sábado, 4 de agosto de 2018

Tempo Infernal

O suor desce pelo rosto apesar de eu estar em casa e já ter tomado uns dez banhos gelados. Não é a andropausa, é o calor do tempo mesmo. Eu nunca imaginei que pudesse ser essa Lisboa tão quente. Hoje fez 43 graus e em alguns outros lugares do país chegou a 50, informou o jornal local.  O povo todo foi pra praia, pra o rios, para as piscinas ou, como no meu caso, para debaixo do chuveiro de água fria. Eu arrendei um apartamento sem ar condicionado por achar que tal luxo é uma agressão ao planeta e ao meu meu bolso. Mas, se arrependimento matasse... Já tomei galões de água gelada e agora são exatamente 19h 20min e o sol está à pino e a ferver as moleiras e por as mãos sobre o teclado para escrever é como levá-las a um forno. É difícil escrever e o ventilador está ligado a jogar ar na minha cara. Eu sempre fui calorento e por ser nordestino achava que seria fácil enfrentar o calor ao qual os portugueses me avisaram e achava ser pura frescura deles que de quase tudo reclamam e não sabem o que é quentura como a do nordeste do Brasil, pensava eu engadamente. Mas, eles tinham total razão. O Presidente da República, figura simplória e desapegada, bonachona e quase um Santa Claus de simpatia, foi filmado a dar entrevistas enquanto tomava banho, nu da cintura para cima, todo sorrisos, numa praia de água doce, num rio qualquer no interior do país. E eu só me lembrei do Rio Corda onde cresci a me jogar em suas águas cristalinas em corredeiras geladas e a pescar piaba-larga, piaba-dura, ou piau cabeça-gorda. Aqui fico recluso, sem coragem de botar a cara na rua e morrer esturricado. O país começou a incendiar-se e o aparato do Estado luta contra as chamas dia e noite. Mas, não estou a reclamar. Não, de jeito nenhum. Estou apenas a relatar-vos nessa crônica a própria vida e um pouco do meu dia que tinha tudo pra não render sequer uma linha. E nem estou a tirar leite de pedras, confesso! A noite, já sei, será tão abafada e quente quanto a de ontem. Mas, logo chegará o inverno e as temperaturas cairão até abaixo de zero e meus pés pedirão meias grossas e terei de ligar o pequeno aquecedor que me salva tanto quanto este ventilador. E  chegue logo o verão. Viver as tão temidas e alardeadas mudanças climáticas aqui é privilégio danado de bom. Com sol, com chuva, com frio ou com neve, sempre valerá porque o que importa é a temperatura que está dentro de mim. 

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