quinta-feira, 17 de maio de 2018

O Zé

O Zé, o da pastelaria daqui pertinho de casa e onde vou todos os dias a tomar um café e a comprar um ou outro pastel de nata, o famoso pastelzinho de Belém, vez em quando, daria pra escrever um livro sobre ele. A pastelaria é exatamente igual à qualquer outra. O espaço é pequeno e conta com apenas três mesas e o balcão de atendimento donde, por trás, está o Zé com o seu bigodinho português típico, sempre vestido de calças sociais e camisas riscadas mangas longas dobradas até metade dos braços, geralmente em tons azuis. Vez por outra saca dos bolsos o pacote de euros que quase não lhe cabe nas mãos e arranca alguma nota para o troco e fico a pensar: isso aqui fosse o Brasil... e  o Zé nunca mostraria esse horror de dinheiro. 

Ontem perguntei ao Zé se ela sabia quem era a minha estranha vizinha a qual jamais tinha visto e que mora um piso abaixo do meu e que me abordou na portaria para contar-me segredos de liquidificador. Estava a abrir o escaninho enquanto ela contava os mesmo segredos á outra vizinha que aproveitou para ir-se enquanto ela se aproximou do meu ouvido e me disse coisas que não entendi porque tão baixo me falava. Mas, pedi que repetisse e ela veio me contar que o seu vizinho de porta estava a traficar drogas e que eu tomasse cuidado. Nunca vi qualquer movimentação estranha aqui e, ante o nível dos moradores, desconfiei daquilo que me contava e logo pensei tratar-se de alguma doida despeitada e com problemas com o vizinho e que queria minha ajuda para difamar a reputação do moço que jamais vi. Eu a informei ser policial aposentado e ela me disse ser seu marido Chefe, com C maiúsculo, da PSP, a polícia civil daqui. Procurei sair em disparada logo que a portaria se abriu e ela se dirigiu a outro morador para continuar sua lamúria. Em sendo seu marido policial desconfiei ainda mais daquilo que me contava já que o marido poderia resolver o problema facilmente.

O Zé sabe da vida de todo mundo. São milhares de moradores no bairro e ele parece saber detalhes de todos. 

- É uma de óculos, cabelos chanel, faladeira? Não se dar com a Fátima.

A Fátima é outra vizinha que mora no apartamento ao lado da portaria e que abre a porta toda vez que percebe o barulho do portão só pra saber quem entra e quem sai. Cão de guarda melhor não há.

- Ela nunca foi casada e o tal chefe da PSP é seu amante e a mantém. Esteve ela internada em casa de repouso tempos atrás. Mora no primeiro piso no apartamento de frente pra rua. Não é?

Assustei-me com tantos detalhes sobre a vida da moça e fui-me embora certo de que doido aqui tem aos montes e que sou um deles. O Zé poderia ser a Maria Fofoqueira, mas ninguém o considera. Todos estão ali sempre ávidos por suas novidades e, basta ficar ali, quietinho no balcão a tomar o café e já se ouve aquele cliente a comentar os detalhes da vida do outro que acabou de pagar a conta e se foi. E quando me vou posso imaginar, com sorriso na cara, o que de mim falam. O bom é que já não mais me importa o que mim pensam ou falam, mas sim falra deles aqui no meu blog. 

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