quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Para Lionete, com carinho

Gosto de gente inteligente. Não estou a falar daqueles que ficaram anos sentados em cadeiras de universidades, a se tornarem mestres ou doutores. Eu falo da gente perspicaz. Falo desta gente capaz de se comunicar com um único gesto ou atitude e dizer o que queira sem abrir sequer a boca para dizer uma única palavra.


Esta semana, postei num grupo de rede social uma foto da minha sala. Teve uma senhora, com quem não tive o prazer de encontrar pessoalmente, e que bem pode ser uma doutora, sim senhor, que analisou pormenorizadamente toda a cena da minha sala, naquela fotografia. Em seguida, fez um print de um detalhe da foto e o postou. Não importa o que era. Apenas importa que ela percebeu. Percebeu que o que pode ser imoral para uns pode ser arte para outros.


Recentemente, numa visita ao Museu Guggenheim, de Nova York, em companhia da minha irmã mais nova, Jeanne, decidimos ver uma exposição. Subimos num elevador para um andar acima e quando ele se abriu, numa imensa sala, quadros estavam dispostos por todas as paredes, em todos os tamanhos, cores e texturas... falos, falos e mais falos. Apenas falos e nada mais. 


Não era uma exposição indicada às senhoras mais pudicas da sociedade, com certeza. Talvez nem pudesse estar indicada aos filhos da tradicional família cristã brasileira. Ali, todavia, estavam várias crianças sem sequer se importarem com os falos, mas, tão somente, a brincar umas com as outras no meio do saguão.

A senhora mais pudica, mãe e esposa, acostumada a ver e até a cuidar do falo que lhe pertence, por meio da certidão de casamento civil, poderia até se fazer de envergonhada e pôr as mãos nos olhos escandalizada, como se jamais tivesse visto aquele pedaço de carne-nervo que ajudou a expulsar a Eva do paraíso, graças a deus.

 

Ressalte-se, na minha foto, sobre a mesa de centro, junto com diversos outros objetos, apenas o livro "OBSCÉNICA" de Hilda Hilst.  De erotismo em pulsão visceral, sua obra indica um trilho sagrado a que a senhora do grupo de WhatsApp, muito espertamente, captou logo de cara e ainda se manifestou sem nada escrever, apenas com um gesto.

 

Adoro gente inteligente. Adoro gente doida, mas que seja do bem!



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