de missa naquele dia de festa.
A nata da sociedade estava presente, mas também os excluídos e descamisados. Ali não se discriminava ninguém e até umas senhoras de pencas adentraram e foram saudadas com reverencia. O pessoal do Buru de fazia representar, assim como os do Matias e São Benedito.
O padre largou a igreja vazia e também foi comemorar. Tinha gente da Altamira e do Canadá; do Barro Branco e das Cajazeiras; do Escondido e do Sujapé; tinha gente até de Tuntum e Grajaú.
O Sr Kaburas foi convidado a cortar um bolo e apagar 40 velas enquanto se cantava o “parabéns”.
E a andorinha voltou para Lisboa ferida por um tiro de espingarda “por fora” que lhe foi dado por tal “capitão de meia-tigela” que odeia índios, pobres e tudo o que seja de natureza.
E grande foi a minha dor a andorinha ferida na minha sacada. Ela estava assustada, mas conseguiu contar-me que estivera numa cidade que era pura poesia, bem no meio do Maranhão e que se chamava Barra do Corda. E contou-me tanta coisa que nem caberia nestas poucas linhas.
A andorinha agora voa sobre o Tejo. Eu também!