quinta-feira, 2 de junho de 2011

A COSTUREIRA E O CANGACEIRO - (Eu recomendo)



A escritora Frances de Pontes Peebles, 30 anos, foi criada em Miami, uma das capitais mais urbanizadas dos EUA, e se formou na Universidade do Texas. Sua genealogia, no entanto, remete a um local a milhares de quilômetros de distância: uma pequena cidade brasileira chamada Taquaritinga do Norte, no interior de Pernambuco. Lá nasceu sua avó, de quem Frances cresceu ouvindo as incríveis histórias a respeito de uma infância em uma terra habitada por figuras impressionantes como coronéis e cangaceiros. Foram essas lembranças familiares que formaram a escritora: o Brasil dessas memórias, acrescidos de uma irrepreensível pesquisa histórica e dos dotes de uma contadora de histórias inata, deu origem a seu romance de estréia. A costureira e o cangaceiro, escrito em inglês e traduzido para o português pela Editora Nova Fronteira, conta a história de duas irmãs que, na caatinga do final da década de 1920 e começo de 30, acabam sendo carregadas por rumos contrários. Aldous Huxley escreveu que “a memória de cada homem é sua literatura privada”; em A costureira e o cangaceiro, Frances transforma a memória de sua família em literatura a ser compartilhada com leitores do mundo inteiro.


As órfãs Emília e Luzia foram criadas pela tia, a melhor costureira da cidade, e logo aprenderam brilhantemente o ofício. Porém, apesar de terem recebido a mesma educação, não poderiam ter personalidades mais distintas. A delicada Emília desde cedo se mostrou sonhadora e ambiciosa. Seu maior desejo sempre foi se casar com um rapaz de boa família, para assim conseguir escapar para a capital e viver em um mundo como o das ilustrações que a maravilhavam ao folhear a revista Fon Fon. A caçula Luzia, por outro lado, era mais conectada ao solo de Taquaritinga. E um acidente durante a infância provocou uma deformação que a deixaria ainda mais brutalizada e isolada do convívio social: com um braço permanentemente dobrado, foi apelidada de Vitrola e ficou marcada como uma mulher sem futuro.
A distância entre as duas se torna física quando um bando de cangaceiros, liderados pelo infame Falcão – assim chamado por ter, como a ave de rapina, o hábito de arrancar os olhos de suas vítimas –, de passagem pela cidade, invade a casa das costureiras em busca de roupas novas e leva Luzia consigo. Assim, enquanto Emília se casa com o filho de um médico influente e vai morar em Recife, Luzia torna-se esposa de Falcão, formando o casal mais temido de toda a caatinga. Na cidade grande, porém, Emilia se deparará com preconceitos e decepções, ao passo que sua irmã encontrará um sentido para a vida em sua rotina itinerante como cangaceira. Mas, mesmo em lados tão opostos, suas vidas permanecerão eternamente conectadas.


O ponto de partida do romance é autobiográfico: o nome da avó de Frances – que realmente se casou com um homem de família abastada do Recife – era Emília e uma de suas seis irmãs se chamava Luzia. Além disso, todas eram costureiras. Mas, segundo a autora, o restante é pura ficção. “Sempre quis saber mais sobre as mulheres que acompanhavam os cangaceiros em seus bandos, mas não consegui encontrar muita coisa a respeito”, afirma a autora. “Apenas uma mulher, Maria Bonita, foi estudada a fundo. Essa falta de informação me fez pensar em minha avó e tinhas tias-avós, que viviam na zona rural na época do cangaço e eram o tipo de meninas que poderiam ter sido sequestradas e forçadas a ingressar em algum bando. Elas conseguiram escapar desse destino, mas o que aconteceria se não tivessem conseguido? Essa pergunta foi a fonte de inspiração para o meu romance.”
Utilizando a Revolução de 1930 e a Era Vargas como pano de fundo, Frances de Pontes Peebles narra – com leveza, suspense e inteligência – um verdadeiro épico. A costureira e o cangaceiro chegou a ser comparado a E o vento levou, de Margaret Mitchell: uma saga romântica e familiar ambientada em um país em transformação.


SOBRE A AUTORA
Frances de Pontes Peebles nasceu no Recife, Pernambuco. Formou-se em Letras pela Universidade de Texas em Austin e fez o seu mestrado no Writer's Workshop na Universidade de Iowa. Atualmente mora em Chicago, Illinois.
Fonte: Approach

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