quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Santa de Mafra

Trabalhar por aqui em terra estranha nunca foi uma intenção minha. Eu já estou a entrar na terceira idade e tenho minha aposentadoria que me garante um presente de conforto e a segurança de um futuro nas mesmas proporções. Entretanto, a convite, me inscrevi numa agência de figuração e o fiz sem grandes expectativas que não a de por algum trocado à mais no bolso e de ter certa obrigação de vez em quando porque sem compromissos a vida pode até perder algum sentido. Mas, e não que a coisa tem caminhado melhor do que eu esperava. Fui convocado - não ouso dizer "convidado" porque isso para as estrelas já estabelecidas - para fazer figuração no filme "Fátima", produção hollywoodiana com atores ingleses, espanhois, brasileiros - Sonia Braga fará a Irmã Lucia já adulta - e que tem á frente os diretores italianos  Edoardo Ferreti e Mario Pontecorvo. Já lá se vão mais de dez dias de muito trabalho que pode começar às 4 da madruga e se estender até às 22h. Sob sol intenso e na secura desértica que vira Mafra em Portugal nessa época do ano ou a levar banhos, muitos banhos, de banheira de mangueira de bombeiros que simulam um dos milagres da Santa do Rosário de Fátima, segundo a lenda. Vi marmanjos a desmaiarem como jaca podre a cair do pé depois de algumas horas imóveis e em fila para o perfeito enquadramento da câmera. Vi um drone a se fazer de sol e toda uma multidão, ao comando, desembestar morro acima e morro à baixo, a fugir do astro regente que caia sobre todos depois de um dilúvio, de dançar aos céus e de ficar multicolor como se um caleidoscópio fora. O café que aqui é o pequeno almoço, o almoço, os lanches todos eram servidos sob tendas calorentas e que em nada protegiam da poeira constante. Tudo se passou no Parque Nacional da Tapada de Mafra. É uma área verde que também é zona de caça nacional. São 1187 hectares de área, toda protegida por um muro de 21 km de extensão que conta com grande diversidade de espécies animais e vegetais, sendo a área regulada e de acesso pago. Criada em 1747, no reinado de D. João V e na sequencia da construção do Palácio de Mafra que lhe é contíguo que tinha a função inicial de lazer real que consistia da caça. Atualmente a caça é feita de forma regulada e limitada. A fauna consiste de gamos, veados-vermelhos, javalis, lobos-ibéricos, raposas, doninhas e ginetas. Pássaros que podem ser águias, perdizes, rouxinois e muitas especies mais. Anfibios como salamandras, tritões verdes, lagartixas e víboras podem ser encontrados nas zonas mais úmidas do parque. Os gamos, veados e javalis são dóceis ao ponto de virem comer frutas ou sementes nas mão de quem lhes oferece, embora a prática seja proibida pelas normas do parque. Certo é que é divertido desde os onibus lotados de figurantes a cantar e dançar um gira ainda durante a madrugada e com uma portuguesa na qual quase vi um bigode a animar a todos com sua dança coreográfica digna da Praça da Alegria ou de um episódio dos Trapalhões. Já tarde da noite e esgotados todos fazemos o mesmo percurso de volta a Lisboa ainda sob a mesma animação e com alguns componentes à menos depois de terem desmaiado durante a filmagem. Mas, o cachet é ótimo e a alegria é uma opção de quem não quer ver outra coisa que não o fato de estar vivo e desfrutar de tudo isso. 










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