sábado, 9 de abril de 2022

Sol de Prata

Quando adentramos a tradicional A Padaria Portuguesa, na Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, percebi um nevoeiro. Nevoeiro nesta época de primavera, por aqui, é coisa do quotidiano. Percebi, entretanto, uma atmosfera um tanto quanto diferente.


- Um dia o sol vai se apagar e tudo vai ser escuridão - Ouvia eu quando ainda criança, no Centro Velho dos Protestantes. A profecia apocalíptica estava na bíblia, dizia-se.

A Padaria Portuguesa é uma rede de estabelecimentos de panificação em que pão quase nem se vende. Tratam de vender doces; salgados variados; sandes, que são a versão lusa do clássico sandwich; saladas; pratos rápidos e prontos. Tudo a preços mais ou menos populares. A padaria está sempre cheia de clientes a comer e a bebericar em suas mesas. O ambiente é até elegante, e a vista dos seus salões, em geral, dá para a rua. Na da Marquês de Pombal não é diferente, entretanto, os vidros pelos quais se veem a cena exterior impedem a clareza.

Quando saímos do referido ambiente, cerca de uma hora depois, dei de cara com uma cena alaranjada que mais parecia um filme dos anos 60. Havia, então, uma paralisação. Parecia que não se viam mais pessoas nem mesmo o trânsito intenso daquele local.

- Isso é um nevoeiro? - Perguntou-me o amigo brasiliense, a quem eu mostrava a cidade.

- O que é aquilo? - Indagou-me enquanto apontava para uma esfera, que mais parecia uma bandeja de aço inox no céu.

sol podia ser encarado  como se encara a lua, sem qualquer proteção aos olhos. Estava ali, muito perto do chão, dava- nos a falsa impressão, e nós nos perguntávamos, várias vezes, se era mesmo o sol ou um drone.

As fotos e os vídeos que fizemos estavam todos numa cor alaranjada, que mais pareciam resultado de um filtro qualquer.

Ao chegarmos a casa, na TV, todos os telejornais davam a notícia de que uma nuvem depoluição arenosa, vinda do deserto do Saara, a quase 5 mil quilômetros daqui, pairava sobre Lisboa. A recomendação era de que todos ficassem em casa, de portas e janelas trancadas.

Já agora, enquanto lhes escrevo esta crônica, estamos sob nova nuvem de areia, também oriunda do mesmo deserto

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