quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Caminho Inverso

Ontem no Roxy Bar na Praia do Francês - uma espécie de estação intergalática onde se reunem os seres mais esquisitos - o clima ficou tenso entre os serviçais. O local é território quase que italiano. O idioma oficial deixa de ser o português. E na Itália existem diversos dialetos. Por vezes, nem os próprios italianos se entendem. Boa parte deles faz a mulherada babar com tamanha beleza. Outros são verdadeiros ogros. Quando são brutos não perdem em nada para os nativos locais. 

A cada dia chegam mais italianos e, dentre eles, faz uns dois meses, chegou Giuseppe. Trata-se de figura ágil e de voz firme e gestual exagerado, tipicamente italiano, que insiste em não aceitar a cultura da preguiça que está impregnada na nossa gente, infelizmente. Eu que sou brasileiro nato e me orgulho muito disso, sinto grande dificuldade  e vergonha ante a indisposição generalizada de nossa gente. 

O pessoal do Roxy considera o labor uma maldição. Desde o momento em que saem de suas casas a única coisa que desejam com sofreguidão é o momento em que põem suas mochilas nas costas e saem apressados para pegar o ônibus e voltarem a fazer nada em suas residências.

Giuseppe insiste em não calar-se ante o que considera pura falta de vontade dos colegas gorçõns como ele. Aos berros e com dificuldade de ser entendido, tenta fazer a engrenagem enferrujada do serviço andar. Eu ontem o avisei que sua luta era hercúlea e inglória e dela sairia perdedor. Que deveria relaxar e entregar-se à corrente. Está no nosso sangue essa indolência que não aceita melhorar e nem aprender nada. A garçonete oponente da vez á Guiseppe é moça com cara de Maria Bonita, musculosa e de sorriso fácil e farto. Corre daqui para lá e de lá para cá com boa vontade. Giuseppe conseguiu a antipatia geral e sofre boicote por todos os lados e forma constante. 

A moça Maria Bonita não se intimidou ante os berros de Giuseppe que lhe mandava fazer determinada coisa de tal modo e não da maneira que ela estava a fazer. A moça o enfrentou com punhos cerrados e o expulsou do recinto. Foi bate-boca duradouro e em alto e bom som. Confesso que fico bastante incomodado e constrangido ante tais cenas diárias. Achei que ia sair porrada. 

Vamos até quando Giuseppe aguentará. Até que ponto manterá a sanidade mental. Eu já estive em seu lugar e, apesar de concordar ipsi-litteri, com ele, informei-lhe que ele estava em nosso país e que não iria conseguir alterar essa ordem inversa de valores laborais brasileiros. Que, acima de tudo, ante o choque cultural, deveria abster-se e respeitar tais limitações que nos estão inseridas.

Já estive em seu lugar, meu caro Giuseppe. Desisti! Farei o caminho inverso ao seu e me vou para o velho continente onde resta alguma displina. 


Wanderley Lucena

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