Comi todo mundo
Todo mundo me comeu
Todo mundo se comeu
Ninguém era dono de ninguém
Era carnaval
Era bacanal
Nem era real
Era mesmo só poesia
Banal
E era carne fresca cheirando a sangue
E sei que também fui servido naquela mesa farta
Não sei se meu sabor era doce ou amargo
Mas me saborearam
E lamberam-se beiços e dedos
E nesse lambe-lambe
Lambi cavidades e protuberâncias mil
Sem nojo
Sem repulsa
Todo mundo se deu bem
Voltei para casa farto
Quase a explodir
Fui glutão
Pierrôs e Colombinas se empanturravam
E me provaram o sabor
E lhes provei seus sabores
Para trás apenas o rastro branco dos empoados
Nas velhas ruas de ladeiras íngremes
As janelas estavam fechadas
Todos estavam no bloco
Era carnaval
O carnaval nosso de cada dia nos dai hoje
Pelos séculos dos séculos
Amém!
E veio a quarta-feira de cinzas
Na matriz a hipocrisia escancarada nas caras surradas
Pedaços de de pó ainda caiam da pele sem banho
Marcada pelos puxões e chupões
Deus perdoai-nos
Mas a carne é que vale
Enquanto vivo, vivo na carne
Enquanto carne, estamos vivos
Aquele padre ainda essa noite passada
Foi colombina
Era carnaval
"Minha carne é de carnaval/ Meu coração é igual"
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