As letras que compõem o canteiro deste blog germinaram naturalmente em solo regado de sensibilidade, amor, crítica, revolta, altruísmo e empatia. Não é minha pretensão agradar à todo mundo. Ainda que lhe cause o espanto, só lhe quero emocionar.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
A MOÇA FEIA DO IORGUT
Eu me aproximei curioso do balcão. O estabelecimento era meio sem graça mas era novo aquele balcão ali. A galeria se impunha e não era de vender qualquer porcaria. Confiei e fui. Uma moça feia veio me atender.
Eu lhe perguntei:
- O que se vende aqui?
Ela me repondeu:
- Iorgut.
Isso mesmo, a moça me respondeu iorgut. Mas não foi iorgut, foi I-O-R-G-U-T. Bem pronunciado assim. Orgulhosamente bem pronunciado. Ocorre que em meus ouvidos aquilo soou como um sino rachado. Ocorre que a vibração daquele sino rachado me causou tal ímpeto que não pude resisti e ousei corrigir a moça feia, haja vista, ser vendedora de IOGURT. Peguei o cardápio e lhe mostrei a palavra escrita: IOGURT. Informei-lhe que o seu R estava na sílaba errada. O tempo fechou na cara da feia. Rugas sisudas entre as sobrancelhas surgiram de repente e vi as suas costas quase que simultaneamente. Eu não me deixei intimidar e lasquei outra pergunta, mesmo que a dita me estivesse de costas.
- Você não gostou de lhe ter corrigido, certo?
A moça virou-se e agora, quase que por entre os dentes, diga-se, feios, me respondeu:
- Não gostei mesmo. É que eu odeio ser corrigida, aliás, eu odeio quem me corrige!
Acredita? Assim mesmo. Foi assim que ela me respondeu. Eu tentei me conter mas não resisti e sorri. Sorri e sorri. A moça virou-me novamente as costas. Eu me retirei sem consumir o seu iorgut.
Afinal a moça não era apenas feia nas fuças. Afinal eu também sou nenhum craque no bom e velho português. Afinal não sou mais nenhum belo. Mas, afinal, onde vamos parar se a moça fala iorgut e ainda é feia? Se a moça fosse bonita, afinal! Mas não, ela era mesmo feia. Sim, porque as moças bonitas podem tudo, essa é a regra. Moças bonitas chegam onde quiserem. Muitas vezes elas nem querem, mas chegam a algum bom lugar. Não importa quão vazias elas sejam. Dão pra quem quiserem. As moças feias, geralmente são decentes e se orgulham de sua virgindade. Depois de casadas, quando casam, ainda anunciam aos quatro ventos: Eu casei virgem! No fundo não passam de bruacas mal amadas, fulas da vida por não terem nascido loiras e com aquela bunda de tanajura e não terem dado mais que paca da mão branca. Paca-da-mão-branca, isso mesmo. Porque? Bem, dizem que as pacas dão muito. Muito mais que as ratas. No entanto se a paca tiver a mão branca, naturalmente branca, meu amigo... Ela dará mais que as demais pacas. Pelo menos é o que dizem. Quem diz? Sei lá!
Acho que a moça feia nunca mais falou iorgut. Nunca experimentei o iorgut da moça feia. Mas passei na frente do balcão algumas vezes. Nunca mais vi a tal moça. Deve ter se demitido ou foi demitida a bem a língua. Será? Certo é que eu agora, toda vez que vou tomar iorgut, me lembro da moça feia.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Ah! Lucena...Pontos de vista... "Iorgut", "leite intregal", "leite dilatado"... São apenas palavras. Palavras inventadas. Inventadas por pessoas. Pessoas que sabem inventar palavras...
ResponderExcluirE sabe do que mais gostei? Do adjetivo marcante presente na "moça feia", afinal de alguma forma ela deixou marcas em você (Certo é que eu agora, toda vez que vou tomar iorgut, me lembro da moça feia)...
Bons ventos, Madá.