quinta-feira, 22 de julho de 2021

Sopros de Milagres

SOPRO 1

 

Cortinas de veludo vermelho escarlate

Pesadas, rasgadas, manchadas e velhas

Tentam esconder a luz que revelaria todas as tuas vergonhas

As tuas cicatrizes, o teu rosto roto, marcado pela velhice

Cavidades  profundas, a tua boca sem dentes

O teu corpo corcunda pelo peso da mente 

que mente a própria idade

O teu olhar triste em tua cara carente

Nada disso te redime

Tu precisas te esconder da tua humana falência

Não suportas a luz da verdade 

Bendita perda de memória 

Sopro de milagre que tudo apaga, até os teus tolos pecados

 

SOPRO 2

 

Você se joga de um imenso precipício com asas mecânicas,  conduzidas por algum tipo de combustível. Você sabe que o combustível não é suficiente para o seu pouso em segurança. É muito provável que ele se esgote antes do fim do percurso. Mesmo assim, você se lança no voo da esperança de que, até a queda fatal, você verá tudo o que é de bom, todas as primícias da terra e todas as paisagens que você sequer imaginou. E você espera por um sopro de milagre no qual possa pousar suavemente e em completa segurança. Assim é a vida. Assim é o amor. A gente se apaixona muitas vezes por uma pessoa errada. A gente sabe que a pessoa não nos serve.  Que ela não estará conosco. Ainda assim, a gente ama, a gente se dedica,  a gente acredita que está a acontecer alguma coisa, algum sentimento que, na realidade, só está em nossas cabeças. Mesmo assim, insistimos na esperança de que, em algum momento, num sopro de milagre, a vida nos dê aquilo que tanto queremos: amar e ser amado!

 

Wan Lucena

 

 Esta crónica foi publicada originalmente na Revista Eletrónica Turma da Barra a quem muito agradecemos

https://www.facebook.com/jornalturmadabarra/posts/1992447280920651



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