A locomover-me à pé pelo Setor Comercial Sul, local bastante movimentado, principalmente na hora do
almoço na capital federal e em companhia de meu grande amigo Beto, decidimos almoçar por ali, num restaurante
de comida de sabor incrível. Meu amigo tem gosto apurado e o restaurante gostoso nem
era tão caro. Mas, ao dirigir-nos desde o seu trabalho até o restaurante, um
trajeto de não mais que 100 metros, duas cenas inéditas me chamaram a atenção.
Senti cheiro de marijuana e vi rapazes e moças sentados no chão, em rodas, aos montes, a fumar a erva já quase legalizada, ante todos que por ali passavam. Tinha muito mais cena a acontecer e que eu não dei conta de apreender e aqui postar. Mas, meu amigo chamou-me a atenção, sabedor que tudo aquilo era-me material de escrita para publicação neste blog.
Mas, o que me
chamou a atenção mesmo foi um indivíduo com cabelo amarrado sobre a cabeça, no estilo
lutador de sumô, com uma fita vermelho intenso de uns quase seis metros de
comprimento amarrada no antebraço e um conjunto de favas de não sei o que,
amarrada na ponta que se arrastava ao chão como se conduzisse ele um cão de
estimação. A fita vermelha devia ser de seda e as favas eram de alguma árvore
nativa do cerrado. Paramos, eu e meu amigo, e ficamos a observar a cena
enquanto o moço nos passava. De andar empertigado, olhar no horizonte, altivo,
puxava as favas que faziam um barulho como que de um instrumento de percussão.
Não sei se nos percebeu a mirar-lhe, mas, de tão excêntrico, devia sentir-se
artista a impor seu comportamento. Ou seria algum louco? Não sei até agora. Mas,
se era artista, ganhou nossa atenção. E
é isso que todo artista busca afinal. Gostaria de rever o espetáculo. Voltarei
por ali com certeza e espero ver o espetáculo desse artista anônimo.
A outra cena veio a seguir. Causou-me estranheza ver algumas
dezenas de pessoas bem vestidas, talvez, executivos que por ali laboravam, com
sacolas de papel reciclado enfiadas nas cabeças. As sacolas eram todas
exatamente iguais e estavam furadas nos lugares dos olhos e nariz. Eu fiquei
curioso. Não sei do que se tratava. Eles andavam para lá e para cá sem nenhuma
outra manifestação. Não havia um grito de ordem nem alguém com algum megafone a
fazer algum discurso. Não entendi, assim
como o rapaz com visual de lutador de sumô a carregar o cão imaginário por sua
rica fita de seda vermelha, se tratava-se de manifestação artística, protesto
ou loucura. Quaiquer das opções, gostei do que vi. Senti a pulsação e o frescor da metrópole e sua gente e senti-me parte dela. Voltei para a estação do metrô com alegria e em estado de contemplação.
Wanderley Lucena