sábado, 1 de setembro de 2018

Um Ovo chamado Preguiça

Em meu retiro não voluntário chamado preguiça não encontro inspiração para escrever sobre nada. Sinto inveja da Clarice Lispector que quando sem inspiração escrevia sobre o primeiro objeto que lhe chamasse a atenção. Tem um texto dela sobre o ovo. Um quase tratado sobre um ovo. Sim, um ovo. E aqui com uma mesa bagunçada e com tanta riqueza de objetos. Até uma cuia de bambu com uma banana dentro. E olha que a banana já inspirou todas as artes, da pintura à musica, da arquitetura ao cinema e até na pornografia é fruta recorrente. Só me vem a preguiça que me impede botar cada coisa em seu lugar. E sei que a preguiça é pecado capital. A cidade está muito quente e quero culpar à natureza. Ma, sei que é fuga mentirosa. É preguiça mesmo! Assumo! Estou empolgado com algumas viagens já prontas e que farei logo e que espero, me tirem desse estado de letargia. Confessar pecados, ainda mais quando capitais, é sempre arriscado inclusive se ao padre. Padres sempre preguiçosos que te darão uma penitência de passar alguns dias de joelhos sobre o milho quando ele próprio, como o macaco, está sentado sobre o rabo. Padre é profissão sim e para gente preguiçosa e covarde. O padre é sempre aquele indivíduo a fugir de sua própria estória ou do monstro que carrega em si. É aquele indivíduo que quer uma sombra de árvore mas que não tem coragem de plantar uma. O mesmo serve para o pastor. Pastor é profissão. Imagine se alguém lhe pergunta: qual a sua profissão? e você responder: Pastor. Eu morreria de vergonha de ter tal profissão. Mas, estou a sair do foco já que é da minha própria preguiça que estou a falar e não da preguiça do padre. Mas, que interessante a preguiça do padre. Uma hora escreverei sobre ela. Até porque me lembrei de um deles que era o responsável por uma paróquia perto da minha casa. O típico pançudo que sentava nos degraus das escadas e ficava a bocejar por todo o dia enquanto vigiava a vida dos rapazes que viviam ali em regime de internato. Eu nunca fui preguiçoso. E digo sem medo de estar a vos mentir. A minha vida sempre foi de muita labuta e desde muito menino já ia para a roça a ajudar meu pai a capinar o arroz. Aos 14 anos já estava a trabalhar a varrer uma loja na minha cidade e antes disso, juntamente com meu irmão mais velho, trabalhei em olaria a fazer tijolos, em carvoaria, a quebrar pedras etc... aos 16 anos minha carteira profissional já estava assinada e aos 18 anos estava aprovado em concurso na capital federal do Brasil e em atividade que sempre requereu muita disciplina. Mas, hoje... aposentado... com esse tempo quente... com a vida ganha... sem preocupações já que o dinheiro para pagar as contas é certo... acordo tarde e com dificuldade. Talvez seja mesmo a idade. Não sei. Escrever é ato tão prazeroso quanto comer manga madura e se lambuzar com ela. Mas, nessa preguiça me falta a inspiração. Vontade sempre tenho. Mas, fico a buscar o ovo da Clarice e não acho. Por fim desisto e me entrego à minha indolência. Ligo a tv e deslizo os dedos o dia inteiro no controle remoto a buscar algo interessante. Hoje achei um ovo chamado preguiça e olhe no que deu! Mas, o ovo bem que podia ser a banana!

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