Hoje, atrever-me-ei a falar sobre Fernando António Nogueira Pessoa
ou, como todos o conhecemos, Fernando Pessoa. Considerado um dos
maiores expoentes da literatura em língua portuguesa e reverenciado em
todos os países de cultura lusófona, como tal, despejou talento e
competência em todas as vertentes em que engenhou sua arte.
Assumiu, pelo menos, quatro heterónimos, ou seja, escrevia sob
nomes autorais fictícios e dava a cada um deles um estilo próprio, o que
lhes criava personalidades distintas.
Foi prematuro na arte da poesia e já aos seis anos, em 1894, escreveu:
À Minha Querida Mamã:
Ó terras de Portugal
Ó terras onde eu nasci
Por muito que goste delas
Gosto ainda mais de ti
Foi poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, inventor,
comentarista político, empresário, correspondente comercial, crítico
literário e até, por incrível que pareça, astrólogo. Isso mesmo, astrólogo! Nesta crônica, pois, quero me concentrar nesse Pessoa, o Astrólogo.
Em Portugal, a Astrologia é profissão reconhecida, seus operadores
emitem recibos e notas fiscais, pagam impostos e, como operários dos
astros, aposentam-se, sim senhor.
É do Pessoa, todavia, que quero vos falar e é, assim mesmo, nessa
intimidade toda, que o chamamos pelo mundo afora.
- E que te pareces o Pessoa? - pergunta qualquer um numa prosa informal
e logo se conclui que se está a perguntar do grande Fernando Pessoa.
Talvez, os caríssimos leitores não saibam que era ele astrólogo - e dos
bons -, dizem os registros. Diga-se, por oportuno, que eu até acredito na
interferência dos astros como, por exemplo, na influência magnética da lua
nas marés e na migração de animais marinhos, ou do sol sobre as estações
climáticas etc., mas não acredito que se possa ler o futuro, ao menos o
futuro das pessoas, por meio deles, muito menos nos quesitos amorosos.
Consta que realizou mais de 300 horóscopos. Há quem afirme tenha
sido mais de 1.500. Há que se considerar que um mapa astral levava em
torno de 7 horas para ser produzido. Um mapa astral requer uma centena
de cálculos matemáticos que, naquele tempo, eram feitos à mão. É de se
indagar: e Pessoa ganhou algum dinheiro como astrólogo? Sim. Ele
cobrava pela consulta; não era uma brincadeira ou uma mera curtição.
Pessoa, aliás, criou um heterônimo para atuar como astrólogo.
Raphael Baldaya foi o nome escolhido. Recebia sua clientela com preços
pré-fixados em uma tabela e, ressalte-se, chegou a prever a data da própria
morte. Diga-se que quase a acertou.
Pessoa era criatura das mais fascinantes, segundo consta. Chegou a ter
quatro heterónimos, para assinar aquilo que o alter ego escrevia. Há quem
afirme que seus quatro heterónimos foram inspirados nas quatro estações
do ano e por influência da sua astrologia.
Como Raphael Baldaya, Pessoa escreveu diversos textos sobre
astrologia e dizem que sua encarnação em Baldaya era de matar de rir.
Descrevia ele o tal astrólogo como um homem de longas barbas brancas e
o qualificava também como místico e sebastianista*, - vejam só!
Alberto Caeiro, Álvaro Campos e Ricardo Reis eram os outros três
heterónimos de Fernando Pessoa. A cada uma dessas personalidades
fictícias criava uma data de nascimento, uma profissão, formação etc., e
eles comunicavam entre si. Um chegava a ser discípulo do outro e tal - mas,
veja bem, tudo isso na ficção criada pelo verdadeiro Pessoa.
Vez por outra, quando ao passar pelo emblemático bairro do
Chiado, em Lisboa, eu paro no Café A Brasileira, onde uma estátua do
Pessoa lhe faz homenagem. Ali tomo um café, ou cerveja, só para ter o
prazer de também pisar aquele que foi um dos lugares prediletos do gênio
literário que nos legou um patrimônio comum de cultura, em língua
portuguesa.
Não pensem, caros leitores, que sou especialista em Pessoa ou que já
li todos os seus livros. Não é esse o caso. Sei, porém, da dimensão de quem
falo e, diante de tamanha magnificência, rendo-me e o aplaudo de pé.
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