quinta-feira, 21 de julho de 2011

FAXINA ESPIRITUAL

Eu tinha uma ótima diarista. Ela era por demais caprichosa. Arrumava minha casa como se eu fora seu filho. Limpava a sujeira das gavetas, dos cantos e frestas. Tratava de tudo com o maior cuidado e jamais me quebrou qualquer objeto. Mas, tudo que é bom dura pouco, diz o ditado popular. Arrumou coisa melhor e se foi. 

Me indicou a irmã. Pensei que o capricho estava no sangue. Ledo engano. A coisa mudou do vinho pra água, e água barrenta. Na mesma máquina que lavava panos de prato, ela também lavava, pano de chão, toalhas, cuecas etc... tudo de uma só vez, na mesma lavada, na mesma água.

Quebrou tanta coisa aqui em casa que achei que ela sofria de Parkinson. E as faxineiras só quebram aquilo que mais queremos. Aquele bibelô da última viagem a Paris e que você o trouxe embalado como se fosse um ovo. Pois é esse tipo de coisa que elas quebram. 

A roupa de cama era trocada, porém, ela não se dava ao trabalho de passá-la. Os vidros que eram transparentes ficaram fumê. O pano que ela passava neles era o mesmo que ela limpara o a gordura do fogão. Eita coisa irritante! Eu não vou ensinar mulher a fazer faxina. Preferi mandar embora com uma desculpa qualquer.  

Eu fiz uma incursão pela versão masculina do serviço doméstico tempos atrás. Me falaram que eles fazem melhor que elas. Entretanto, a experiência também foi desastrosa. O moço se me apresentou com a aparência muito ruim. A pobreza estava estampada nas havaianas que ele ganhara de alguém que tinha o pé muito maior que o seu. Para resolver o problema, ele as cortou na parte do calcanhar. O corte foi feito à faca, muito sebosamente. As havaianas estavam decepadas. Coisa feia de ver, só aceita por causa da pobreza de quem necessita recorrer a expediente tão precário.  Mas não foi só isso. Ele não sabia mesmo fazer faxina.

Para piorar, na segunda faxina, veio me pedir dinheiro emprestado. E pior: eu emprestei. Ele sumiu no meio da capoeira. Foi a última vez que o vi. Pior ainda: senti falta de um anel. Acho que ele me furtou. Sim, ele me furtou, com certeza. E não era um anel qualquer. Eu o comprara em uma das minhas viagens e me era como o bibelô de Paris. Filho de uma p.... Tomara que use havaianas decepadas para o resto da vida!

Agora estou na labuta. Hoje foi dia de faxina. Fazia um bocado de tempo que não me dava a esse trabalho. A tarefa não é das mais árduas. É claro que prefiro ir ao shopping e voltar e encontrar a casa limpinha, brilhando, cheirando a incenso aceso pela diarista que acabou da ir embora. Ocorre que empregado doméstico virou ouro no Brasil. Não é só isso. Eles estão despreparados demais. 

Pus na rádio que toca forró do bom. Bem apropriado pra animar o corpo pra uma faxina. Ouvi o Luiz Gonzaga e tantos outros. Além da lembrança da minha terra, de minhas origens, o forró dava a energia e a faxina foi até fácil. Lustrei móveis, passei pano molhado no piso, lavei o banheiro como jamais fora lavado. Ficou branquinho, limpíssimo, aromatizado. Delícia! Nada demais pra quem já trabalhou em olaria, carvoaria,  roça, etc...

Passar roupa é tarefa que requer alguma técnica. Não é o fim do mundo não. Eu ontem passei um tantão. Basta um ferro de passar que se imponha, uma tábua de passar bem posta, mãos ágeis e... carinho, e... músculos também. 

Depois da faxina, fui ali no mercado e comprei flores que coloquei no vaso. Abri as janelas, o coração e relaxei sentindo a fragrância da vela perfumada.

Quer bem feito? Faça você mesmo. Com exceções, claro!

Quer um faxineiro ai?

Wanderley Lucena


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