terça-feira, 11 de outubro de 2011

DONA FIFI


Dona Fifi chegou no condomínio dizendo-se madame de fino trato, mulher de berço nobre, oriunda de família riquíssima, tinha nome e sobre-nome. Quis ser recebida com tapete vermelho e ser reverenciada. Quis ser amada como se rainha sueca. Fazia questão de apresentar-se como a esposa do Sr. Conde de Chaterley. Espalhou aos quatro ventos que tudo na sua casa era do bom e do melhor e que o piso de sua casa era de madeira de lei. 

Lady Fifi sentiu-se enfada e enjoada por não receber para o chá das cinco nenhum dos seus súditos. Ninguém a visitava nem a chamava para tomar um café. Passou a procurar encrencas com todos os vizinhos e a reclamar de tudo e de todos. Desde a música moderna do filho do serviçal aos constantes sorrisos de felicidade da moça solteira e independente que morava em frente à sua casa. 

Ela ouvia os rumores de alcova da casa apegada à sua e não suportava que na sua casa, o marido inválido, não a satisfizesse. Se mordia de inveja. A vizinha estava visivelmente feliz e bem amada enquanto ela padecia de carência. Embora o marido tentasse entrar na onda de Dona Fifi, sua debilidade e apatia não permitiam o mínimo esforço. Ademais, Dona Fifi era nada atraente e até o marido já estava desconfiado que havia entrado numa fria ao casar-se com ela. O Conde tinha uma deficiência sanguínea que impedia-lhe que os músculos se enrijecessem. O constrangimento era visível e ela desistiu de vez de tentar seduzi-lo.

Dona Fifi passou a comer desesperadamente tentando preencher o seu vazio interior e suas formas já rechonchudas, cresceram ainda mais e ela já andava com certa dificuldade.

As senhoras distintas e discretas da comunidade não a suportavam e os seus maridos passaram a ordenar que elas a evitassem. Todos já sabiam ser Dona Fifi uma farsa total. Todos passaram a evitá-la, pois, tamanha era carência de Dona Fifi que ela passava horas a falar sem parar com quem lhe desse algum ouvido.

Dona Fifi chorou e esperneou porque não lhe davam atenção. Por fim, se disse mulher muito fraca e que seu marido estava muito doente. Que tinha alergia a poeira, cheiros fortes, produtos químicos de todas as espécies.Era agora hipocondríaca. Não podia ela ser contrariada ou perturbada. Pretendia ela com tal chantagem, despertar a piedade de quem a via. 


Mas já era tarde. Ela perdera todo o prestigio. Prestígio que nunca tivera, diga-se. Ninguém lhe dava mais atenção alguma e ela passou a ser motivo de comentários e chacotas. Dona Fifi era, afinal, uma uma grandessíssima fofoqueira encruada e invejosa. Ela era mesmo, na verdade, uma coitada. Mas ninguém sentia a menor dó da coitada. É que Dona Fifi era mesmo muito chata e repetitiva. As suas reclamações já se repetiam e sua conversa era pura ladainha enfadonha .


A dita Senhora passou então a desprezar quem a desprezava e disse a todos, em um blefe, que se mudaria do condomínio pois não aguentava conviver com aquela gentalha. No entanto, sua casa nunca foi anunciada e quem quis comprá-la desistia quando a madame informava o preço três vezes acima do que o imóvel mais valorizado da região. Era mesmo um engodo a Lady Chaterley, a Dona Fifi.


Wanderley Lucena

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