quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Oceano


O meu amor estava do outro lado da rua

Entre nós o asfalto

Um oceano inteiro

Ele nem sabe que é meu

Nem amor sabe que é


Wan Lucena

Funeral de Mim


Eu vos apresento o meu funeral

Eu já morri várias vezes

E fui ao meu funeral todas as vezes que morri

E chorei lágrimas grossas que rolaram como um rio por meu rosto

E penetraram-me a pele e atingiram-me a minha alma

E minha alma já fazia a viagem quando eu com ela me encontrava e a convencia a voltar

E, como a fénix, renasci todas as vezes

Minha alma aprendeu o caminho e já me voltava sozinha

Ao corpo ali exposto em urna fúnebre e coberto de flores

Ao invés de chorar passei a sorrir pelo renascimento

Parei de me vestir de preto

As flores do meu funeral e preferi enfeitar a minha casa com elas

Passei a levar cachaça e uma vitrola com uns vinis do Secos-e-molhados

Eu passei a dançar no meu funeral e a rir da morte

Um verdadeiro escárnio

Um deboche imperdoável

Mas a morte nunca se fez de indignada

Parecia mesmo era gostar

Continuo a morrer todos os dias

E sei que um dia vou morrer e não mais voltarei

Mas vou conversar eternamente com minha alma

E vamos morrer de rir

Wan Lucena

domingo, 13 de setembro de 2020

Umbilical


Olhe para o umbigo...

Um ponto...

Pode ser uma reticencia...

Basta imaginar...

A inspiração bater...

E nos levar...

Levar para o hifen entre as nossas pernas...

Para o O entre as nádegas...

E eis a poesia 


quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Macondo Sertaneja

Encravada no meio do sertão maranhense, donde se encontram dois rios, tempos idos - muito idos - uma Macondo foi fundada. Ali os meninos podem virar sacis e as assombrações podem esta na esquina a ser dobrada depois das 12 badaladas "notúrnicas". Uma freirinha linda de nome Pepértua raptada por índios guerreiros que lhe invadiram o convento e um dos guerreiros ante tanta beleza decidiu que ela seria a única que não seria morta, a levou e possuiu por esposa, mesmo que à força e contra sua vontade. O sangue derramado molhou a terra poeirenta e todos os religiosos foram mortos e na igreja matriz da cidade estão as fotos estão estampadas em mosaicos na fachada da dita igreja. "Por aqui passou a infeliz Perpetinha" era mensagem que liam os soldados que foram tentar resgatar a infeliz sem qualquer êxito ate os dias de hoje.
A maior dadeira da cidade, a maior puta da zona - isso mesmo, falo do famoso Buru, hoje Cai nÁgua - teve um sonho onde ia ate o inferno e o cão a submetia aos castigos mais terríveis. Tornou-se carola beata da pior espécie a lanchar pragas e pedras sobre quem agora praticasse a profissão mais antiga da humanidade e tinha, ela mesma, a pretensão era de virar santa depois de sua morte. Há quem a ela dirigia preces e lhe acenda velas de sete dias e acredite ser ela mesmo santa e fazedora de milagres mil.
Daqui de Lisboa, em ondas magnéticas e virtuais da Radio da Academia Barra-cordense de Letras recebo a energia daquela Macondo magica encravada no meio do sertão, por onde passam dois rios e que ate hoje produz mil seres fantásticos dos quais, nesse momento, vos apresentei apenas dois. Mas são tantos os seres mágicos daquela Macondo que Garcia Marques ficaria a se roer de inveja.
Barra do Corda, amor da minha vida
És tudo para mim terra querida
Wan Lucena