terça-feira, 20 de janeiro de 2015

CENA DE FAMÍLIA MODERNA

- Mãe, estou namorando! - Disse a filha mais nova.

- Com quem, minha filha? - Perguntou a mãe, sabedora que o genro não devia valer grande coisa.

- Com o Parafuso - respondeu a garota esperando resposta sisuda e de desaprovação, haja vista, a má fama do rapaz. Parafuso era magrelo e arredio. Tinha os dentes amarelados pelo uso excessivo de "la marijuana" e já tinha sido preso, não só uma vez,  por vender o referido produto.

- Que bom minha filha - respondeu a mãe a surpreender a filha.

- Mas mãe, ele é surfista - reclamou à mãe a filha mais velha que se encontrava encostada no balcão da pia a tomar um café preto em copo americano. Na verdade, a expressão da filha era de surpresa estupefacta.

- Minha filha, surfista é tudo gente boa, você sabe bem disso - justificou a mãe enquanto desviava o olhar e a enxugar a pia.

- Mãe, ele é traficante. Vai dizer que você não sabe? - insistiu a filha intrometida.

- Que bom! Assim o meu vai sair de graça - respondeu.

Wanderley Lucena

A SURPRESA E A INDOLÊNCIA

Até uma semana atrás a Praia do Francês, ao menos para mim, apresentava paisagem paradisíaca e mais nada. Os ambientes eram desleixados e o serviço, desde restaurantes a hotéis,  pareciam parados no tempo. Os estabelecimentos eram feitos de forma remendadas, na base do "puxadinho". O puxadinho, a gambiarra e o mau gosto que perpassa pela pobreza que vai dos tons desequilibrados das cores até os móveis pobres e rudes feitos à machadas em cima de madeira esquisita e pesada como o coqueiro. Aliás, vim saber que coqueiro era madeira para se fazer móveis nestas terras. Para mim coqueiro só servia pra dá côco. Sim, aqui coqueiro é madeira, e de lei. Fazem-se móveis que vão desde as cadeiras até as camas e armários de cozinha. É madeira pesadíssima e efeito burlesco  negro-moreno, deselegante A exceção fica para quando usado no exterior das casa. Fazem-se cercas e até pérgolas . E nada tenho contra o coqueiro. Acho mesmo que neste momento de consciência ecológica, vai muito bem a escolha pelo coqueiro. Mas, tenho certeza que o coqueiro está sendo mal utilizado na falta da criatividade, quiçá, pela preguiça impregnada na consciência generalizada.

Mas, foi na noite de natal que saí de casa desanimado, meio que forçado por amigos que me haviam convencido a ir a uma festa de nome "SUBSTACION".

Surpresa das surpresas! A festa acontecia em estrutura que já fora um armazém. A rua na qual se localiza é uma pérola colonial. As construções estão bem preservadas e a iluminação está em postes de ferro envergado - com certeza, aquilo é francês - de mais de cem anos.

As paredes em tijolos que um dia já foram rebocados, ganharam iluminação projetada em canhões desde o chão que explodem na cor ocre  do barro e explode em espetáculo de equilíbrio. As portas lembravam as das igrejas antigas e o interior, enorme, com multidão de gente linda a dançar música boa maestrada por DJ local que em nada deixou a desejar aos grandes das maiores capitais do país.

Grandes espelhos emoldurados foram colados, displicentes, ao longo das paredes. Os espelhos eram desde o teto ao chão. O ambiente parecia maior ainda.

A minha felicidade era a de está engando. Sim, alguém sabe fazer alguma coisa direita por aqui. E gente daqui fazendo coisa como os de lá. Adorei a festa e voltei pra casa apressado, haja vista, o vigilante não ter atendido as minhas ligações para informar-me que tudo estava bem. Cheguei e o encontrei a dormir como uma "Bela adormecida" no meio do salão do café manhã depois de ter fumado alguns "backs", pré-suponho. E ai, saí da fantasia e encarei a realidade ante a cena. Eu continuava no mesmo lugar, rodeado de gente indolente e matreira.

Wanderley Lucena