SOPRO 1
Cortinas de veludo vermelho escarlate
Pesadas, rasgadas, manchadas e velhas
Tentam esconder a luz que revelaria todas as tuas vergonhas
As tuas cicatrizes, o teu rosto roto, marcado pela velhice
Cavidades profundas, a tua boca sem dentes
O teu corpo corcunda pelo peso da mente
que mente a própria idade
O teu olhar triste em tua cara carente
Nada disso te redime
Tu precisas te esconder da tua humana falência
Não suportas a luz da verdade
Bendita perda de memória
Sopro de milagre que tudo apaga, até os teus tolos pecados
SOPRO 2
Você se joga de um imenso precipício com asas mecânicas, conduzidas por algum tipo de combustível. Você sabe que o combustível não é suficiente para o seu pouso em segurança. É muito provável que ele se esgote antes do fim do percurso. Mesmo assim, você se lança no voo da esperança de que, até a queda fatal, você verá tudo o que é de bom, todas as primícias da terra e todas as paisagens que você sequer imaginou. E você espera por um sopro de milagre no qual possa pousar suavemente e em completa segurança. Assim é a vida. Assim é o amor. A gente se apaixona muitas vezes por uma pessoa errada. A gente sabe que a pessoa não nos serve. Que ela não estará conosco. Ainda assim, a gente ama, a gente se dedica, a gente acredita que está a acontecer alguma coisa, algum sentimento que, na realidade, só está em nossas cabeças. Mesmo assim, insistimos na esperança de que, em algum momento, num sopro de milagre, a vida nos dê aquilo que tanto queremos: amar e ser amado!
Wan Lucena
Esta crónica foi publicada originalmente na Revista Eletrónica Turma da Barra a quem muito agradecemos
https://www.facebook.com/jornalturmadabarra/posts/1992447280920651
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