segunda-feira, 15 de março de 2010

SILVIO SANTOS X CALDAS NOVAS

Mais uma vez, por motivos maiores, dirigi de Brasília a Caldas Novas no estado de Goiás. Nunca gostei de lá. Mas peguei meu carro, coloquei a Marisa Monte e dirigi por mais de três horas. Logo na entrada da cidade, à esquerda, uma estrutura gigantesca inspirada nos castelos medievais, vende souvenires de todos os tipos. Tem potes de pequi, pedaços de madeira imitando animais em seus ninhos, araras coloridas tão artificiais quanto as flores em madeira. Á frente, bem à frente de quem chega, duas imensas cascatas, também artificiais, caem de pedras gigantescas, enfeitando a entrada de um dos inúmeros clubes termais do balneário. São exatamente iguais as duas cascatas.

Obrigatoriamente virei á direita e procurei a pousada que reservara. Fui instruído por telefone que se localizava a quinhentos metros das tais cascatas, seguindo reto. Desci por uma alameda e dei de cara com um “queijinho”, ou seja, uma rotatória me deixou sem direção. Não localizei a pousada e tive de ser guiado pelo celular pelo pessoal da pousada. Na entrada, o porteiro me saudou com um “noite”.

Uma seriema de metal colorido e calçada com botas humanas amarelas me deu a idéia do restante da minha estada ali. A cama de solteiro nada tinha a ver com a imensa king size que vi nas fotos do site. A imensa floresta tropical não passava de arbustos que ladeavam os paralelepípedos.

Depois de tomar um banho com um sabonete minúsculo e sem espuma, decidi que sairia para jantar. Queria comer bem. Numa praça de espirros de fontes dançantes, vi um casarão com vidros fumê e os garçons bem uniformizados. As mesas bem postas e o ambiente era iluminado agradavelmente. Taças e talheres ricamente colocados sobre toalhas fartas que desciam até o chão. Era ali que eu ia saborear um bom prato.

Decepção total. Um garçom imenso me lembrou o Pavarotti - e não foi por causa da voz. Suando igual uma panela, me trouxe o cardápio. Escolhi uma “galinha da vovó”. Ao molho e com polenta, o cardápio informava ser uma das especiarias da casa, além de prato tradicionalíssimo goiano. Fiz o pedido e comecei a babar enquanto imaginava o sabor. Pedi um chop e me pus a observar a cena na praça. As fontes espirravam num balé frenético. Um rapaz de cabelos rastafári apresentava seu show pirotécnico enquanto outros pintavam em pedaços de papel, paisagens do cosmos com seus jatos de tinta spray. As mulheres peladas da oficina têm mais valor artístico, com certeza. O chop acabou e fiquei um bom tempo tentando fazer com que o garçon percebesse que queria mais um, embora o restaurante estivesse vazio.

Muito tempo depois, me é servido um prato de arroz com pedaços de frango, gueiroba, pequi, etc... nada de molho, nada de polenta. Chamei o garçom e lhe pedi o menu para conferi se eu estava doido ou aquele prato ali não a tal “galinha da vovó”. Confirmado. O prato estava errado. Tive de esperar mais meia hora o prato correto e tomei mais dois chops tentando me acalmar. A “galinha da vovó” chegou e foi colocada à minha frente. Senti um cheiro enorme de camarão. Galinha cheirando a camarão. Fiquei refletindo se aquele era mesmo o sabor do prato servido. Não era só ocheiro que era de camarão, o sabor era todo camarão. Horrível! Chamei o garçom e lhe perguntei se aquilo era daquele jeito mesmo. Ele disse que não e a galinha deveria ter mesmo o sabor de galinha. Se propôs a trocar novamente o prato. Me neguei e renegadamente comi a galinha com sabor de camarão. Ao final, fui convidado a almoçar no dia posterior no dito restaurante. Claro que não. Nunca mais ponho os pés no ambiente, quiçá, em Caldas Novas.

Pela manhã fui saborear o café da manhã da pousada. A propaganda no site mostrava guloseimas, pães finos, geléias de cores variadas, café servido numa porcelana linda sob uma varanda que dava para um jardim tropical enorme com arvores imensas. Encontrei sapos de cerâmica pintados em verde-cana com olhos esbugalhados e lábios pintados em rosa-choque e cílios enormes me lembraram em muito uma drag queen que vi certa vez. Jandaias de madeira, tartarugas de barro terracota, peixes coloridos dependurados pelas paredes e outros apetrechos de cordas cabim. Tudo escolhido por alguém que não tinha a menor noção estética e que pretendia reforçar a cafonice local. Casais em lua-de-mel eram a maioria dos hóspedes. Um rapaz pançudo, usando um short apertado, furado e manchado, num arroubo de romantismo, informa à sua amada que ia “ponhar” o seu café. Definitivamente, era a hora de ir embora. Até porque, um cuco carnavalesco entrava e saia de sua gaiola informando as horas freneticamente.

Logo após o café voltei para casa decidido a assistir o Silvio Santos no domingo. Programa melhor, com certeza.

Wanderley Lucena

Foto: Wanderley Lucena