terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O Gajo Folião

Estava eu na Pastelaria do Zé, aqui no bairro, a tomar um café. Adoro a Pastelaria do ZÉ. O bairro todo ama a pastelaria do Zé. O Zé é figura bonachona com um típico bigodinho português. O Zé deveria ser homenageado com um busto em bronze num pedestal de alguma praça daqui. Todo mundo ama o Zé. Basta vem as demais pastelarias da rua, com ambientes iguais ou melhores, vazias enquanto que a do Zé está entupida de gente. Por vezes, é difícil chegar ao balcão. O Zé trabalha sozinho e já tem seus 65 anos de idade. Esses dias atrás a conversar com ele que me informou que trabalha ali faz 35 anos, é o dono do estabelecimento e não sabe quando vai parar. Certo é que o Zé não perde o humor mesmo a passar 14 horas ou mais a servir à clientela que, nem sempre, tem o mesmo humor.

Mas, hoje fui cumprir a minha obrigação de tomar ali o meu café diário. Estavam ali uns dez clientes e o Zé a me tirar um café quando entra um folião de carnaval de Lisboa, coberto dos pés à cabeça com lençois de hospitais sujos de sangue e gosma amarela - não sei se falsas - e uma máscara que era a mistura de macaco com black bloks, deixando a todos meio de cabelo em pé até que nos caisse a ficha: é carnaval.

O folião desenvolto e com intimidade de quem conhecia muito bem o ambiente e o Zé, mas sem dizer uma palavra, adentrou para o balcão do Zé e isso denotava ainda mais a intimidade.

O Zé apenas perguntava repetidamente:

- Quem será o gajo? Quem será o gajo?

O gajo continuava mudo, mas apontou o dedo coberto por uma luvas em forma de garras à máquina de café. O Zé, eu e todo mundo entendeu que o gajo folião queria um café. O Zé passou a tirar o café enquanto eu, o Zé e todo e todo mundo - suponho - pensávamos:

- O gajo vai ter tirar a máscara enquanto toma esse café.

Imagino que a curiosidade de todos era igual à minha e até à sua que ler esta cronica. Mas, o gajo não era tão bobo e levou a xícara até a altura da boca e a desceu. Du-nos a costa com xícara na mão enquanto andava rumo ao banheiro. O fdp se trancou no banheiro, acreditem! Saiu da pastelaria depois de pegar a conta. Sim, saiu sem dizer palavra!  

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