segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Riso por Disbunde

Prefiro o riso ao choro. Há quem prefira a emoção densa e dramática da tragédia. Eu gosto de uma boa tragédia. Porém, a refletir sobre o assunto considerei que o choro é para quem está em processo de cura. Quem chora de emoção ante suas lutas ou ante a luta de outrem está a observar o processo de sua própria cura ou do outro. Mas, que rir, rir porque está curado. O riso é êxtase pós luta. Quem está doente não rir. O que rir o faz de cara e peito abertos.

O sorriso descontrai e lança-se, expulso pelos musculos internos, de dentro para fora, para o universo. O choro é contraido. Quem chora chora pra dentro de si mesmo. O choro é acanhado e escondido. Quem chora não quer chorar. Quem chora quer mesmo é rir. O riso se escancara ante o sol cálido e se espalha por quem o assiste. O riso é virus do bem que se espalha. 

Que não se invalide o poder do processo da cura que vem pelo choro. As lágrimas lavam a alma e depois... pra cura ser completa... vem o sorriso. Bom mesmo é rir depois do processo. É rir por agradecimento. O riso é para quem está em paz e sem problemas. O problema que pode ser  uma doença, quiçá, a morte, leva ao choro. Uma reflexão, um livro, uma cena de filme ou de realidade pode levar ao choro. Nada há de errado em chorar. Mas, rir é que é disbunde. O riso é o estravasamento de boa emoção.

Mas, há tempo de sorrir e tempo de chorar, diz a bíblia que nem é tão sagrada assim. Mas, ela tem razão. Já sorri e já chorei. E chorei sozinho, às escondidas. E depois do choro vem a paz e a leveza. Mas. o rir é orgásmico. É bom andar por ai a mostrar os dentes a quem sequer conhece. Quem rir recebe riso por resposta. Quem chora recebe dó e pena. Definitivamente, fico como meu sorriso. Fico com o seu sorriso! Mas, levo a minha dor! 

Wanderley Lucena

sábado, 23 de janeiro de 2016

A Garçonete e a Privada

O pessoal do serviço do Roxy Bar, na Praia do Francês, em Alagoas, Brasil, por si só já seria material suficiente para estórias que renderiam um livro de muitas páginas. Cada garçon, assim como qualquer indivíduo, traz características muito peculiares. Eles consideram que o trabalho é excessivo e correm para lá e para cá como se o mundo estivesse a se acabar e eles tivessem que sobreviver em meio a uma chuva de pedras. Quem se sentar junto ao balcão, e não nas muitas mesas espalhadas pelo salão, perceberá o clima tenso e denso. A atmosfera não acompanha a boa música que toca quase inaudível apesar de tantas reclamações para que o volume suba um pouco mais. Ouvir Pink Floyd muito longe, abrir bem os ouvidos e mesmo assim não poder apreciar a música é exercício irritante e enfadonho. 

Tem a mocinha loira, de olhar furtivo,  mãe de três filhos, estudante de algum curso superior que não me lembro e que aparece do nada, correndo pelo salão como se estivesse ocupada a atender algum cliente. Ele aparece e desaparece por quase meia hora. Volta  aparecer e, de novo, some por mais meia hora. A observá-la, percebi que a funcionária que mais usava o banheiro de serviço era justo ela. E sabe porquê? Segundo me informaram, depois de fechar a porta, baixa a tampa do vaso e sentada ali tira uma soneca para recuperar o cansaço da correria ou da praia, da "maresia", dos namoros que a fazem perder a noite (ou ganhar - a depender de onde se olha). Acorda e sai correndo pelo salão e volta correndo para o mesmo banheiro a fazer a mesma coisa tentando disfarçar a sua atitude.

Mas, a mesma moça me informou não ser ela garçonete. Parece-me que é bióloga ou algo que o valha e que, portanto, goza de certo privilégio - ao menos em sua cabeça - já que é superior aos demais. Que por ser bióloga não precisa se preocupar em servir como os demais. Sempre notei certo ar de superioridade na moça. Agora estava respondido o porquê. Ela se considerava bióloga e não garçonete. Há grande equívoco no argumento da garçonete que dorme na privada. Ela pode não ser garçonete. Ela está garçonete. Que aproveitasse a oportunidade de trabalhar na nave intergaláctica que é o Roxy e que fosse feliz ao falar com tantos de tantas nacionalidades. Mas, na cabeça da gorçonete, o Brasil estava a perder uma bióloga e ela era obrigada a desenvolver atividades indignas. Resta saber se o dono do estabelecimento conhece a tal falácia da moça e se concorda com ela - coisa que duvido muito. 

Já percebi certo chamego, talvez só por parte dela, em direção a um italiano de olhos azuis como a cor do mar do Francês. Acho logo teremos novo rebento, talvez, com dupla nacionalidade. Mas, esse é apenas um pormenor. Nada contra quem pare seus filhos desde que os crie e crie bem. Mas, a moça é de poucas posses e se mantem com a ajuda do pai. Aqui vive de favor nas casas de amigos. Assim sendo, acho que seria melhor uma laqueadura. Well!

Mas, não é a música baixa que me chama a escrever e sim o serviço desta estação intergalática chamada Roxy Bar. Ontem fui lá como de costume e percebi certa calmaria. O clima estava até bom. Não houve nenhuma discussão ou barraco entre eles. Reclamei, claro. 

- Escuta! - interpelei a garçonete - cadê? Não vai ter um barraco hoje? Uma briga? Uma discussão? Nada? Tenho meus direitos como cliente e quero ver ao menos um barraco! Francamente! Vou reclamar com o dono! (rs)

Fui informado que houve reunião entre todos e o dono e que foram repreendidos. Eu, se fora dono, demitiria metade do pessoal a bem do estabelecimento. Como nada tenho com o estabelecimento que não seja o de consumir, religiosamente a minha cerveja enquanto tento um colóquio mesmo que com a moça que dorme sentada sob a privada, recolho-me à minha insignificância.

PS.: Antes de publicar essa crônica, fui, como de sempre, ao Roxy e não vi a garçonete bióloga que dormia escondida sentada sobre a privada. Disseram-me que um ropante de rebeldia, pegou suas poucas tralhas e ausentou-se com probabilidade de não mais voltar. O assento da privada está vazio. Alguém se habilita?


Wanderley Lucena


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Caminho Inverso

Ontem no Roxy Bar na Praia do Francês - uma espécie de estação intergalática onde se reunem os seres mais esquisitos - o clima ficou tenso entre os serviçais. O local é território quase que italiano. O idioma oficial deixa de ser o português. E na Itália existem diversos dialetos. Por vezes, nem os próprios italianos se entendem. Boa parte deles faz a mulherada babar com tamanha beleza. Outros são verdadeiros ogros. Quando são brutos não perdem em nada para os nativos locais. 

A cada dia chegam mais italianos e, dentre eles, faz uns dois meses, chegou Giuseppe. Trata-se de figura ágil e de voz firme e gestual exagerado, tipicamente italiano, que insiste em não aceitar a cultura da preguiça que está impregnada na nossa gente, infelizmente. Eu que sou brasileiro nato e me orgulho muito disso, sinto grande dificuldade  e vergonha ante a indisposição generalizada de nossa gente. 

O pessoal do Roxy considera o labor uma maldição. Desde o momento em que saem de suas casas a única coisa que desejam com sofreguidão é o momento em que põem suas mochilas nas costas e saem apressados para pegar o ônibus e voltarem a fazer nada em suas residências.

Giuseppe insiste em não calar-se ante o que considera pura falta de vontade dos colegas gorçõns como ele. Aos berros e com dificuldade de ser entendido, tenta fazer a engrenagem enferrujada do serviço andar. Eu ontem o avisei que sua luta era hercúlea e inglória e dela sairia perdedor. Que deveria relaxar e entregar-se à corrente. Está no nosso sangue essa indolência que não aceita melhorar e nem aprender nada. A garçonete oponente da vez á Guiseppe é moça com cara de Maria Bonita, musculosa e de sorriso fácil e farto. Corre daqui para lá e de lá para cá com boa vontade. Giuseppe conseguiu a antipatia geral e sofre boicote por todos os lados e forma constante. 

A moça Maria Bonita não se intimidou ante os berros de Giuseppe que lhe mandava fazer determinada coisa de tal modo e não da maneira que ela estava a fazer. A moça o enfrentou com punhos cerrados e o expulsou do recinto. Foi bate-boca duradouro e em alto e bom som. Confesso que fico bastante incomodado e constrangido ante tais cenas diárias. Achei que ia sair porrada. 

Vamos até quando Giuseppe aguentará. Até que ponto manterá a sanidade mental. Eu já estive em seu lugar e, apesar de concordar ipsi-litteri, com ele, informei-lhe que ele estava em nosso país e que não iria conseguir alterar essa ordem inversa de valores laborais brasileiros. Que, acima de tudo, ante o choque cultural, deveria abster-se e respeitar tais limitações que nos estão inseridas.

Já estive em seu lugar, meu caro Giuseppe. Desisti! Farei o caminho inverso ao seu e me vou para o velho continente onde resta alguma displina. 


Wanderley Lucena

Alforria

Falta tão pouco para o meu grito de independência que minha ansiedade é maior do que aquela que senti meses antes de aposentar-me. Dia 10 de fevereiro será o dia de minha alforria. E estava a pensar: vai que morro antes? Decido que não morrerei antes de colocar em prática o meu outro projeto. Mas e se a morte me chegar? Eu a enfrentarei com minha faca peixeira muito bem amolada. A ranger os dentes a porei para correr de minha presença. Respeite-me! Vá se embora! Apareça-me em momento no qual eu esteja menos ocupado! Nem que a vaca tussa a senhora me levará tão cedo. Ela que fique, sentada ao relento, a esperar-me enquanto arrumo minhas coisas, as minhas duas malas. 

- A senhora quer falar comigo? Bem... deixe-me ver em minha agenda quando terei disponibilidade para atendê-la. Volte-me daqui a uns 30 anos. Há! E por favor, faça o seu trabalho sem alardes. Chegue-me na calada da noite e, sem me informar, faça o que tem de ser feito. E, por favor, deixe-me em paz! Vá infernizar a vida de outrens. Tenho muito o que fazer. 

Quero pisar em areias brancas e acariciar, em água salgada de mar, meus pés cansados de tanto dançar. Quero embriagar-me muitas vezes e gritar de felicidade ante a tudo e a todos. Quero deitar-me embaixo das estrelas e sentir o coração palpitar ante o Cosmos. Jogar pedras na lua e nas árvores frutíferas pelo caminho. Quero carnavais em blocos de gente feliz. Quero sabores passados e novos sabores. Quero cozinhar e ver TV. Quero orgásmos em noites frias de inverno, em noites quentes de verão e em todas as estações. A morte que se dane!

Wanderley Lucena

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Desejos de Literatura

Tenho desejos de escrever. Já tive desejos de publicar livros. Já tive desejos de ser ouvido. Já tive desejos de ser lido. Agora, já não sei mais. Lendo a Clarice, a Lispector, me identifiquei com ela no quesito "literatura". Clarice escrevia para quem a lia e tinha profundo respeito pelo seu leitor, porém, ela o fazia pelo simples ato de escrever para si mesma. Escrever é ato orgásmico. Talvez um parto derivado de alguns minutos ou de meses ou até anos, a depender do que se escreve. Há textos que se nos vêm e os parimos de imediato. Outros ficam gestando em nossas cabeças por tempos incontáveis até que são paridos. Há os que levam anos sendo paridos. São de parto difíceis e, por vezes, natimorto. Daí, jogamos na lata de lixo o que parimos com tanta sofreguidão.

Se Clarice não queria nem se considerava literata, embora, com tantas bons partos, imagina eu. Sou um neófito nessa arte de parir. Sou, creio eu, na verdade, um engodo. Mas insisto em desejar. E assim me ocorre de escrever em blog o que um dia, queira Deus, publicarei em livro. A depender das críticas, claro! Vou me dirigir, antes de tudo, a quem me avalie com imparcialidade e verdade antes desse passo tão importante e ao qual não quero frustrar-me.

Ontem ganhei de presente um livro de um hóspede a quem considerei apenas um "qualquer". A comentar-lhe sobre minha escrita ele me presenteou com o livro de sua autoria: "Na Terra das Mulheres sem Bunda". O material é primoroso e eu folheei curioso. Vou ler o livro pela capa. Vamos ver o restará depois da leitura. Jamais o imaginei escritor ante a figura bonacha e tatuada dos pés à cabeça. O título do livro tão surpreendente quanto ele próprio. Parece coisa boa. Vou ler sim.

E por falar em literatos, ofereci de cortesia, quatro noites à FLIMAR - Feira de Literatura de Marechal Deodoro em Alagoas - Brasil. Afinal, cabe ao empresariado certa quota de responsabilidade social no fomento á cultura, creio eu. Veio-me um escritor que o reconheci da Globo News. Interessante é que o moço-escritor, quando da entrevista, me convenceu. Mas, já aqui, não gostei nem um pouco do que se apresentou. Era soberbo e desdenhava de quase tudo. Insuportável que era, deu-me, igualmente, um de seus livros. Abri-o e folheei por mera educação sabedor de que o jogaria na lixeira em seguida. E foi o que fiz. Aliás, tomei o cuidado de queimar o tal livro que até que se apresentava com boa capa e com boa formatação. Mas, não sou obrigado a reconhecer que figura tão desagradável, de repente, poderia escrever e, inclusive, escrever bem. Fico com o meu desdém e com o benefício da dúvida.

Mas, o ato de escrever-parir, é como todos os demais partos. Conheci mulheres horrorosas que pariram filhos lindos. Conheci cafagestes que pariram homens de bem e muito éticos. É a mesma coisa. Vamos ver que filhos serei eu capaz de parir. 

O parto é ato solitário e ante o computador que começa com o desejo bem anterior - ao menos no meu caso. Entretanto, alguns diálogos de watssap com amigos inteligentes já me viraram textos - confesso! A cada parto, naturamente, os demais vão ficando mais fáceis. É assim com tudo na vida, creio!

Já tive tantos desejos. Continuo a desejar tanto. Talvez sejam os desejos dos grávidos! Apenas desejo desejar sempre!


Wanderley Lucena


sábado, 16 de janeiro de 2016

Roxy do Francês

Aqui tem um lugar chamado Roxy. Isso mesmo! O Roxy bar, na Praia do Francês é uma espécie de estação espacial intergalática. Tenho certeza que a lanterna-flash-apaga-memória de MIB - Homens de Preto - seria usada repetidas vezes ao ponto de acabar a bateria do artefato. Os mesmos MIB's teriam muito trabalho para recolher grande quantidade de seres intergaláticos que frequentam o lugar.

São seres complexos, muito deles, completamente loucos. Tem os "cheirados", o pessoal da "erva", os do Daime, os do Ê e por ai vai. Há! E tem os chatos, como eu, que insistem em nada usar! Será? Dizem alguns que não sou tão chato assim. Há quem goste.

Há toda uma diversidade de excentricidades naquele espaço. Seres de diversos planetas e dimensões se encantram ali para uns goles.  Excentricidade  é a palavra que melhor que melhor define o Roxy Bar. 

Existem seres tão diversos que, desconfio com grande chances de certezas, que são verdadeiros ET's tentando disfarçar-se em humanos. Prostitutas e traficantes e mafiosos; loucos e drogados; falantes e tímidos que mal abrem a boca; tem intelectuais e equivocados - esses  não são os mais chamativos, mas, alguns deles podem se enquadrar, num outro sentido, no contexto dos ET's disfarçados. 

Os evangélicos, por pura hipocrisia, evitam o lugar. Mas, vez ou outra vejo uns aqui e ali a comer uma pizza e morrer de inveja da liberdade dos demais. Muitas moças recatadas com suas saias jeans compridas abaixo dos joelhos e a usar tenis com meias brancas a aparecer e seus costes de cabelhos abaixo dos ombros, conforme manda a bíblia - dizem elas. Elas passam cabisbaixas pela frente do lugar, loucas para ousarem entrar e serem prostitutas como as que ali estão a se divertir e valorizar a liberdade da humanidade que nos é innerente.

Tem os finos e os bregas. A moça feia e bêbada e a santa com cara de Amélia. Tem anjos e demônios. Tem a senhora louca, drogada e barraqueira. Tem mulheres lindas e poderosas e até as puritans que, nem sempre, são evangélicas. Tem amigos e inimigos.

Enfim, a atmosfera é densa desde o serviço até a clientela. Mas, vale à pena sempre. Eu passo todas as noites por lá. Tomo a minha cerveja depois de ficar horas a esperar que algum garçon perceba que não estou invisivel ou que sou apenas uma pilastra imóvel.

Tem frequentadores assíduos e esporádicos. Tem os lindos e os que não podem ser considerados apenas feios de tão horrorosos. Tem mães e pais de famílias; tem empresários e desempregados a pedir que se lhe paguem alguma cerveja. Tem solitários e grupos inteiros. Tem aqueles que aparecem todas as noites ou aquele ao qual se ver uma única vez.

Tem a moça feia que pensa ser bonita e que se veste vulgarmente e a mostrar o corpo despudoramente quase e sempre com o mesmo figurino - um short surrado e horrendo enfiado no "rego" e um sutiã de tricõ na cor branca. Essa fica a jogar o cabelo para lá e para cá enquanca saca fotos selfie a fazer biquinhos e por os dedos, sensualmente nos lábios. Ela sorri para a câmera e tenta mostrar as protuberancias de bunda e peito. É cena constrangedora que atribuo a uma doida de pedra. Mas, doidos de pedra são os tipos mais comuns no lugar. Seria eu um deles? 

A lingua predominante é mesmo o bom e velho português do Brasil - alías, concordo ser o português brasileiro a lingua mais bonita do planeta - mas, por vezes senti-me numa adega italiana. Sim, há muitos italianos no local. O dono é italiano e isso atrai seus patrícios. Mas, ouve-se o francês, o alemão, o inglês e muitos outros idiomas. Mas, o idioma é o que menos importa. 

O serviço é sempre muito tenso e os garções vivem a brigar. É de atmosfera pesada e os serviçais perdem a oportunidade de se divertir ao não perceber e aceitar que o multiculturalismo lhes seria oportunidade para o enriquecimento intelectual e diversão. 

Mas, o pessoal do serviço, por si só, já merecia ser identificado pelo Homens de Preto como verdadeiros ET's.  Um dia me dedicarei a escrever sobre cada um deles que são figuras riquíssimas e podem virar ótimos personagens de uma ficção qualquer. Não quero nomear nenhum deles ante ao fato de que me tornei amigos de quase todos e não quero ser tido futriqueiro que se sente superior. Não! Não me sinto superior. Considero um deles. Sou só mais um excêntrico dentre os tantos frequentadores desse ambiente incrível que se chama Roxy Bar na Praia do Francês.

Wanderley Lucena

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Mergulho de Paz

Já é sabido que levo apenas duas malas com minhas roupas e alguns poucos pertences. E sabe? Acho que levo muito. Estou certo de que estou a tirar uma tonelada de meus ombros que nem são tão fortes assim. Há! Mas, levo um outro tipo de bagagem e, bem sei, isso é puro clichê - você deve estar a pensar. Eu lhe contesto ante o que sinto no meu âmago. Sim, sinto-me muito leve apesar de tantos problemas ainda a resolver. 

Certa vez, na praia, ante as ondas bravias que derrubavam os banhistas em cenas contrangedoras, megulhei e fiquei submerso enquanto ouvia as ondas a bater, quebrando sobre mim.Toda a bravura do mar agitado eu percebia abaixo, submerso sob as águas. Ali havia a calma e as ondas não me atingiam. Basta que se mergulhe e a onda passa por sobre você sem que lhe atinja.

É assim que percebo o meu momento. É assim que me percebo. As ondas já me derrubaram tantas vezes que agora descobri certa técnica e as espero passar por sobre mim enquanto estou submerso ante a certeza que pode ser chamada de fé, de que tudo E sei, passará. Tudo sempre passa. Sempre passa! E sei que logo o mar estará calmo navamente. E porei minha cabeça para fora e verei o sol a brilhar cálido e o céu azul acima e no horizonte a contrastar com uma bela paisagem.

Levo comigo a Clarice, a Lispector... e o Pessoa, o Fernando, que ganhei faz tempo. São ótimas e preciosíssimas companhias! 

A minha bagagem é outra! É outra a minha bagagem!

Wanderley Lucena

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Matando Leões

E, ainda, falando em fechar ciclos... impressionante a quantidades de leões que tenho de matar por dia neste momento que vivo. "Matar um leão por dia", diz o velho adágio popular. Não mato um leão por dia, mato vários. É bem verdade que minha cabeça, por vezes, parece não aguentar. O medo ante a fera me faz suar e tremer. Minha voz, por vezes, fica trêmula e sinto o desconforto de quem foi pego em situação desconfortável. E nestas terras as pessoas adoram ver os outros desconfortáveis e constrangidos. Eu tenho por filosofia constranger o mínimo que possa ao meu próximo. Mas parece que a recíproca é inversa.

Até agora tenho conseguido superar, com dificuldades e marcas físicas, inclusive, pelo corpo. Sim, aqui as pessoas, uma parte delas, pelo menos, são violentas e não dadas ao diálogo. Está instaurada a cultura ridícula do machismo e a ignorância impera. Um simples desentendimento e vem um "barraco" que pode terminar em violência física. Eu nunca fui dado à violência física. Mas, sou cidadão, um tanto quanto, esclarecido e luto, diariamente, contra a correnteza que leva a sociedade para o pior ante a falta de ética generalizada. Sei que entrar na fila de um banco na frente do demais, por exemplo, é ato de pura corrpção. E ante esses atos me posiciono contra. De inicio vai com educação mas o tom pode subir se o indíviduo não se render aos meus argumentos óbvios.

Mas existem as agressões gratuitas. Exemplo: fui acordado madrugada à dentro por indivíduo que buzinava em frente á minha casa. Quando fui atendê-lo, simplesmente, recebi um paralepípedo voador na minha cabeça que me fez desmaiar e deixou um buraco acima do olho. Não sei quem era o indivíduo nem a causa de tal agressão. Essa marca levo para sempre. É verdade que o médico fez ótimo trabalho e me deixou quase intacto e a cicatriz quase imperceptível. Não me ressinto contra a agressão nem com minha marca. Doe-me apenas saber que fui vítima algum louco e que eu poderia ter me protegido melhor, inclusive, não ter botado os pés nestas terras.

Parece que há algum motivo cármico. Espero que seja mesmo isso. Que estamos a recuperar dívidas de vidas passadas. Eu sou descrente dessas teorias espitituais que não se podem comprovar. Mas, a teoria parece lógica e me contenta. Que assim seja!

São os leões enormes e de jubas fartas que me têm atacado. Muitos ataques são sutis e disfaçados. Certas pessoas são dissimuladas e com um sorriso de Queen Elizabeth te roubam e se dão ao direito, inclusive, de te dar lições de moral. Oras! Mas, veja só. Eu me faço de desentendido e sinto a bocarra a atingir minhas carnes com dentes sedentos por explorarem a boa vontade de cidadão de bem, honesto e trabalhador.

Vou para donde não me vejam. Vou esconder-me dentre os arbustos e ficarei ali quieto na esperança de que os leões não mais sintam o cheiro da minha adrenalina e que passem por mim sem que me percebam. Esse mundo é perigoso! Matei todos os leões que se me apareceram até agora. Saio desta savana perigosa em busca de lugar mais protegido. Um zoológico talvez!

Wanderley Lucena

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Em busca do Logus!

E cá estou eu com duas malas para arrumar tudo o que tenho. Terei que me desfazer de tantas coisas. Pratico, obssecadamente, o desapego. É o que me resta nesse momento de fechamento de um ciclo. Fecha-se um ciclo, sem dúvidas. Um novo ciclo que começa, sem dúvida! E lá vou eu em busca da minha casa ainda não encontrada. Sinto-me um hippie; um andarilho chique; um peregrino! 

Mas, por falar em peregrinar, um dos meus desejos - já quase um projeto - é fazer o Caminho de Santiago de Compostela. O Caminho me chama. E vou em busca da minha espiritualidade mal resolvida. Como você já sabe, sou agnóstico. Recuso-me a acreditar em deuses lendários por nós mesmos inventados, inclusive, o famigerado deus bíblico. Mas, sinto-me bem com a minha bagagem de fé. Parece que adquiri uma certa consciência que me permite pairar sobre tudo o que já foi criado e pensado. Estou certo que não mais me meterei no meio de um grupo de fieis sem qualquer noção crítica sobre o objeto adorado. Não me é mais possível, simplesmente, acreditar por acreditar.

Levo minhas duas malas com minhas roupas e nada mais de material. Entretanto, a minha energia está mais volumosa e saio melhor que cheguei. Estou satisfeito com a luta que não me foi inglória. Vou mais leve em tudo e por tudo! E para lá me vou! Vou-me sem pretensões algumas que não seja viver o dia o melhor que o possa! Expolorarei cada minuto e centímetro do espaço ao qual eu estiver inserido. E não perderei meu precioso tempo com nada nem ninguém que não o valha. 

Pode até ser que eu venha a buscar alguma corrente filosófica que satisfaça, de algum modo, a minha necessidade de encontrar os valores ditos "espirituais". Vamos ver! Mas, acorrentar-me a dogmas e crenças sem lógicas jamais!

Wanderley Lucena

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Achaques de Inquietação

- Não se inquiete com minha inquietação.
- Como queiras. Mas, se havia alguma mensagem submilinar em suas palavras, por favor,  traduza-as  com claridade para mim. Prefiro palavras bem ditas e benditas. Estou fechando um ciclo. O coração que não me para. Cabeça zonza de tanto pensar.
- Por que a gente é assim?
- Viverei de minha aposentadoria apenas. "Vou-me para Pasárgada!"
- Ontem conversava justo sobre isso.
- Donde repousará meu coração.
- A cabeça não pára. Desafia o destino e o tempo. Erra sozinho. Me culpo!
- Para comigo não tens qualquer dívida.
- E o projeto Tejo? Desistiu?
- Jamais! Se vivo aqui com dificuldades, viverei por lá com as mesmas dificuldades. Mas, me contentarei com o que tenho. Não quero mais. Viverei modestamente, mas, com dignidade e em paz. Valorizarei coisas menores.Viver o agora já é boa coisa. Mas, a culpa também me bate, como a você. Mas, sabe? Sinto-me orgulhoso do meu fracasso.. É o fracasso de quem se lançou! Vivi!
- "Viver o agora já é uma boa coisa". Acrescento: neste século.
- Lanço-me mais uma vez. Muitas mudanças.
- Ia dizer que soa auto-ajuda folhetim. Osho. Tenho preguiça com "literatura" (?) auto ajuda.
- Eu a pratico.
- Seus textos fogem disso. Que fique claro! Têm uma cidez que gosto.
- Mas, fico me perguntando se a tal síndrome de Polyana não me seria uma mentira. Se não suporto nem o Paulo Coelho!
-Engraçado você não perceber isso. Ou percebe?
- Acidez? Acho que não. Acho que sim.
- Acidez + humor.
- Sei que preciso melhorar a minha escrita... e muito.
- Isso que digo.
- Mas, sou feliz na maior parte do tempo. Até a minha dor e decepção me faz parte, me completa. Olho-me com candura, confesso!
- Mas não estou a fazer ode à amargura. Não!
- Acho que sempre fui irresponsável comigo mesmo. Tentarei cuidar melhor de mim. Sinto necessidade desejosa de me contentar. Saio daqui com duas malas, apenas.
- Não tem como não amar dialogar com vosmicê!
- Só você mesmo!

Wanderley Lucena






domingo, 10 de janeiro de 2016

Chuva é Alento

A chuva é alento ante a seca que até ontem esturricava a paisagem nordestina de Alagoas. É verdade que já havia uns três dias que o tempo estava emormaçado e o sol estava tímido. Mas, o calor abafado lembrava uma panela de pressão. Quase não se sentia sinal dos ventos que ajuda a refrescar essas terras áridas. Torci para que as nuvens pesassem e deixassem as gotas generosas da chuva se precipitarem sobre as plantas ávidas de água e sobre a areia quente como fogo e que queima os pés de quem ousar caminhar sobre elas.

Desde ontem estamos com tempo úmido. A chuva chegou e molha as imensas folhas da jibóia trepadeira, planta tropical que envolve a imensa árvore que vejo logo adiante de minha janela. Elas ficam como que reluzentes e lubrificadas. Há o barulho das gotas caindo sobre o teto e o jardim e isso por si só, já é música que embalaria qualquer alma atribulada em sono de paz momentânea.

É verdade que a chuva prejudica os negócios do turismo e ninguém saiu de seus apartamentos e casas a encarar o tempo que, por incrível que pareça, está frio, e se jogue nas águas mornas dos mares das Alagoas. Sim, mesmo com chuva e frio a temperatura do mar continua morna como se você tivesse entrada debaixo de edredon quentinho e ali ficasse até que seus pés já não estivessem doendo com o frio.

Os cachorros brincam nas areias molhadas e parecem sorrir de felicidade. Cachorros vira-latas de todas as cores e tamanhos fazem parte desta paisagem. Eles aceitam o carinho de qualquer um e te agradecem a aabanar o rabo e se deitarem aos seus pés pedindo um carinho em suas barrigas. São verdadeiramente livres as tais criaturinhas. Esses não se rendem ao frio nem ao calor. Eles se protegem debaixo das sombras quando o sol está à pino mas, basta um estalar de dedos e eles se arriscam e vêm receber o seu carinho.

Mas, a chuva bendita tem dia e hora para acabar. Assim sendo fico neste dia sombrio a ver as notícias tenebrosas da política brasileira nos jornais televisivos. Passo por todos os canais em busca de algo que me entretenha e quando o acho, relaxo e me rendo sob o som da chuva em meu telhado. Um prazer inenarrável!

Permanece-me a inquietude latente de quem parece está no lugar errado, todavia. Ainda prefiriria está em Paris! Mas, confesso, me contentaria com Lisboa ou qualquer outro lugar no velho continente! Amo tudo isto!

Wanderley Lucena




domingo, 3 de janeiro de 2016

Chance Zero

O ano começa com todos os problemas do velho ano, o ano que se acabou. Parece que nos falta - ou que me falta - um ingrediente importante do ano de 2015 ou do início dele, a esperança. Àqueles ainda continuam esperançosos no quesito Brasil eu sinto vos informar que vossa esperança é vã. Somos um país sem solução. Não temos educação que nos faça votar com consciência e ética. Cinquenta Reais vale um voto neste país. Por vezes. basta uma cesta básica com produtos de quinta categoria e se garante o cabresto que elege o corrupto ao posto de representante legislativo em qualquer casa representativa deste povo ignorante. 

Não temos educação e, muito menos família! Há toda uma geração que já está perdida. Essa geração já não recebeu os valores básicos que seriam transmitidos de pai para filho. Tal fenômeno ocorre porque a geração anterior à atual já estava em franco processo de deteriorização de seus valores. 

É de arrepiar perceber que esta geração sem qualquer valor está a presentar a terceira geração que já nasce no negativo. São verdadeiros zumbis; caixas sem conteúdo algum que vislumbram a sua sobrevivência no acaso e têm nas bolsas esmolas do governo a certeza de seu miserável sustento.

Claro que as tais malfadas bolsas são, na verdade, incentivo à preguiça irresponsável de quem não se sente na obrigação de qualquer esforço físico ou mental. Não há família que lhes instrua e obrigue a comparecer em escolas e que se eduquem para que pudéssemos ter um futuro melhor.

A educação por si só está sucateada e com um corpo de funcionários muito mal pago. Os professores recebem uma merreca e em muitos lugares, sequer são concursados e não têm eles qualquer nível que lhes garantisse o posto. Tais profissionais contam com a irresponsabilidade de governantes corruptos e sem ética. 

Há esperança? Não. Vejo um futuro tenebroso e dias sombrios de caos e desordem na república das bananas! A solução única aos que têm juízo é o embarque internacional para nunca mais voltar!

Wanderley Lucena