quarta-feira, 6 de abril de 2016

A Efusiva

E ela me mandou um agradecimento todo simpático por meio do watssap. Agradecia pela forma como a descrevera em uma de minhas postagens/crônicas. Dizia ela que a havia captado na essência e que nem era merecedora de ser uma das minhas personagens. Eu fiquei a pensar no quanto fazemos a ideia errada da imagem, da nossa auto-imagem. Uns a exageram para mais e outros para menos. Não sei se ela fazia o bom e velho exercício da humildade ou se estava mesmo equivocada quanto à sua estatura de personalidade. Adoro ouvi-la. Efusiva e espirituosa como poucas que conheci. É já uma senhora cinquentona com cara de trinta e que já começa a se incomodar com tal fato. Eu a entendo pois, também, estou eu no mesmo barco.

São tantas as estórias por ela contadas que eu gostaria de ter um gravador ou uma memória de elefante para contá-las todas neste blog. Ela fala alto e dar risadas abertas. Vez por outra é obrigada a se levantar da mesa e ir para a rua para empurrar a maldita nicotina no juízo e nas veias. Acho que jamais acharei alguém tão espirituosa quanto ela.

"Nunca gostei dela mesmo!", tascou ela em uma de suas tiradas enquanto se matava a puxar a fumaça nicotinada do cigarro e entupir os pulmões. Eu não sei exatamente a quem ela se referia por ter apontado com um gesto de cabeça discreto em direção à uma das senhoras da mesa.  Mas, parecia ser de uma parenta com quem teve alguma desafeição quanto esteve com problemas de saúde e não foi por ela assistida. Mas, ela nunca foi de perder tempo a declarar suas decepções. Sempre em alto astral e alegre, diria eu, quase doida. Adoro gente doida. Aquele doido do bem, sabe? Aquele que se desprendeu dos conceitos sociais ou que jamais se prendeu à eles.

Naquele mesmo dia enviou, via grupo de watssap, uma foto dela própria vestida em um belo modelo prateado de algum modelista francês e que, creio, deve ter comprado por lá mesmo, por Paris. O grupo, atencioso e gentil, comentou de sua beleza e elegância, mas, se pronunciou quanto ao vestido que bem podia ser usado no tapete vermelho do Oscar. Ela não se fez de rogada e exigiu os comentários a respeito do vestido. Pois bem, esse é o estilo dela. É autêntica e sagaz.

Ela é atabalhoada e fala feito papagaio. A sua ânsia para contar suas estórias é tanta que, por vezes, não adianta. Todos têm de calar-se, rendidos a ouvi-la. Enquanto conta suas estória tem crises de risos contaminantes e todos faltam morrer, junto com ela, ante a esteria. É mesmo uma dessas figuras às quais eu passaria horas, talvez dias, sem abusar de ouvir.

Ela é uma espécie de carro alegórico que se anuncia já lá esquina e que se senta à mesa e todos sabem que a atmosfera mudou. E mudou para melhor! Um prazer ouvir gente que nem ela! Mas, pare de fumar, viu?

Wanderley Lucena

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