sábado, 24 de dezembro de 2011

O CAFÉ DE BODOCONGÓ

Quando li o valor da conta quase não acreditei. Tive a sensação de que aquilo me estava sendo cobrado em libras, quiçá, em euro. Mas não! Eu ia pagar na nossa moeda, o Real. Mas aquilo estava irreal. Perguntei ao caixa se aquilo estava certo. Se era mesmo aquele o valor a ser cobrado. Sim, o valor era aquele mesmo. Me senti no primeiro mundo. Um café com chantily, um pão de queijo e uma água não podiam custar dezenove Reais. A não ser que fosse no Café de la Paix. E lá nem tem pão de queijo e sim um croissant dos deuses e não essa coisa ressecada que comemos aqui na terra das bananas. Se não saímos do terceiro mundo, eu fui assaltado com certeza e recibo. 

Uma semana depois deste fato, fui a outro café. Esse um pouco mais intimista, mais chique e até o nome era francês. Pedi de meu café com chantily, um porção de três churros minúsculos acompanhados de uma irrisória porção de doce de leite e uma água não gasosa. Novamente tive a mesma sensação. Paguei vinte e um Reais por aquilo. O chantily nem era tão bom, me veio separado numa pequena tigela, e o doce de leite  era só uma gota perdida no pequeno recipiente e nem era lá essas coisas no sabor.

Sou viciado em café e isso todo mundo já sabe. Mas um expresso, mesmo que colhido pelas monjas cegas, mancas e castas do mosteiro de Bodocongó, a meu ver, não poderia custar mais que três Reais, a preços de hoje. Mas o pior é uma água que foi engarrafada numa torneira qualquer me custar cinco ou seis Reais. Uma coca-cola que é formulada com trezentos milhões de compostos químicos, não custa o preço do expresso ou da água, então como se pode cobrar  cinco reais por uma garrafa minúscula do líquido vital e que corre abundantemente, aos rios, pelo nosso país continental? A mesma água pode ser tomada de graça no bebedouro do mesmo shopping. Água não devia ser vendida neste país. Na Europa, onde já se vive a escassez, garrafas de água são postas, gratuitamente, na mesa de quem pretende almoçar ou jantar.

A solução, no meu caso, é montar, eu próprio, minha cafeteria em local que faça fundos com um rio. Vou tomar meus expressos colhido pelas mesmas freiras a preço de custo e, ainda, ganhar dinheiro vendendo água a preço de ouro e, fartamente, oferecerei, de graça, água a quem o queira. Mas, certo é que algo está errado. E é meu salário! Apenas ele, insista em ficar terceiro-mundista.

Wanderley Lucena

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

SONHOS SONHADOS

Ontem á noite sonhei um sonho engraçado. Sonhei que sonhava um sonho. E nunca tinha imaginado que se pode sonhar que se está sonhando. No meu sonho sonhado me aparecia alguém que me dizia me está vindo em sonho para que eu avisasse a um parente seu que ele, o parente, iria morrer. Acordei atônito e me levantei, meio que em transe, e me fui lavar a cara. Voltei á minha alcova e, de novo, sonhei. Sonhei que estava ante o parente e que não tinha coragem de dizer-lhe que havia sonhado o sonho no qual algum parente seu lhe avisava de sua morte iminente. Nesse segundo sonho, me lembro, fiquei na dúvida se havia mesmo sonhado aquele sonho e se ele era digno de credibilidade. Sonhos são só sonhos. E sonhos que são sonhos de sonhos devem ter menos importância ainda. Quando acordei do segundo sonho, encafifado, fiquei a pensar em quantos sonhos dentro de sonhos eu havia sonhado. Não sei quem que me aparecia no sonho, nem a quem deveria avisar de alguma morte. Entretanto, nessa semana, pura coincidência, morreram Cesária Évora, Sérgio Brito, Joãozinho Trinta, Rodolfo Bottino e um mequetrefe chamado Kim Jong-il.

Wanderley Lucena

Promessa



Vontade de partir
de começar de novo
começar diferente.
Vou sair sem hora para voltar.
Preciso de mais espaço
de novos horizontes
de objetivos claros.
Talvez nem volte.
Volto pra te visitar.
Prometo!

Wanderley Lucena

CUIDADO COM O QUE PENSA


Por vezes...
leio pensamentos.
Cuidado com o que pensa na minha frente!
Será que lemos?

Wanderley Lucena

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CHUVA, LENÇÓIS E MARASMO.


O marasmo, o ócio, a inércia. Dia de chuva, de frio, de ficar debaixo dos lençóis, coberto dos pés à cabeça. Sem atender interfone, campaínha, telefone. Por mim não levantaria da cama hoje. Ficaria sentindo o cheiro do confort do edredom e o carinho do algodão em minha pele. Mas... meu café. Preciso de café. Tenho de levantar ou o vício vai me fazer mal humorado. Enquanto preparo o café ligo a tv. Tv a cabo. Centenas de canais e todos parecem repetir as mesmas programações. Nos jornais... notícias repetidas sem cessar.

Mas... mortes... muitas mortes. Quanta morte! Quanta perda! Isso é pura coincidência, um acaso. Mas chama a atenção. Jãozinho Trinta, Sérgio Brito, Cesária Évora. Mas a última, confesso, é para se comemorar. O mundo ficou melhor com a morte de Kim Jong Il, o pigmeu que era dono da Coréia do Norte. É bem verdade que no lugar dele pode surgir alguém ainda pior.  E na arte da maldade o ser humano é sempre capaz de superar-se. 

Mas... e a Cesária? Quem a substituirá? E o Sérgio Brito e sua maestria com a cultura? O Joãozinho Trinta, meu conterrâneo, e sua criatividade para fazer coisas grandiosas? Para esses não haverão substitutos. Uma ironia da vida. Os bons são insubstituíveis, já os maus...

Fica ao menos o legado dessas pessoas. Eu sempre ouvirei a Cesária na minha casa. A obra deixada pelo Sérgio será sempre lida e muitos se mirarão nele para tentarem criar um teatro cada vez mais significativo e criativo. O legado do Joãozinho vai ficar nas imagens e no ensinamento por ele passado aos seus muitos discípulos.

Que o natal e o ano novo cheguem com notícias melhores. E o ócio, a preguiça, o marasmo, a melancolia... hahhh!!! Servem pra escrever bobagens como esta.

Wanderley Lucena