quinta-feira, 25 de março de 2021

Cabe todo o Brasil em Portugal

O número de brasileiros em Portugal, por conta da pandemia, diminuiu drasticamente. Mas não só por conta da pandemia, mas também por conta da deterioração da economia brasileira que desvaloriza o Real ante o Euro e muitos eram os aposentados que, como eu, viviam por aqui. 

A economia portuguesa e a europeia como um todo, sentiu o baque da pandemia e muitos são os empresários, pequenos ou grandes, brasileiros ou não, que estão em situação de desespero. Nem todos conseguem acesso às ajudas do Estado português e as contas se acumulam a cada dia. Muitas lojas foram encerradas e os imóveis para aluguel estão vazios muitos deles.

Apesar de tudo, muitos são os que resistem bravamente. Aqui pertinho de casa tem um pedainho de Brasil onde a pastelaria se chama Skina Brasil e dono é um mineirinho gente boa e cuja esposa é dona do salão de beleza para senhoras logo ao lado. Já o Ricardo é um quase um garoto, mas jovem de coragem e visão. É o dono do Ricardu´s Barber Shop, a barbearia onde corto o cabelo com o Rodrigo, barbeiro dos bons, brasileiro também de Minas, uai!

O Ricardo agora passa 15 dias dentro da boleia de um caminhão a viajar pela Europa. Da última vez que cortei o cabelo com ele já não foi na barbearia porque ele já não consegue mais dar expediente por lá e agora, só quando está por aqui, atende na própria casa. E foi na casa dele que tomei um cafezinho passado no saco que só o brasileiro sabe tirar.

Mas, naquele pedacinho de Brasil em Portugal se ouve o bom mineirês, principalmente. E no Skina Brasil como uma deliciosa coxinha só pra matar a saudade do meu país. 

- Hoje tem vaca atolada! - anuncia o proprietário para quem quiser ouvir nas redondezas.

Mas, a verdade é que Lisboa já não está tão babilônica. Diminuiu a quantidade estrangeiros a viver em terras lusas e a comunidade brasileira foi das mais prejudicadas. 

A comunidade estudantil universitária é outra que sentiu o baque. Alem dos estabelecimentos de ensino fechados, os alunos não conseguiram se manter por aqui e tiveram que voltar para o Brasil. 

Mas, naquele pedacinho de Brasil localizado da Boa Hora, na Freguesia da Ajuda, aqui pertinho de casa, fica sempre um punhado de gente a bebericar o café ou a beber uns copos. O cigarro está entre todos os dedos e não só dos frequentadores do Skina Brasil mas dessa Europa inteira. E aqui quase não se faz campanha contra o cancer de pulmão. Não sei se porque o cigarro daqui não causa cancer ou se porque a industria do tabaco se impõe. Certo é que aqui é dificil achar quem não fume. E o mais interessante é que a carteira de cigarros é caríssima  e o mais vagabundo deles não sai por menos de 5 Euros, ou seja, mais ou menos 35 Reais.

- Olha que a fornada de pão de queijo tá saindo já já - grita de novo o dono do Skina Brasil. E todo mundo quase entra em polvorosa enquanto se anseia pelo bom pão de queijo do mineiro.

E jã a voltar para minha casa, na descida do Jardim do Rio Seco, me para ao lado um carro e uma rapariga linda me pergunta em bom português de Portugal:

- Olhe! Com licença se faz favor! Como faço para chegar naquele local aqui perto que foi todo revitalizado por agora?

- A senhora está a procurar o Largo da Boa Hora. A senhora segue por essa rua, dobra ali para direita e depois para a esquerda. Não passe por baixo do arco. Pegue o trilho do Elétrico e a senhora já vai chegar lá. É bem aqui pertinho - informei-lhe eu com minha simpatia brasileira de momento.

- Brasileiro! - falou com um sorriso farto e gentil - Há! Esse Portugal precisa é se encher de brasileiros pra ver isso melhora um bocadinho  - concluiu enquanto engatava a primeira - Muito obrigadinha e boa tarde! - e seguiu.

Eu desconfio que ela não sabia bem o que dizia. Espero que a pandemia acabe logo e que as coisas voltem aos seus lugares e que esse Portugal volte a se encher de todo mundo, inclusive de brasileiros.

Deixemos o Brasil daqui restrito ao pedaço do Skina Brasil e já está bom demais. E viva o Brasil! E viva Portugal!


Wan Lucena

 

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