terça-feira, 19 de julho de 2011

REBUCETÊ!


Não estou mal humorado, muito pelo contrário... mas, não sei porque, tenho visto que o mal gosto tem crescido na minha cidade. Jesus! Cruz credo! Bom... é melhor usar o velho clichê: melhor que ser cego.

Fui á Ermida Dom Bosco depois de longo tempo. Era fim de tarde e, propositadamente, pretendia mostrar o belíssimo por do sol a um amigo visitante. Demos de cara com umas vinte noivas a tirar fotos para seus books de casamento. Estragaram o mais lindo por de sol. Noivas que mais pareciam drags queens com tanta maquiagem e vestidos bufantes, deitadas na grama, de bumbuns pra cima, riso estatelado, piscando os cílios postiços como asas de borboletas monarcas.

Uma delas bateu recorde, ganharia disparado o troféu do mal gosto. O vestido tinha uma longa calda a arrastar no chão, mas a frente do mesmo vestido... pense num negócio...  no comprimento, era mini-saia. As pernas da moça estavam muito bem expostas, embora, ensacadas em uma meia-tarrafa. Rendas e frufrus a dar com pau, compunham a minha saia.  Uma imensa, coroa made in Paraguay, brilhava como o imenso lustre do Municipal. Na cabeça, o que me pareceu ser uma peruca em cachos imensos, muito bem encaracolados, me lembravam os anjos barrocos do Aleijadinho e o velhos bobes. Aquilo só podia ser fruto dos velhos bobes, caso aquilo fosse mesmo cabelo e não uma peruca  sintética.

Para todos os lados, o mesmo inferno. Noivas, noivas e noivas. Flashes a espocar entre sorrisos engessados. Além dos fotógrafos mal apanhados nas fuças, de auxiliares impúberes e despreparados,  as mães das noivas, orgulhosas, de peitos fartos, ofereciam espetáculo à parte. 

No outro dia, num domingo ensolarado, fomos ao Parque da cidade. Infernos! Parece que agora virou moda na cidade. Casais recém-casados, oriundos de motéis da cidade, estão nos obrigando a ver a sua felicidade. Corações desenhados nos vidros, balões presos em todos os vidros, latas a arrastar pelo asfalto presas nos para-choques do seus carros populares. "Recém-casados", "Unidos pelo Senhor Jesus!", "Felizes para sempre" eram frases que estampavam os tais casais. As caras mal-dormidas exalavam o torpor da noitada de sexo. O som que vinha dos carros era o da música sertaneja.

Qualquer pessoa de bom senso retiraria tais apetrechos ainda no motel. Mas não... eles querem que todo mundo os vejam e os ouçam...  Só me lembrava da música do Lupicínio Rodrigues: "Esses moços, pobres moços... Há! Se soubessem o que eu sei".

Mas, aproveitando que meu amigo precisava conhecer os pontos turísticos da capital, decidi levá-lo à boa e velha Água Mineral em dia de semana. Minha esperança era encontrá-la um pouco mais vazia que nos finais de semana. Há muito tempo que deixei de frequentar o local. Ouve o tempo em que o mal gosto, a falta de educação ainda não imperavam por ali. Mas ao chegarmos, logo de cara, percebi que o local permanece estagnado no tempo. A mesma estrutura de quiosques dos anos sessenta serve caldo-de-cana e pasteis encharcados de gordura que podem levar o incauto consumidor, facilmente,  ao pronto socorro do HBB.

A piscina estava entupida de meninos ao berros, casais em carícias que deixariam qualquer moderno de cabelos em pé, farofa de ovo, mulheres se depilando, outras a descolorir todos os pelos e pentelhos com a velha fórmula caseira feita com amônia. As imensas cabeleiras das mulheres poderiam facilmente inspirar Dante Alighieri. Ensaboavam-se displicentes debaixo dos chuveiros públicos, o pente a descer de cima abaixo no cabelo molhado e cheio de espuma, a descer pelas costas e se acabando nas mesmas bundas cheias de estrias e celulites, enfeitadas com orgulho por um fio dental. Bundas imensas e cabeludas de gordos em sungas tamanho "P" mostravam cofres nada minúsculos. Pavoroso!

Os incomodados que se retirem, manda o clichê. Foi o que fiz. Voltei pra casa rapidinho, quase certo que nunca mais porei os pés na belíssima Água Mineral.

O Park Shopping. Fui lá também. E faz tempo que ali não boto os pés em finais de semana pelos mesmo motivos da Água Mineral. Prefiro nas segundas-feira. Nos finais de semana aquilo vira uma feira popular. E diga-se: nada tenho contra as feiras. Até gosto delas, mas sei que trata-se de uma feira. O dito shopping virou um inferno. A população aumentou demais. O povo se reproduz como rato. Um auê, uma rodoviária.

Mas fui na segunda-feira. Pensei em pegar um filme. Desisti de cara. Lotado! Fila de dobrar quarteirão. Não sei se por causa da estréia do Harry Potter. Um fuzuê! Um "rebucetê!", como diria minha amiga Giselda. Entrei em meu carro e voltei para o meu apartamento.

Me resta o quê? Ficar em casa? Viver a clausura? Paris é a saída. Se pudesse! Se meu dinheiro desse!

Morrer? Tá bom!

Wanderley Lucena




2 comentários:

  1. Muito boa sua descrição das noivas,cheguei a praticamente sentir seu desespero, ou seja, era a própria visão do inferno!

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  2. Wanderley, temos pessoas conhecidas em comum, Sthuthost, Linguagem imagem bobagem, e, Arca do autoconhecimento. Gosto de sua escrita e do seu humor refinado.

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