sábado, 27 de maio de 2017

Coisas da Modernidade

O carro de último tipo e de marca poderosa parou no semáforo para dá passagem ao pedestre. Nenhum outro pedestre perceberia dentro do carro a madame a escovar os dentes e, ao mesmo tempo arrumar a sobrancelhas no retrovisor. Só eu mesmo! A boca estava cheia de pasta que espumava boca à fora. Eu não sei como ela iria terminar a higiene já que dentro daquele carro não devia ter uma pia com uma torneira e água corrente. Imagino que ia comer toda aquela baba e depois terminar a higiene com algum lenço úmido ou não. Mas, já tinha ouvido dizer que as mulheres são capazes de desenvolver várias atividades ao mesmo tempo, entretanto, aquilo me foi inusitado. De qualquer maneira, me fui com a sensação de que não veria nesta vida outra cena igual.


Entrei, em seguida no shopping de classe média alta e aguardei o luxuoso elevador panorâmico. Estava ali parado quando chegaram duas moças com cabelos limpíssimos, brilhantes e muito bem escovados em com aqueles penteados presos no na cabeça não sei como, mas com certeza, arrumados em algum salão de beleza bem caro. Os rostos brancos como a neve e lábios rosados por batom francês ou algo que o valha. Ostentavam óculos escuros e enormes - coisa de noviças á madames - e, nas hastes, uma tarja vermelha que informava: "Prada". Eram ricas aquelas duas moças em idade pouco acima da adolescência. E como eram bonitas as duas. Mas, pelas carícias entre ambas, percebi ser um casal de lésbicas - e pensei: quanta modernidade! - Mas, de dentro da bolsa preta e cara uma das moças sacou uma banana enorme, amarela e cheirosa. Parecia banana vendida em Paris. E as bananas de Paris custavam 1 Euro cada quando por lá estive. Em compensação é perfeita, sem qualquer mancha dessas pretinhas que vemos nas bananas de cá ou qualquer machucado, aliás, as bancas de frutas por lá verdadeiras boutiques. A moça descascou aquela banana perfeita, mas tão perfeita que parecia até artificial, e o perfume exalou dentro do elevador. A moça chique comia a banana como se tivesse sozinha, sentada na sua sala a assistir um programa qualquer de tv que ela gostasse. Comia devagar e, sem exageros, quase que provocava aos passageiros da cápsula panorâmica. Depois de comer metade da banana voltou a descascar um pouco mais e... ufa! o elevador se abriu e me fui. Acho que de tanto que me chamou a atenção posso ter dado bandeira e a moça pode até ter me percebido com os olhos na cena que ela produzia.

Saí do elevador a pensar que bom mesmo é está vivo para ver e viver toda essa modernidade e na espera da próxima cena inusitada que ela, com certeza me trará.

Cheguei em casa e encarei a cozinha. Um faxina que foi desde o chão ao teto e, depois disso tudo, encarar o fogão e fazer o almoço que bem podia ser um jantar já que passava da metade da tarde. Eis a terceira cena que a modernidade me oferecia e, pior, eu era e era o protagonista! 

Wanderley Lucena

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