segunda-feira, 20 de junho de 2022

A Andorinha Ferida

As fitinhas do Senhor do Bonfim tremulavam nas portas do meu armário, quando ouvi um barulhinho não identificado, como se fora de um pequeno roedor a destruir o meu baú. 

 

 Abri a porta da varanda e lá, entre os vasos e plantas, uma andorinha, preta como carvão, se debatia. Uma das asas estava visivelmente machucada e o sangue podia ser visto em pequeninas poças no chão. Meu coração se compadeceu, como se eu pudesse sentir toda a sua dor e desespero. Recolhi-a com cuidado e a protegi entre minhas mãos, sentindo seu pequeno coração quase que a sair do peito. 

 

 -“Pequena andorinha… quantas vezes estive no teu lugar? ” Pensei, enquanto a colocava numa cesta de frutas e a cobria com um tapete.

 

Eu já estava mesmo de saída, para vacinar o meu cão, o Karl. Levei comigo a andorinha  para que fosse lá tratada ou para que os profissionais me fornecessem o número telefônico do SOS ANIMAIS, que aqui em Portugal existe e funciona.

 

Eu não sabia, mas era o feriado do Dia de Portugal. Voltava então para casa com a andorinha ferida. Eu iria localizar o SOS ANIMAIS e aguardaria pelo socorro. Não deu tempo. No meio do caminho da volta, a andorinha conseguiu sair da cesta e, quando percebi, ela voava baixo pela rua. Eu torci para que ela não batesse num imenso musgo ou nos prédios ali ao lado. Ela ziguezagueou e levantou voo, rumo ao céu azul, desaparecendo. 

 

Tantas vezes fui andorinha ferida, cansada, sem poder levantar voo. Não foram poucas as vezes que o Universo me mandou seus anjos a me socorrer. Quando não me apareceram  anjos, veio-me a força de superação . 

 

Quantos agora estão feridos, com fome, com frio, doentes? Enquanto os desprezamos, praticamos a nossa aparofobia. Qual o retorno, segundo as alegadas leis espirituais, a quem pratica tanto desprezo? E Jesus, o “vosso” mestre, como agiria? Um pão, um cobertor... ou de um prato de sopa, todos deveriam dispor. Não esperem por agradecimentos. Quem pratica o bem, à espera de gratidão, melhor que não o faça, porque o bem não está a fazer.

 

A andorinha deve estar agora a voar sobre o Tejo. Eu também!

 

 

 

 

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