quarta-feira, 21 de setembro de 2011

UMA REFLEXÃO SOBRE FÁBULAS



Do alto de seu púlpito, falando para um público cauterizado pela ignorância, aos berros, com total empáfia e demonstrando desrespeito para com a religião alheia, o pastor contava aos incautos ouvintes a estória de Lord Ganesha, deus do riquíssimo panteão indu. Eu já estava a me retirar, não só porque já conhecia a estória desse deus, mas, também por desprezar a forma como aquele pastor ridicularizava o lord Ganesha e todos os que nele acreditam. Mas eu fiquei curioso para saber o desfecho daquele discurso insano e me preguei no banco duro de madeira. 

Lord Ganesha, segundo a fábula, já estava concebido no ventre da esposa de um guerreiro que saíra para a guerra desconhecendo que a deixara grávida. Ao retornar para sua casa, sete anos depois, encontrou a brincar o menino de seis anos de idade. O guerreiro concluiu que sua esposa o havia traído quando de sua ausência e, enfurecido, sacou da espada e degolou a cabeça do menino. A mãe em desespero saiu à procura de um animal qualquer ao qual pudesse cortar-lhe a cabeça para grudar no corpo de seu filho desfalecido. O primeiro animal que lhe apareceu foi um elefante. Ela lhe cortou a cabeça e grudou no corpo do menino que virou, desde então, Lord Ganesha, deus destruidor dos obstáculos. 

O pastor peguntava aos presentes como alguém podia acreditar numa estória tão infantil, ingênua e ridícula, dentre outros adjetivos nada respeitosos. Todos riam do que o pastor dizia. Menos eu que, indignado, procurei o pastor, por pura prudência, depois do culto, para perguntar-lhe se ele acreditava que uma serpente falara, em voz audível, com a Eva no paraíso. Se ele acreditava que tudo havia sido criado em seis dias, do nada, e que seu deus, todo poderoso, cansou-se a ponto de decretar feriado no sétimo dia. Se ele acreditava que Jonas havia sido engolido por uma baleia que, depois de alguns dias, empanzinada com a indigesta presa,  o vomitara vivo. Que um jumento falara com quem o surrava. Que Jesus um dia virá, montado num cavalo branco sobre nuvens, com todo o seu exército, flutuando sobre elas como se nem peso de algodão tivesse, etc... etc... etc...

O pior é que a sua resposta foi afirmativa, embora, seus olhos demonstrassem total insegurança. Eu lhe informei que tais estórias, contadas todas no "livro da verdade", a bíblia, eram tão fantasiosas, ingênuas e infantis quanto a deus Ganesha. 

É que o macaco senta encima do rabo e dana a falar do pitoco do coelho. O telhado é de vidro mas... vamos jogar pedra no telhado dos outros. Me retirei do ambiente certo de que ali não mais voltarei. Só não foi tempo totalmente perdido porque deixei no pastor a insegurança e, queira Deus, a reflexão. 

Wanderley Lucena

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