quinta-feira, 13 de maio de 2010

PERUS, MAÇONS E NAZIREUS


Religião. Sim, senhor! O tema deveria ser ameno e unir os homens num diálogo rico, equilibrado, racional e focado no crescimento espiritual, filosófico, etc... Entretanto, o que vemos são guerras, massacres, genocídios e tantas outras barbaridades entre os que pensam de forma diferente, todos querendo fazer valer o seu deus.

Deus virou uma ótima fonte de renda. Qualquer um se intitula líder espiritual, pastor evangélico, vidente, macumbeiro. Um bando de incautos logo passa a segui-lo e pagar seus dízimos, oferendas, ofertas. Mesmo analfabeto, ex-presidiário, desdentado, falidos, prostitutas, estelionatários... Enfim, qualquer um pode receber o tal “chamado” e arregimentar o número suficiente de fiéis para manter-lhe a sobrevivência ou uma vida de luxos. Tudo depende de boa lábia. Nesse ramo, com raras exceções, quanto menos caráter, mais bem sucedido você será.

Os nomes das tais entidades são um capítulo à parte. As evangélicas merecem um compêndio. Esses dias passei em frente à Igreja Assembléia Ministério de Perus. Fiquei atônito, não entendi nada. Não era possível que o Deus todo poderoso estaria interessado nessas criaturas, os perus. Não que eles não tenham a sua importância ante a natureza. Creio que são tão importantes quando o mico-leão-dourado ou as tartarugas do projeto TAMAR. E todos sabemos o quanto os referidos animais tem conseguido arrecadar da legião de ecológicos país a fora. Porém, que eu saiba, o peru é prato servido como principal nas mesas natalinas. No meu trabalho, uma colega, faz um caldeirão de pescoço de peru semanalmente. Cada caldeirada deve levar uns cem pescoços. Cada pescoço é igual a um peru, certo? Alíás, o sabor exótico do animal não me desce. Portanto, nada contra os tais perus.

Só na caldeirada semanal da minha colega, matou-se cem perus, mas, ao menos que eu saiba, os perus não estão em extinção nem gozam do status das tartarugas do TAMAR ou do Mico-leão-dourado para terem uma multidão a preocupar-se com sua existência. Mas, voltando ao Ministério de Perus. Ainda bem que um colega de trabalho, evangélico, estava comigo e me trouxe a lógica da coisa. É que as igrejas Assembléias têm suas ramificações denominadas Ministérios. Uma se denomina Ministério Madureira e tal se deve ao famoso bairro do Rio de Janeiro. Perus a mesma coisa. Perus nada mais é que um bairro da capital paulista. Agora, e se eu não tivesse o meu amigo para esclarecer?

Fiquei pensando que o peru podia ser até a genitália masculina e que ali se reuniam tarados e taradas para adorar o tal membro, assim como, em alguns cultos pagãos antigos. Mas “DEUS”? Assembléia de Deus? Meus pensamentos eram heréticos e, que bom, não há mais a fogueira para me queimar.

Maradona virou "deus" na Argentina. E aqui eu me recuso a tratá-lo com o "d" maiúsculo. A Igreja Maradonista o adora de joelhos e ele elevar as suas preces. Rezam uma ladainha enfadonha e e idiota. Mas não são poucos os templos da referida igreja no país de "los hermanos". Eu posso imaginar os fiéis entrando em transe depois de usar determinado pó do qual, dizem, seu "deus" é adepto.

Eu não professo nenhuma religião e nem pretendo perder meu tempo com isso. A minha eu a faço por mim mesmo. Busco apenas o equilíbrio e a tolerância. E como é difícil!

Chegou ao meu bureau, dias atrás, um caso interessantíssimo. De início, pensei ser uma bobagem. Depois achei que seria melhor despachá-lo a um dos meus subordinados, porém, com a certeza de que iria ficar no fundo da gaveta, pois, ninguém mais ia levar a sério a briga entre duas igrejas. Qualquer um saberia se tratar de barraco, história sem fim, testemunhas mil, acusações múltiplas, etc...

Ocorre que o tal expediente ainda se encontrava em minha mesa quando compareceu um colega de outro bureau, diga-se, evangélico, acompanhado do Pastor vitimado, me pedindo ajuda na apuração do caso. O Pastor me convenceu e comecei a me interessar pelo caso. Me comprometi a encontrar a pessoa que distribuia em outras comunidades evangélicas e a fiéis mil, um jornaleco apócrifo, anônimo, que dizia ser a igreja deste, coisa do capeta.

O jornaleco informava que o pastor que comigo estava era maçom, bem como, sua igreja. Que haviam símbolos satânicos expostos no altar e outras besteiras. O jornaleco tinha quatro páginas mal impressas. O conteúdo era mais pobre ainda. A leitura era difícil e enfadonha. Fiquei pensando no nível dos que se davam ao trabalho de ler aquilo por prazer.

Comecei ouvindo as testemunhas, pessoas que haviam recebido o jornaleco. Todos afirmavam tê-lo recebido das mãos de um pastor de uma igreja de nome tão esquisito quanto a do Ministério de Perus. Prefiro não citar o nome da dita cuja, mas, a tal comunidade funcionava num “cafofo”, um subsolo de uma padaria, nos cafundós do Setor “O”. Isso mesmo, Setor “O” é nome de um bairro da capital federal, apenas isso. Não fique divagando como eu no caso dos perus.

Essa comunidade era pequena, de poucos membros e alguns deles se organizavam numa debandada para a igreja do Pastor ofendido. A igreja ofendida era enorme, seu culto muito atraente e o Pastor tinha o carisma dos verdadeiros cristãos. Discurso potente e hipnotizante. Já sabia também que o pastor da igrejinha havia dado estudos sobre a falsidade da igreja ofendida e, ali, havia ensinado que o pastor dela era maçom e que usava símbolos satânicos nos seus cultos. Já sabia também que o pastorzinho havia enviado o coitado de um dos seus fiéis na igreja ofendida para tirar as fotos a serem impressas no jornaleco.

Compareceu ao meu bureau, na data marcada, o assecla que tirara as tais fotos. O mesmo compareceu acompanhado de advogado. O tal advogado parecia um pavão de empáfia. Lhe ofereci uma cadeira para sentar-se, porém, o mesmo preferiu ficar em pé, andando de uma lado ao outro da sala me incomodando com o “poc-poc” do seu sapato. Mais interessante ainda era a criatura a ser ouvida. Tratava-se de um “NAZIREU”. Isso mesmo, um nazireu.

Tudo bem. Eu também não sabia o que diabos era isso. Mas o rapaz me explicou que tratava-se de um voto. Que se encontra na Biblia, no livro de Números, capítulo 6, versículos 6 - 21. Peguei minha bíblia logo ali e fui ver do que se tratava. A minha curiosidade se justificava pelo fato de a criatura ali na minha frente ser um típico hipie. Cabelos rastafári enormes e parafinados em cachos empinados que lhe pareciam grandes pregos enfiados na cabeça, já que os cachos não caiam sobre os ombros, mas eram trabalhados de forma a ficarem em pé. A barba lhe descia quase até a altura do peito. Tudo justificado pelo voto do nazireu. Quem faz o voto do nazireu não pode mais cortar o cabelo, a barba, ou qualquer pelo. Pensou na genitália, não é mesmo? Eu também, de imediato.

O rapaz insistia em me tratar de “véi”. Eu o repreendi diversas vezes. Li a ele romanos 13. Trata-se de passagem bíblica que ensina ser toda autoridade instituída por Deus e que todos devem temê-la. A leitura tinha a intenção de fazer o rapazinho me falar a verdade. Não adiantou, pois, mentiu mais que o homem da cobra e negou ser o fotógrafo das imagens impressas no jornaleco e que, sequer, conhecia a igreja dita maçônica. Porém, quando lhe informei que haviam testemunhas que o viram tirando as tais fotos, titubeou e assumiu que estivera na igreja difamada, mas que não tinha máquina fotográfica para fazer as imagens. Perguntei se seu celular tinha câmera e o mesmo respondeu afirmativamente, baixando os olhos para não me encarar.

No dia posterior compareceu o pastor da igrejinha. A estória que ele me contou era tão ingênua que me fez parecer estar com alguém de QI infantil. Disse que o material não era de sua autoria, mas que o mesmo se encontrava em uma “pen drive” de sua propriedade. Que perdera a “pen drive” e que, inclusive, registrara o seu extravio. Ao verificar a data da comunicação do extravio percebi que era posterior ao inicio das minhas investigações. Disse que registrou o extravio por orientação de seu advogado. Em seguida, disse que levara um dos jornalecos a outro pastor para que este o fizesse chegar ao pastor da igreja dita maçônica. Que um bloco de cerca de oitenta jornalecos foi colocado por baixo da porta de sua igrejinha. Que nada tinha contra maçons, maçonaria, satanás etc...

Logo depois, começaram a aparecer outros pastores que receberam o mesmo material de suas mãos. Um deles compareceu à minha sala e foi contundente. Ficara indignado com o conteúdo do panfleto e, quase perdera a compostura quando o pastor difamador, sabedor que este iria ser ouvido, compareceu sua casa e lhe pediu que mentisse quando das suas declarações a mim. Que me dissesse que não recebera de suas mão o jornaleco. Pronto! Agora eu não tinha mais dúvidas. Eu já sabia quem era o autor por trás das difamações. Mas aquele pastor que ali se apresentava como testemunha dos fatos me impressionara. Roupas simples, meio descuidado, mas falava de forma convincente e segura.

Depois de ouvi-lo o liberei, porém, o mesmo disse que não sairia da minha sala até que cumprisse a missão que lhe fora dada por Deus. Vixe! O moço disse que Deus o mandava orar por mim. Meio assustado com a cena vista na minha imaginação, perguntei-lhe se faria aquilo de forma discreta. Imaginei o pastor de joelhos no meio da minha sala, ao gritos, falando alguma língua estranha, sob os olhares arregalados de meus colegas. Ele me disse que o faria de forma discreta e o pedi que me acompanhasse a uma sala ao lado. Pedi que os colegas saíssem. Ele se sentou, pegou em minha mão e fez sua oração, me abençoando no final. Eu não seria grosseiro de dizer um não, ainda mais, a alguém que se dizia enviado por Deus. Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

Eu já tinha a conclusão do meu trabalho quando recebi uma visita do Pastor difamado que me agradecia e me convidava a almoçar em sua casa em data vindoura quando se despedirá do Brasil para morar em Israel. Fez questão de pegar meu email para me mandar notícias de lá e disse que afinal, muito ganhara com a estória toda. Ganhara um amigo. E acho, sinceramente, que o meu novo amigo está entre as raras exceções nesse meio. Tem caráter, parece ser honesto e, pastor bem sucedido.

Nunca defendi que os profissionais religiosos tenham que viver em pobreza, mas, acho, sinceramente, que devem viver da graça divina, em total fé. Que Deus lhes provenha os seus sustentos. O que vejo é o contrário. Arrancam até o último centavo da viúva.

Certo é que nada acontece por acaso. Agora, toda vez que chega um suicida, um drogado pedindo recuperação, um endemoninhado... chamo um dos pastores. Eles oram pela alma da criatura, ajudam-na de todas as formas e cumprem o mandamento cristão e a sua função de resgate.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

TUDO CERTINHO

Não acho que fomos precipitados não
Será que estou?
Não sei
Sim, estou
Mas, sabe...

Já tive pessoas que nada me acrescentaram
e pessoas que me diminuíram
poucos me acrescentaram
falo, amorosamente
hoje, espero alguém que me surpreenda
não quero apenas beleza
mas vida inteligente
sem soberba
sem ganância
mas com ganas de vencer
por seu suor
com minha ajuda se eu puder
ou que me ajude
se puder

Gosto de café feito na hora
dos que sabem amar
gosto de leite caramelado
da boa música
das expressões nas caras dos desconhecidos
Gosto da rotina
de quebrar rotinas
de festas
de ficar só
e acompanhado
de dormir pelado
de casar.

Não gosto de descasar
mediocridades
de quem não sabe amar
mal humor
de quem se acha
preguiçosos

Tudo no seu lugar certinho.