A estória que passo a contar-vos é verídica e aconteceu na Praia do Francês, nas Alagoas. Mãe e filho vieram de Maceió a tomar banho de mar. A mãe descuidou-se e, horas depois, percebeu a ausência do filho. Procurou-o por demais e, aterrorizada, concluiu, certo como dois e dois são quatro, que o filho querido morrera afogado e que o corpo fora levado pelas águas do mar. Com muita sorte o corpo seria devolvido e ela poderia enterrá-lo com velório digno.
A mãe esperou por cerca de dois dias, porém, o corpo não apareceu em lugar nenhum. Ela voltou para Maceió, antes alardeando que daria polpuda recompensa a quem achasse e lhe devolvesse o corpo de seu filho amado.
A mãe esperou por cerca de dois dias, porém, o corpo não apareceu em lugar nenhum. Ela voltou para Maceió, antes alardeando que daria polpuda recompensa a quem achasse e lhe devolvesse o corpo de seu filho amado.
Um velho pescador, pobre-pobre-de-marré-deci, visualizando na recompensa a possibilidade de matar sua fome, passou noites a fio, a andar pela praia, na esperança de achar o corpo que, bem, poderia ser devolvido pelo mar durante a madrugada.
Dado momento da madrugada o velho pescador tropeçou em carne humana putrefata e deu pulos de alegria. Sua busca chegara ao fim. A sorte lhe sorria. Entretanto, o mar devolvera apenas a perna do defunto. O resto do corpo, com certeza, as feras marítimas já haviam devorado.
A perna putrefata, fedendo mais que carniça, foi colocada dentro de um saco de estopa e o velho pescador pegou o ônibus logo cedinho, rumo a Maceió onde entregaria á mãe do morto e receberia sua rica recompensa. O ônibus estava lotado e o povaréu logo começou a reclamar com o motorista que decidiu averiguar a situação.
O saco com a perna logo foi identificado como a causa de tamanho desconforto às narinas dos passageiros. Todo mundo assustado ante a perna humana e o pescador de olhos arregalados, já quase sendo linchado. Depois de muito explicar e já chorando, o velho pescador convenceu todo mundo de que levava a perna do defunto como ato humanitário e porque esperava matar a fome com a recompensa que receberia. Todo mundo ficou com dó do velho pescador e decidiram deixá-lo seguir viagem mesmo com a perna do morto dentro do saco.
O ônibus seguiu viagem levando o velho pescador, porém, o saco foi segurado pela janela, do lado de fora pelas ruas de Maceió até chegar na casa da mãe do morto. O pescador voltou para a praia com sua rica recompensa e matou sua fome por uma semana. Sobrou, ainda, para um litro de cachaça que o velho pescador tomou com os amigos enquanto contava a dita estória sob a lua da Praia do Francês.
Wanderley Lucena