Eu me arrumei como sempre e não estava com nenhuma melancia na cabeça. Eu vestia uma bermuda e uma polo acompanhados de um tênis qualquer. Tinha também os óculos espelhados que trazem algum charme, não vou negar. Mas, senti que o que fazia as pessoas me olharem de alguma maneira que chegou a convencer de certo incômodo. Mas pensei: hoje amo a todos indistintamente e na mesma medida que eles também. Ledo engano!
Já no metrô pedi licença à uma moça feia para sentar ao seu lado. Ela olhou-me fixamente com olhar de doida que me incomodou. Sentei-me ao seu lado e percebi seu braço roçando o meu. Senti como se um mandacaru estivesse a me fazer algum carinho e a me seduzir. Recolhi meu braço de supetão e me diminui o suficiente para que se formasse um muro entre eu e ela. Ela se mexia e respirava alto. Eu grudei meu olhar num cartaz do outro lado do vagão e que tinha alguma coisa escrita mas que não a li. Levantei-me, aliviado, para descer na próxima estação. Susto ao perceber que ela se levantou junto. Pensei: joguei pedra na cruz? Fui para uma porta diferente da que ela sairia e desci sem olhar para os lados. Não a vi mais.
Amor é sentimento que, por causa de nossa humanidade, não se distribui a quem não o desejamos. É uma limitação minha e de muitos. Quem perde tal limitação ganha a santidade. E como eu queria ter essa predisposição para a santidade! Mas, não a tenho. Acho também que no reator da atração termina-se por atrair todos os tipos, inclusive, os inconvenientes. Voltei para casa meio frustrado de saber que meu amor é condicional.
Wanderley Lucena
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