quinta-feira, 6 de novembro de 2014

EQUÍVOCOS

Eu gritei enquanto tu gritavas.
Bocas cerradas depois de tudo dito
Dito tudo o que bem podia não precisava
Palavras doces e fraternas ficaram mudas
Amargas lançadas como navalhas
Cortaram e machucaram
Cicatrizes que, certo, não se apagarão
Negamos o óbvio amor
Por medo de expor-se à fragilidade
Ou se por mera vaidade de quem, egoísta, quer ouvir
Vaidade de quem não quer falar
Eu esperava apenas a palavra bendita de quem pede que se fique
Ocorre que tu esperaste o mesmo
Eu me fui e tu te foste
Levamos o enorme fardo da dor e da mágoa que, de tão grande, parece não nos caber
Eu, de cima, com orgulho, digo-te o que não queria ouvir-te: jamais te dirigirei palavra novamente
E se soubera que o tanto que vivemos terminaria no vale do ressentimento
Melhor me seria, nada termos começado, sequer, conhecido
Mas, agora, sozinho, digo-me: valeu muito!
Comigo levo-te eternamente. Sentirei saudades!
E me dói que não mais aqui me estejas
Falso desprezo que nada mais é que artimanha para que me continues vivo e latente em mim.
O coração sombrio vai cheio de amor que, mesmo machucado, sabe
Outros me virão
Te virão
Diferentes
Não nos substituirão
Fomos únicos
Sempre seremos
E entendemos que o aquilo se nos havia dentro em nós
De tão grande dava medo de entrega
Diamante precioso que, sem o devido reconhecimento, bem poderia ser confundido
Viraria mera bijuteria a ser jogada na prateleira mal cuidada
Levo-te como me eras e não o sabias
Preciosidade deveras
De tamanho que reconhecer não puderas.


Wanderley Lucena



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