quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O IMPACTO DO VAZIO


Passando os dedos nos títulos da minha estante
Buscava algo para entreter-me
Vi o livro que me presenteaste há tanto tempo
Folheei-o na busca de uma dedicatória
De um recado escondido
Algo que precisasse ser decifrado
Páginas dobradas marcavam o livro
"Cabe pois no vagão
toda a nossa viagem"
Do Carlos Drumond
Não sei se tu querias que eu lesse
Nem se tu que marcaras em páginas dobradas
Algum enigma a ser decifrado.
E apesar do tempo
Não consigo esquecer tudo.
Se pudesse voltar
Nada nos teria acontecido.
Mal não me fizeste
Mas não consigo querer perdoar-te
Por não me quereres
Se te perdoo, perco-te
Quero continuar magoado
Assim permaneces e, quiçá, eu permaneça.
Todavia, já não mais te quero
Queda-te afogado nas águas turvas do ressentimento
Na minha humanidade latente
No coração ferido
Na dor da lembrança eterna de quem não quis esquecer-te.
Todavia, não te dignaste
Nada havia que não as poesias do Drumond
Eu as trocaria todas por uma linha escrita por teu punho
Numa dedicatória calorosa
Que nem precisava ser de amor.
Preferiste o impacto do vazio
Da indiferença
Do quase desprezo
O "nada" de quem quer ser esquecido
De quem não quer causar dor
Que não quis deixar marcas
Deixaste  vazia a página branca
O papel, por si só,  merecia a tua dedicatória
Só pra não ficar vazio.
O trem segue levando os vagões
O meu não seguirá vazio
Vai comigo o Drumond.

Wanderley Lucena

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