quarta-feira, 19 de maio de 2021

Jamais por teus Olhos


Há quem não seja capaz de pensar por si só ou quem não seja capaz de olhar o mundo e tirar as próprias conclusões acerca de absolutamente tudo. O medo de errar e de ser cobrado, em tese, leva-os à busca por um líder, o qual pode lhes transportar por caminhos filosóficos ou por atalhos meramente
religiosos.

Pensar e refletir são atos que requerem certa coragem e equilíbrio. Antes de mais nada, é preciso a humildade de reconhecer que se pode estar equivocado sobre tudo o que, pretensamente, se sabe e, mesmo depois de muita análise, pode-se concluir errado. Não há problemas em nos percebermos equivocados nas conclusões. Problema há, todavia, quando a conclusão implica prejuízos materiais ou outros mais.

Quem não tem autonomia de pensamento não é dono de si próprio e há até quem se orgulhe em dizer-se parte de um rebanho de ovelhas ou de gado. Quem não se apropria das suas reflexões termina por ver a vida pelos olhos dos outros, em geral, espertalhões, que se aproveitam da ingenuidade e da ignorância alheias em benefício próprio. Muitos deles vivem nababescamente, no luxo de suas coberturas e de iates, enquanto ameaçam seus seguidores com um inferno imaginário e fantasioso post-mortem.

Aqui em Lisboa, onde vivo o momento, não sei por que razão ou motivo de saúde, existem muitos cegos. Vejo-os por todos os lugares, nas ruas, esquinas, cafés, mercados, lojas etc. Pegam ônibus, usam celular, internet e o escambau a quatro. A única ajuda que usam, com raríssimas exceções, é a boa e velha bengala quando ela bate no obstáculo do qual têm de se desviar.

Ainda ontem, vi um desses cegos a descer a ladeira da Rua da Aliança Operária, aqui onde moro, a andar muitíssimo rápido, parecia atrasado, eu diria que quase em desabalada carreira, dobrou a esquina e se foi pela rua cheia de obstáculos colocados pela prefeitura que está a revitalizar a área.

E vou ficar com um único exemplo, mas, apenas, para não os cansar. Eu teria uma dezena de exemplos a dar, mas se até os cegos andam a correr para lá e para cá, por que muitos dos amigos leitores precisariam de alguém a conduzi-los pela vida, quando enxergam e muito bem vocês próprios?

E fico a pensar naqueles que não têm a coragem de ousar uma única ação, por medo do que os outros poderiam pensar. Ainda dias atrás, por uma estratégia de marketing, para despertar a curiosidade dos caríssimos leitores, pedi-lhes que uma crônica minha não fosse lida e esperei que a minha recomendação fosse imediatamente desobedecida. Ocorre que alguns poucos leitores me perguntaram:
 
__ Se o senhor recomenda que eu não leia, então não lerei.

Ou algo como:

__ Mas o senhor poderia me dizer o porquê da proibição?

Penso que em casos extremos como esses, "o caldo entornou de vez" e é "caso perdido"! Seria por covardia ou preguiça que alguns se negam à ousadia de dar um simples passo por si mesmos? Medo de perder um céu no qual se acredita piamente, como se fosse uma criança de 5 anos que ainda acredita em duendes, Papai Noel, fadas madrinhas e mulas sem cabeça? Ou por que "deus tá vendo" a eles a desobedecer às instruções dadas nos sermões das suas igrejas? Não pensam esses indivíduos que aquele seu mestre que tanto lhes proíbe, quando não tem ninguém vendo, fazem exatamente aquilo que, sob ameaças, recomendam aos outros não fazerem?

Então, concluo esta crônica fazendo uma recomendação: ousem pecar ao menos uma vez! Façam-no, entretanto, convictos de que seria mesmo um pecado o que vão fazer. Ousem a desobediência e se entendam com o supremo e que, se quiser, venha ele próprio, em pessoa, reprimir ou castigar vocês.

Sejam vocês mesmos e nunca meros autômatos comandados pelos “outros”. Eu direi mais: arregacem as mangas, tirem este medo que lhes impuseram e que só existe nas suas cabeças; honrem o saco - para quem é de saco - que carregam entre as pernas! “Seja homem” - como diria a maioria dos nossos avós. Tomem posse de si próprios e sejam vocês mesmos exclusivos responsáveis por suas ações e atitudes. Evitem, obviamente, cometer crimes, eis a minha única recomendação.

- Pensem! Reflitam! - Não dói, eu lhes garanto!

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