quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Bons Pecados

Apreciei o líquido que me descia garganta abaixo depois sentir minhas glândulas palatais inchadas pelo gosto ácido e ocre. Na taça permaneciam lágrimas a descer de cima para baixo quase imperceptíveis ao olho nu. Um cidadão em mesa ao lado deu uma baforada em um charuto que, com certeza, era cubano. Nunca fui apreciador das fumaças por pura falta de costume e por saber o risco que se corre. No pátio aberto os odores variavam desde o manjericão nas massas servidas, a maresia que vinha do mar logo adiante, a fumaça do charuto e de um jasminzeiro imenso que estava logo na entrada do restaurante.

A companhia não era das piores e eu estava feliz mais uma vez e a constatar que valia mesmo muito a pena tudo o que fiz de minha vida. Com todas as aventuras e desventuras... sinto-me orgulhoso de minha rebeldia e independência. Não quero que pensem que não sou consciente de que todos precisamos uns dos outros o tempo todo. Eu mesmo gosto muito de dividir sempre. Mas, confesso tenho uma dificuldade enorme em aceitar ajuda. E sei que chegará o dia em que não mais darei conta de minhas necessidades básicas. E ai... que Deus tenha misericordia e que possa pagar alguém a cuidar de mim.

Eu quero os sabores dos pecados todos. Quero os sabores dos verdes e dos maduros. Quero ver a montanha ao longe ou a minha pele a envelhecer nas minhas mão já manchadas pelo tempo a apenas alguns centimetros de meus olhos. Já não quero as garantias do futuro certo. É que se assim o fora me acabariam as aventuras. Quero ir-me sem saber para onde. Quero satisfazer a todos os meus desejos. Minha casa será a casa de todos os que eu quiser em minha companhia.

Que o gosto seja travoso, ácido, adocicado. Que venha sempre acompanhado de todos os demais sentidos. Cheiros bons. Toques leves e demorados. Uma boa paisagem de longe ou de perto. Que os ouvidos ouçam bons sons. E que os cheiros sejam do jasmim, de lavanda, de alfazema. E que a recordação vá longe e traga as sensacões da infancia vivida com tanta intensidade e que não mais voltará.

Não mais quero as gentes certas nem os equilibrados. Quero os que ousam e se rebelam. Os que pensam por si e não pelo que lhe rezaram. Que coloquem boa música e que encham a taça com bom vinho. Que tragam os cubanos para que possamos fumar e comemorar a vida! Com bons odores , com bons sabores, com toques de todas as músicas! Viva! 

Wanderley Lucena

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