sexta-feira, 30 de março de 2018

Lingua

- Passa cá tu!
- Vem cá tu!
- Vai lá tu!
- E páh!
- Ora pois!

São exemplos de expressões do cotidiano de Lisboa que me soam como um congo desafinado aos ouvidos. O “e páh” está sempre no final de toda e qualquer frase de uma narrativa mais empolgada.
Apesar de tudo, ouço o português com suas mesóclises, próclises e ênclises. Na segunda pessoa do singular e com o verbo devidamente flexionado à pessoa e a obedecer o tempo verbal.

Não sei de onde arrumam um “I’ e um “E”, que bem podiam ser maiúsculos, para quase tudo. Doutor vira “Dotoire”, senhor vira “senhore”. Os verbos seguem na mesma e fazer vira “fazeire”, botar vira “botaire”. Exemplos? Eu vou ali “botaire” o arroz no fogo; Vem cá tu “botaire” o arroz no fogo; vai lá tu a “botaire” o arroz no fogo.

Por vezes, danam a falar rápido comigo e apenas gesticulo com a cabeça como se estivesse a entender alguma coisa quando, para mim, está a falar a horrenda língua dos anjos propagada com orgulho pelo povo das assembleias. E pra piorar, grande parte dos portugueses estão sem dentes. E quando digo sem dentes digo todos os dentes. O tratamento por aqui é caríssimo e os produtos de higiene bucal também. Quando se fala sem dentes e apenas com lábios a coisa piora para mim e me pergunto se estou a ficar meio surdo já que nada que saia de suas bocas-sacola consigo entender.

Ao meu ouvido me soa aberto e bem pronunciado é mesmo o português do Brasil. Acho mesmo linda a sonoridade de nossa língua brasileira. E sei que posso ser tido por preconceituoso, mas me dispo dele e, nem assim, concluo coisa diferente. E no Rio, certa vez, muitos anos atrás, conheci uma colombiana que morava em Chicago e que já havia morado em vários países mundo à fora e que ali estava a estudar o português.
- Mas, não o português de Portugal. O português do Brasil ao qual considero a língua mais linda que já ouvi – disse-me ela.

Não serei eu que dela irá descordar!

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