quarta-feira, 28 de março de 2012

O EQUILÍBRIO DISTANTE


Malho todos os dias, há anos. Além de pegar pesado nos ferros, levantar muito peso, encaro a esteira de corrida e, por meia hora, botando os bofes pra fora, suo igual chaleira,  numa corrida acelerada que, apesar de tudo, não saio do lugar. Meus pulmões em busca de ar e meu coração a bombear, acelerado, sangue para todas as extremidades do meu corpo. Os músculos, em perfeita mecânica, obedecem o comando do cérebro e se esforçam em esticamentos dolorosos. 

Mas, o ambiente "academia" me lembra muito o de uma masmorra. Não que eu já tenha visto alguma. Não ao vivo e à cores. Mas as fotografias, a história e os filmes nos fazem ter uma noção das torturas ocorridas nos calabouços ao longo da história da humanidade. Muitas foram as máquinas inventadas conforme a criatividade maléfica de quem queria torturar. Mas as máquinas lembravam, em muito, as máquinas que vejo nas academias. E se for falar dos studios de pilates... aquilo é tortura pura. 

Mas sem a tal malhação, sem todo o suor, sem puxar tanto peso, perde-se qualidade de vida. O bucho já me teria impedido de ver a púbis e os pneus estariam parecendo uma boia atracada à cintura de quem se joga à piscina sem saber nadar. As taxas de triglicérides, colesterol, açucares, etc... etc... etc... já estariam na estratosfera. 

Graças a tanto esforço, cá estou... inteiro aos 46 anos. Uso o mesmo numero de calça e camisa dos meus 20 anos e a barriga continua sendo uma barriga e não um bucho. Levo minha vida sem grandes excessos. Controlo minhas farras ao limite do bom senso que permite minha idade - e nem entrei na terceira idade, todavia! Como o mais saudável possível - estou na onda dos produtos orgânicos. E como custa caro comprar na prateleira dos orgânicos - o dobro ou triplo das demais mercadorias.

E é graças a tanta tortura que mantenho um outro equilíbrio. O mental-espiritual ou espiritual-mental, como queira. Não sei... mas me sinto mais em paz depois de ter feito tanto esforço. Sinto que o esgotamento, o suar às bicas, me faz emergir das profundezas de algum estado de hibernação e me lança para o amanhã num otimismo e bom humor que... não sei se sem ele, o esgotamento, eu teria.

Mas como seria bom se quanto mais eu comesse eu emagrecesse; se quanto mais eu ficasse parado meus músculos se definissem; se enquanto eu dormisse todas as taxas de gorduras, colesterol, triglicerídios e etc... e tal... se equilibrassem. 

Certo é que "tudo que eu gosto é ilegal, imoral, ou engorda!" - uma merda mesmo! Tudo em nome da saúde e da beleza. 

Wanderley Lucena

quarta-feira, 21 de março de 2012

POR LA REVOLUCIÓN

 
A guerra, nada santa, agora é entre a Igreja Universal e a Mundial do Poder de Deus. Edir e Waldomiro e digladiam em rede nacional. A disputa é pelos fieis que debandam da Universal rumando para a Mundial. O Edir acusa o Waldomiro de ser ladrão e contrabandista de armas e de ter ficha policial. E é a mais pura verdade mesmo.

Ora veja! Logo o Edir. O Edir! O sujo falando do mal lavado. O Edir já foi processado inúmeras vezes e todos lembram dele atrás das grades com a Bíblia na mão a posar para as fotos enquanto seus fiéis oravam para que ele fosse solto. Ele foi mesmo solto. Mas não foi por causa das orações dos incautos fiéis e sim por causa dos advogados, pagos a peso de ouro, com o dinheiro dos dízimos e ofertas destes mesmos fiéis incautos. Mas a imagem que mais me agride, no entanto, é a PresidENTE recebendo o Edir no Palácio do Planalto. Me causa náseas!

Enquanto isso a igreja permanece orando passivamente. Esquecem que o que pedem e esperam de Deus, Ele já lhes deu: o discernimento, a capacidade de fazer justiça com a próprias mãos, justiça com os instrumentos  legais à disposição etc... Bando de cabrones covardes que não se indignam ao ver os humildes a serem explorados em sua ignorância. Jesus acoitou os que fizeram do templo mercado, esqueceram?

Eu vos digo: façam a revolução! Saiam de vossas igrejas e procurem os tribunais! Peguem em armas se preciso for! Mas não sejam covardes, nem esperem que Deus faça o que lhes é devido. Vós sois os instrumentos que Deus quer usar.

E vocês, ovelhas tosquiadas, se escondem covardemente a esperar que Ele mande um raio que venha a cair bem na cabeça do Edir e outro na cabeça do Waldomiro. Francamente! Acordem bando de covardes!

"Vós sois o sal da terra".

Wanderley Lucena

terça-feira, 20 de março de 2012

MINHA CARGA DE MANIAS

 
São tantas as manias que adquiri com o tempo. Mania de molhar os pés a todo instante; mania de ter o ventilador ligado em cima de mim por todo o dia e noite - aliás, se pudesse, baixaria a temperatura em cinco graus; mania de falar sozinho - e por vezes xingo e esbravejo, em alto e bom som; noutras faço uma oração; noutras pronuncio o nome de quem estou a pensar.

Mania de limpeza - não gosto de louça na pia, de ver pó no chão ou nos móveis; não suporto pentelhos espalhados no chão do meu banheiro; mania de tirar pelos das orelhas e do nariz também - e com idade eles, os pelos, só aumentam. Tenho mania de tomar café feito na hora - talvez porque o café engarrafado tem sabor velho ou por causa da minha gastrite; Mania de escrever - e postar neste blog. 

Muitos deveres me foram impostos pela vida. É claro que poderia simplesmente renegá-los, mas, se o fizesse, bem sei... minha vida seria menos saudável, menos organizada. Todos os dias sou obrigado a malhar - e isso significa pegar pesos e correr meia hora, botando os bofes pra fora, numa esteira mecânica que foi projetada pra me oferecer maior conforto e fazer da minha corrida mais macia e fácil, no entanto... Mas, as obrigações não são manias.

Sou obrigado a separar contas a pagar das que já foram pagas; recibos e notas; imposto de renda; manuais e apólices - haja pasta e gaveta pra guardar tanta coisa!  

Mas gosto cada vez mais das minhas manias. Estou cada vez mais tolerante comigo mesmo e com o próximo também. É verdade que a idade nos aguça a percepção, talvez pelas repetições de situações. De longe, sei se vale a pena ou não, perder meu tempo com determinado indivíduo. Adoro um bom colóquio. Gosto de conversar sem o ruído da discórdia agressiva. Gosto de discordância e acho que é ela quem nos acrescenta o que ainda não sabemos e pode nos fazer ver o assunto por outro ponto de vista. Acho difícil e irritante conversar com ignorantes, impacientes, pré-conceituosos e, ainda, quem pensa ser o dono da verdade e se põe a falar inflado, crendo está em posição superior. Se o colóquio não foi agradável... perdi meu tempo. Mas, se a conversa for em um bar charmoso - mais uma de minhas manias - com uma cerveja gelada, meu limite de tolerância pode, tranquilamente, pode ser expandido - ou não! 

Gosto das minhas manias e suporto minhas obrigações. Minhas manias me são leves, já as obrigações, embora, essenciais à sobrevivência, são um saco! É isso!

Wanderley Lucena

sábado, 17 de março de 2012

ESPANTA ENCOSTO


Uma peste! Um torcicolo me atormenta a três dias. Já tomei o Torsilax que sempre resolveu o problema, mas, que desta vez... não tem qualquer efeito. Massagens com Gelol, banhos quentes e compressas. Nada! Impede-me relaxar. E dormir é uma tormenta. Ouvi dizer que pode ser carência de vitamina D. Para mim é coisa da idade mesmo. Mas, a Vitamina D se encontra aonde? Eu que tomo o complemento vitamínico com alguma frequência penso está com tudo balanceado. É bem verdade que, apesar da complementação artificial de vitaminas, sinto que as coisas já não mais estão como dantes. Tudo insiste em cair.

Não encontro posição para sentar, para deitar, etc... Maldito torcicolo! Parece que tem uma estaca cravada bem no meio das minhas costas. Levantar da cama hoje cedo me fez lembrar do tempo em que carregava o cofo de milho nas costas desde a roça para casa. Me sinto entrevado. 

Pode ser um "encosto", haja vista, meu estado de evolução espiritual ainda está bem aquém e me deixar susceptível a tais forças.  Já acendi uma vela de sete dias, botei um incenso para queimar, chamei a faxineira para limpar a casa e joguei um sal grosso depois de uma oração daquelas de espantar até Curupira.

Wanderley Lucena


sábado, 3 de março de 2012

MIGUÉ, ONOFRE E ARMANI


- Ocê quer arco, quer tarco, ô quer cu mui - pergunta o Migué barbeiro lá pras corrutelas do Pernambuco.

- Você vai quer com álcool, com talco ou quer que eu umedeça? - Pergunta o elegante barbeiro na Barbearia do Onofre, no Planalto Central.

- Óh o aio ai ó! hó o aio ai! - grita o vendedor de cordas de alho em frente à barbearia do Migué.

- Olha o alho! Quem vai querer comprar alho - é aveludada voz de Silvio Santos impostada do vendedor de alhos na Barbearia do Onofre.

- Me dexe bunito pra pudê pegá muié lá no Buraco Quente - diz o cliente de Migué ao informar que o trato é intencional e que vai se divertir com as mulheres da zona da corrutela.

- Capriche ai que hoje vou na Star Night - é o que diz ao barbeiro o cliente que vai à boate do Setor Comercial.

- Passa o redondo e a féria do dia - anuncia o assante de peixeira na mão a pontar para o velho relógio Seiko do Migué e para a gaveta onde estavam as moedas ganhadas por todo o dia de trabalho.

- Cadê meu relógio? - Se pegunta o barbeiro do Onofre ao perceber que o cliente com cara de deputado lhe surrupiara o Armani depois de furtar o caixa levando umas centenas de reais.

Wanderley Lucena