quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

UM ABACAXI POR ENFEITE

As argolas enormes, em plástico branco, nas orelhas do rapaz me fizeram lembrar o feioso índio Raoni. O buraco era tão grande que eu podia ver, por entre eles, o ônibus do outro lado rua. E o Raoni é mesmo muito feio. Mas o moço não o era. Ele era até bonito. É que em sua ânsia por fazer-se perceber, enfeitou-se demais. O rapaz tinha uma enorme tatoo que ia desde a cintura até o pescoço. A cor berrante da tatoo saltava aos olhos de quem queria e de quem não queria ver.

Ele fazia questão de mostrar corpanzil ao despir-se da cintura para cima em toda e qualquer hora, por mais inadequada que fosse a  ocasião. E, mais: um corte moicano que lhe dava a aparência de periquito australiano. O pior mesmo, o indefectível, era a cueca que fora, propositadamente, puxada para cima , rumo ao umbigo, enquanto a calça caia, desleixadamente, mas de propósito, bunda abaixo. O cós da dita cueca era por demais largo e a marca - diga-se - barata, estampada em vermelho urucum, pretendia provocar a lascívia de quem olhava. O rapaz rebolava freneticamente em dança sensual que deixaria qualquer loira do "tcham" boquiaberta. O pior é que, por mais que tentasse, não conseguia deixar de notar, muito negativamente, toda a pavonice daquele moço.

- Mas, a beleza está nos olhos de quem ver - pode me advertir você.

- Francamente! - lhe responderia eu.

Ouvi dizer, e concordo, que muita informação visual pode não ser uma boa a quem pretende a elegância. A elegância é equilíbrio discreto e harmônico. Mas os moços têm o direito de querer ser atraentes e de não passarem desapercebidos. E têm até o direito de errar. Entretanto, chega uma hora na vida em que não se pode mais errar. Ou que, pelo menos, não se deveria. É que a coisa fica ridícula. Aos homens maduros não fica bonito agirem como adolescentes ou crianças e virse-versa.

Todos podem, e devem, se enfeitar. A natureza toda é assim. Exemplo é o galo-de-campina e sua crista; o pavão e sua calda; a ave-do-paraíso e suas cores exuberantes; o leão e sua juba, etc... Embora o homem também goste dos enfeites, somos o único ramo do reino animal considerado "racional". E o que nos difere dos irracionais é, justamente, a nossa capacidade de domínio sobre os nossos instintos. É o "quero, mas não posso"; "posso, mas não devo"; "posso, mas não quero". É que tudo demais é "desequilíbrio". 

E a discrição é tão chique. A discrição nunca é sinônimo de desequilíbrio. Ser notado no meio da multidão, apenas e tão somente, por se ser quem se é. Não por causa do abacaxi que se leva à cabeça. A pavonice é considerada breguice pavorosa em várias situações, exceto, no carnaval. Mas, como diz um amigo meu: "quem paga a conta sou eu, portanto..."  E eu que não pago a conta tento conter-me em meus "instintos" de sinceridade e informar em leras garrafais "você está brega". Até porque a tal racionalidade me informa que sinceridade demais é breguice igual à de quem bota o abacaxi na cabeça e sai por ai dizendo ser galo-de-briga.

E, no fim, todos somos, em algum momento, bregas mesmo. Olha eu aqui escrevendo sobre isto... quer coisa mais brega?

Wanderley Lucena

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