segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Português Bonito é o do Brasil

E eu bem sabia que teria alguma dificuldade de adaptação por aqui. Nova cultura, novos hábitos e, porque não, uma nova língua já que o português de cá é mesmo bem diferente e quase nada entendia quando por aqui cheguei. E sequer sei se já me adaptei. E nem sei se quero me adaptar ao ponto de se dizer: nossa! mas ele é um português ate o ultimo fio de cabelo! - eu gosto mesmo é da minha brasilidade e vos digo mais: aqui eu ouço o o português de todas as ex-colónias, inclusive, de Timor Lorosae, a terra do sol nascente. E vos digo: português mais bonito que o do Brasil não há neste mundo.

Tem sim toda uma questão comportamental e de etiqueta diferentes do Brasil. Mas, o que mais me chama a atenção é certa falta de empatia que se manifesta num monte deles, mesmo que funcionários pagos para nos atender. Pode ser o Caixa do mercado ou um funcionário publico daqui. E sim, tem preconceito com brasileiro. E sim, os brasileiros vieram aqui e fizeram um monte de besteira, inclusive, cometeram diversos crimes. Fizeram empréstimos no sistema bancário daqui e voltaram para o Brasil sem pagar, ouvi dizer. 

Mas, se no Brasil eu já teria mandado um bocado deles para aquela senhora que pare sem que se saiba quem seria o pai do rebento, por aqui o buraco é mais em baixo e volto pra cara com minha cara de tacho sempre que me ocorre um incidente desses. Meu desafio por aqui no momento é sair de casa mudo e voltar calado já que, qualquer tentativa de contato, pode virar um quiprocó danado. Até o gesto altruísta de dar uma moeda a um faminto pode sofrer a reprimenda de um lisboeta que assista a cena.

- Mas opá! Isse é um vagabundo que só vive a pedir - pode dizer um português de poucos dentes na boca, senão um completo desdentado.

E quando uso o termo "desdentado" é porque salta aos olhos mesmo ver tanta gente sem um único dente por aqui. E há sim explicação para o fato. Tratamento dentário por aqui pode custar uma fortuna e os produtos de higiene bucal também não custam qualquer bagatela. Um tubo de creme dental dos menores não sai por menos de 3€ - € igual a Euro - ou seja, cerca de 21 Reais. E, ademais, é comum o desleixo que leva os jovens que preferem um chiclete para mascar a levar o material de higiene para o trabalho.

Claro que tem uma questão de higiene pessoal também. E sei que que no Brasil também muito carecemos desses cuidados muitas vezes e que nem sempre se tem um Rio Corda aos fundos da casa para se tomar três ou mais banhos diários e sem nada pagar por isso. 

Aqui tem a questão climática que, no inverno - Jesus! - é mesmo frio. Eu fico 3 meses de inverno quase que em completa hibernação e até um cão tive de adotar só pra ter a obrigação de ter de sair da cama para poder sair com ele para as necessidades fisiológicas inerentes. Entrar debaixo da ducha, achar a temperatura adequada... por vezes um acidente e um maldito balde de agua quase congelada nos faz ir aos píncaros. E Portugal não é sequer dos países mais frios da Europa. Mas comprei um pequeno aquecedor que ponho quarto e que em muito ajuda a passar pelo período da hibernação. 

- Mas, alto lá! - e aqui eles adoram essa expressão "alto lá"- não vou ficar a vos relatar agruras ou a reclamar dessa cidade que considero mágica, quase perfeita e que até um Castelo de São Jorge, bem aos moldes medievais, está bem ali pra todo mundo ver, imponente, no cume de um dos sete montes que compõem a cidade e que já foi residência de reis, rainhas, príncipes e princesas. E penso que se o Castelo é de São Jorge até um dragão já viveu por aqui.

E gosto mesmo é de sair à pé, zanzando por horas a fio, subindo e descendo ladeiras, dobrando esquinas e tomando um café - sempre expresso - aqui outro acolá. Saio cedo, por vezes, sempre a fazer caminhos diferentes, a buscar cenas inusitadas. Fotografo um bocado de coisa e publico nas minhas redes sociais. E de certo que penso que olhos barra-cordenses estarão a ver essa belezura toda, a apreciar e sonhar - como eu também sonhei - em por aqui viver ou visitar. 

As regras de convivência existem e se não são cumpridas, a multa não é pequena e tem de ser paga na mesma hora ao fiscal. É o caso de andar nos ónibus públicos sem pagar. Aqui não temos cobrador de ónibus e todos usam um cartão recarregável que passam nas maquinetas dentro do transporte. 50€ - cerca de 350 Reais - é o valor inicial da multa. Não tem dinheiro na carteira? Desce do transporte e vai ate o caixa eletrónico em companhia dos fiscais. Não tem dinheiro para pagar a multa? Recebe o termo de autuação já com a data de apresentação ao juiz de direito. Em poucos dias, menos de mês, e já se estará a enfrentar o homem da capa preta.

Já está a valer a nova lei para quem jogar "beatas" ao chão. E beatas aqui não são as senhoras carolas que vivem dentro da igreja, mas as guimbas dos cigarros. 80€ - cerca de 480 Reais é o valor da multa. 

Mas, para concluir e por falar na hibernação - aquele período de meses que ursos apenas dormem - as coisas ficaram piores com o advento do COVID-19. Fiquei sessenta dias sem quase por o pe fora de casa, mesmo que nem fosse o período de frio. E acaba de ser decretado Estado de Calamidade em todo o Portugal por causa da mesma pandemia. 

Benditas devem ser as aguas do Rio Corda na qual meninos se jogam das pontes, felizes e a fazer malabarismos dignos de um Cirque du Soleil e, talvez... quem sabe... com ajuda divina, tais águas bem podiam imunizar nossa gente.

Wanderley Lucena








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