- Vem cá tu!
- Vai lá tu!
- E páh!
- Ora pois!
São exemplos de expressões do cotidiano de Lisboa que me
soam como um congo desafinado aos ouvidos. O “e páh” está sempre no final de
toda e qualquer frase de uma narrativa mais empolgada.
Apesar de tudo, ouço o português com suas mesóclises,
próclises e ênclises. Na segunda pessoa do singular e com o verbo devidamente
flexionado à pessoa e a obedecer o tempo verbal.
Não sei de onde arrumam um “I’ e um “E”, que bem podiam ser
maiúsculos, para quase tudo. Doutor vira “Dotoire”, senhor vira “senhore”. Os
verbos seguem na mesma e fazer vira “fazeire”, botar vira “botaire”. Exemplos?
Eu vou ali “botaire” o arroz no fogo; Vem cá tu “botaire” o arroz no fogo; vai
lá tu a “botaire” o arroz no fogo.
Por vezes, danam a falar rápido comigo e apenas gesticulo
com a cabeça como se estivesse a entender alguma coisa quando, para mim, está a
falar a horrenda língua dos anjos propagada com orgulho pelo povo das assembleias.
E pra piorar, grande parte dos portugueses estão sem dentes. E quando digo sem
dentes digo todos os dentes. O tratamento por aqui é caríssimo e os produtos de
higiene bucal também. Quando se fala sem dentes e apenas com lábios a coisa
piora para mim e me pergunto se estou a ficar meio surdo já que nada que saia
de suas bocas-sacola consigo entender.
Ao meu ouvido me soa aberto e bem pronunciado é mesmo o
português do Brasil. Acho mesmo linda a sonoridade de nossa língua brasileira.
E sei que posso ser tido por preconceituoso, mas me dispo dele e, nem assim,
concluo coisa diferente. E no Rio, certa vez, muitos anos atrás, conheci uma
colombiana que morava em Chicago e que já havia morado em vários países mundo à
fora e que ali estava a estudar o português.
- Mas, não o português de Portugal. O português do Brasil ao
qual considero a língua mais linda que já ouvi – disse-me ela.
Não serei eu que dela irá descordar!
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